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Grande Rio promete representar Pernambuco: "Samba e Manguebeat nascem da mesma lama", diz carnavalesco da escola.

Tradicional escola de samba de Duque de Caxias, Grande Rio escolhe o Manguebeat como enredo para o desfile da agremiação na Sapucaí, no carnaval de 2026.

Por Camila Estephania

Neste mês, a escola de samba Grande Rio apresentou o enredo "A Nação do Mangue", em homenagem ao Manguebeat, na Cidade do Samba.

Cercada por manguezais, assim como o Recife, Duque de Caxias é o cenário onde o Manguebeat começa a ganhar mais um capítulo na sua história. Lá está a quadra da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio, cujo enredo para o carnaval de 2026 chama-se “A Nação do Mangue", em homenagem ao movimento cultural pernambucano.

O tema foi confirmado pela agremiação em junho deste ano, mas a preparação na cidade fluminense começou meses antes. O resultado final será visto em fevereiro, na Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, onde a agremiação desfilará dentro do Grupo Especial com a proposta de aproximar às culturas que germinam nos diferentes mangues do Brasil.

“Fazemos essa conexão entre os mangues de Caxias e os do Recife, porque, na verdade, a produção cultural aqui na Baixada Fluminense tem a mesma raiz identitária do Manguebeat. O samba e o Manguebeat nascem da mesma lama", aponta Antônio Gonzaga, carnavalesco da Grande Rio que desenvolve o enredo ao lado do escritor Renato Lemos e do pesquisador Jader Moraes.

Ele defende que manifestações culturais de periferia, como o samba, o Manguebeat, o hip hop e o funk, são movimentos de contracultura que contestam regras do contexto em que estão inseridos, abrindo novas possibilidades de produção criativa.“Eles têm tudo a ver. É o encontro de dois universos culturais distintos, mas que têm a mesma perspectiva social”, diz.

REPRESENTAÇÃO

Em diálogo permanente com representantes do Manguebeat, Gonzaga assume que foi procurado por alguns deles para conversar sobre a escolha de Virginia Fonseca para rainha de bateria da escola. Parte dos artistas da cena local chegaram a declarar publicamente que a influenciadora não combinava com a proposta social do movimento.

"Qualquer questionamento é válido, mas sempre deixo claro que existem vários setores dentro de uma escola de samba e a escolha da rainha de bateria não tem envolvimento com o desenvolvimento do enredo. O que a gente está construindo é um desfile muito sólido, respeitoso e coerente com o movimento. Eles vão se sentir muito felizes e representados”, garante.

O carnavalesco confia no sucesso da proposta devido à extensa pesquisa, que já inclui viagens ao Recife. A partir da cidade, ele visitou personalidades e espaços ligados ao Manguebeat, como o Daruê Malungo, em Peixinhos, e casas de Maracatu Nação e de Maracatu Rural.

“Tem sido bem importante escutar as histórias. Conversamos com muita gente e a gente tem tido uma interlocução bem legal com a Louise (França), filha do Chico Science, e com o Fred Zero Quatro”, comenta. “E ainda devemos conversar com muito mais gente. A pesquisa de uma escola de samba só acaba quando ela entra na Avenida”, completa.

Contudo, Gonzaga já tem bastante coisa adiantada. O carnavalesco vem buscando traduzir a estética regional mais tradicional de Pernambuco no desfile. As formas como elas foram reprocessadas pelo próprio movimento, a partir de linguagens futuristas, urbanas e periféricas, também farão parte do projeto visual.

Dentro dessa proposta, ele indica que deve haver espaço para manifestações como coco, ciranda, maracatu, cavalo marinho e outras expressões da cultura popular pernambucana. Além disso, os próprios artistas da cena devem marcar presença na Sapucaí. “Ainda estamos fazendo uma triagem de quem podemos levar para a Avenida, mas é super importante que pessoas ligadas ao movimento estejam lá", conclui.

SAMBA ENREDO

Outro aspecto que pode contar com a participação dos pernambucanos é o samba enredo. Tradicionalmente, a música que é cantada na Sapucaí é eleita através de um concurso e, neste ano, existem 18 concorrentes, sendo 7 deles pernambucanos.

A grande final que irá cravar o samba enredo vencedor acontece somente no dia 20 de setembro, na quadra da Grande Rio, em Duque de Caxias. Mas, antes, haverá uma etapa pernambucana no dia 30 de agosto, ainda sem local definido. Na ocasião, será escolhido o samba pernambucano que vai concorrer com os cariocas, no Rio.

“Ano passado, a Grande Rio fez um enredo sobre o Pará e convocou os compositores de samba de lá para participar. Foi uma troca muito rica tanto pros compositores, como para a escola. Neste ano, vamos repetir esse processo focando no Recife”, explica Gonzaga.

O diretor de carnaval da Grande Rio, Thiago Monteiro, articulou a etapa recifense com o presidente e o vice-presidente da liga de escolas de samba da cidade. Todos os sambas inscritos no concurso, pernambucanos e cariocas, já podem ser ouvidos no canal oficial da Grande Rio no Youtube.