Tony Hawk Pro Skater 3+4: Remake é necessário e viciante, mas não satisfaz em personalidade
THPS 3+4 está disponível para Xbox Series X|S, Xbox One, PlayStation 4 e 5, PC, Nintendo Switch e Nintendo Switch 2.
Franquia de sucesso criada em 1999, os jogos homônimos do lendário skatista Tony Hawk já nasceram transbordando o videogame. Misturando as tendências culturais de suas épocas, como música, moda e comportamento, os games fizeram parte da infância e adolescência de toda uma geração de jogadores que se tornaram fãs do esporte, chegando até mesmo a ter o efeito contrário, quando fãs da modalidade californiana se viram treinando manobras no mundo virtual.
Buscando continuar a renovação da franquia, a Activision e Iron Galaxy lançaram o segundo remake da saga em 'Tony Hawk Pro Skater 3+4' que, como o nome apresenta, é a versão refeita do 3º e 4º jogo da antiga desenvolvedora Neversoft.
Unindo os skatistas clássicos que fizeram história nos lançamentos de 2001 e 2002 aos novos atletas que aquecem as competições e redes sociais, 'THPS 3+4' busca atualizar a franquia para a atual geração de consoles e abrir caminhos para as novas gerações de fãs de skate e games.
TONY HAWK PRO SKATER 3+4
É necessário reconhecer que os games Tony Hawk vão além de produtos da indústria, se tornando, desde seu lançamento, produtos culturais que unem todo o folclore do universo do Skate, modalidade que já nasceu ligada a atos de revolução social. Por isso, para além da tendência da indústria de trazer remakes, é de se esperar que a Activision busque relançar uma de suas propriedades intelectuais mais impactantes e celebradas, especialmente após a popularidade do esporte atingir gerações para quem os jogos clássicos já estão datados. Desse modo, o lançamento de uma versão refeita é completamente justificada, abraçando o desafio de agradar antigos e novos jogadores.
Para os antigos, o jogo tentou trazer de volta a atmosfera dos clássicos, selecionando uma trilha sonora elétrica que embala os novos desafios das pistas memoráveis; para os novos, aspectos de personalização, novos modos de competições e ambientação completamente refeita. O básico da experiência de Tony Hawk Pro Skater está aqui, porém, ao se atentar aos detalhes, é impossível não sentir que algumas coisas estão fora do lugar.
À primeira vista, a chamativa e intuitiva distribuição dos menus oferece toda a praticidade e convida o jogador aos antigos e novos modos de jogo. Na carreira, as pistas oferecem tentativas de dois minutos - as famosas "runs" - para atingir os objetivos necessários para liberar mais recursos do game. Ainda dentro desse modo, entrando como pistas específicas, as desafiadoras competições simulam campeonatos onde três tentativas são permitidas e a pior nota é descartada, algo nos moldes dos grandes torneios nacionais e internacionais do esporte. Fora a esses, ainda está o modo de estilo livre, apenas para a prática, sem tempo limite; a sessão individual, com as mesmas pistas, mas com a pontuação entrando no ranking global; e o modo 'speedrun', onde o jogador é desafiado a cumprir os desafios das pistas no menor tempo possível. Fora da carreira ainda existem um modo para a construção de pistas - que praticamente só é usada para a obtenção de um troféu para a conta - e ainda um deserto e pouquíssimo frequentado modo online, para competir com amigos ou desconhecidos.
Isso tudo pode ser feito assumindo o lugar de um atleta entre os vários disponíveis, como Tony Hawk, Nyjah Houston, Yuto Horigome, os brasileiros Bob Burnquist e Rayssa Leal, ou criando seu próprio personagem. A presença dos atletas é uma ótima adição ao game, mas o tratamento que eles recebem é de deixar um gostinho ruim na gameplay.
A captura de movimentos é superficial, mas não chega a ser ruim - é apenas desanimador ver que certas respostas do corpo são melhores na versão original, como a absorção de impacto após ollies e a tentativa de equilibrar em grinds, por exemplo. A dublagem, por sua vez, é completamente genérica, se limitando a uma voz para os homens e uma para as mulheres, deixando de lado toda a representatividade e importância trazida pelos atletas que o jogo mesmo homenageia.
As dezenas de itens que os jogadores podem desbloquear tem seu uso limitado ao personagem criado, não podendo ser usado pelos atletas reais, que ficam limitados a poucas opções customizáveis. Tanto as roupas, quanto os shapes (única parte do skate dos atletas reais que pode ser customizada), muitas vezes, nem se assemelham tanto assim aos usados na vida real. Somado a isso, a modelagem destes personagens e suas feições poderiam ter sido melhor trabalhadas, deixando a desejar nos detalhes faciais e expressões, que não parecem pertencer a um jogo AAA de esportes lançado em 2025.
Felizmente, a falta de detalhes e aparência aquém fica, em parte, limitada aos personagens. O visual das pistas recebeu um tratamento detalhado e bem feito, exibindo sombras, iluminação e até efeitos de partículas muito competentes. Com direito a traçado de raios, os diferentes efeitos visuais são um destaque positivo aqui, criando uma atmosfera para cada pista e desafiando o jogador a criar rotas para emendar seus combos. Em sua maioria, as pistas distribuem bem os obstáculos e permitem que o jogador explore enquanto tenta resolver os desafios, estimulando a criatividade enquanto aproveita o bom clima criado aqui.
Dentro destes mapas, a gameplay flui bem em termos de progressão, tanto em relação ao personagem jogado - pontos podem ser distribuídos para melhorar atributos -, quanto ao jogador que o controla. É forte o sentimento de que a percepção do timing das manobras e a inteligência para o uso do terreno progride com o tempo. Isso se deve a fatores como a boa distribuição dos controles, que se mostra intuitiva conforme mais tempo de jogo e ao intrínseco fator de diversão misturado ao desafio que estimula o jogador a melhorar.
A trilha sonora ajuda a embalar a gameplay e cumpre bem o papel proposto em todos os jogos Tony Hawk: encher o jogador de adrenalina para prendê-lo à obra. Aqui, faixas clássicas que fizeram sucesso nos anos 90 como Ace of Spades (Motorhead) e My Adidas (Run-DMC) se juntam aos novos rostos do punk, rock e hip-hop, como Turnstile, Fontaines D.C e Denzel Curry.
Mas, se a trilha sonora se exibe cheia de personalidade, não tem como não mencionar a falta da irreverência 'boba' que marcou os clássicos 'THPS'. Em análise de remakes, não costumo fazer comparações que possam se passar por saudosistas, mas boa parte do folclore criado por esses games passa pelo tipo de humor trazido por estes títulos. Aqui, é quase como se tivesse faltado criatividade ou até mesmo coragem para trazer de volta, também repaginado, o estilo provocativo dos anos 2000, tão presente nos títulos da franquia. Não é legal de ver o game que mais representou e ainda representa o skate, esporte disruptivo por natureza, parecer tão 'limpinho' assim. Isso não é uma observação que pede a volta das figuras femininas sexualizadas nos títulos originais, por exemplo, mas apenas uma pitada de decepção ao ver que aquela acidez divertida e leve dos anúncios, propagandas e detalhes - como mensagens engraçadinhas nas chamadas do aeroporto ou títulos bizarros de filmes no cinema - tenham dado lugar a product placements de patrocinadores ou tentativas de trocadilhos vazios e sem carisma - às vezes, para o bem ou para o mal (que é este caso) falta uma dose saudável de 'escracho'.
Passando por todas essas mudanças para continuar trazendo o nome de Tony Hawk para as novas gerações de jogadores, ainda assim considero o saldo de 'THPS 3+4' positivo, já que ele rende boas horas de diversão, adrenalina e imersão, trazendo novos visuais encantadores, mesmo que não seja suficiente para levar a cultura do skate ao patamar que ela deveria estar nos videogames atuais.
*Uma chave do jogo foi disponibilizada pela Activision para a produção deste texto.