° / °
Cadernos Blogs Colunas Rádios Serviços Portais

'Quinografia', filme sobre o pai da Mafalda, emociona festival Cinesur

Documentário 'Quinografia', exibido no 3º Bonito Cinesur (MS), relembra processo criativo do cartunista Quino, responsável pela personagem que marcou gerações

Por Andre Guerra

Um traço único saltou os olhos e abriu a mente de várias gerações, despertando reflexões que ficaram para a vida inteira. Isso é só o começo do legado deixado pelo cartunista argentino Quino, nascido Joaquín Salvador Lavado, o grande criador da personagem Mafalda, uma das mais influentes da HQ mundial. A história dele e de sua obra ganha vida com o sensível documentário Quinografia, exibido na competição de longas sul-americanos do 3º Bonito Cinesur – Festival de Cinema Sul-Americano, que chega ao fim da sua programação neste sábado (2), com a cerimônia de premiação.

Conversas inéditas com pessoas que fizeram parte do processo criativo e do convívio de Quino compõem o bonito mosaico da obra, dirigida por Federico Cardone e Mariano Dosono, com narração e roteiro de Mariana Guzzante. O filme costura as entrevistas com imagens das tirinhas antológicas dessa personagem que mobilizou – e segue mobilizando – o pensamento crítico sobre a sociedade e suas transformações. A sua relação afetiva com sua esposa, Alicia Colombo, é um dos tópicos centrais, já que ela é destacada por todos os entrevistados como um ponto de apoio essencial para seu marido.

A espinha dorsal que guia Quinografia é a mais especial possível: uma entrevista com o próprio Quino feita em 2014 (ele viria a falecer seis anos depois, em setembro de 2020, aos 88 anos). Nessa conversa, realizada em Mendoza, o desenhista revela não apenas seus segredos de autor, mas, principalmente, seus insights sobre a realidade contemporânea que o preocupavam, desde a guerra entre Rússia e Ucrânia até a ascensão de regimes autoritários em países nos quais a democracia parecia plena – mostrando como ele estava, de fato, à frente de seu tempo.

Célebre pela sua curiosidade em relação ao mundo e às suas injustiças, a Mafalda é revelada aqui como parte indivisível do próprio Quino, sereno no modo de viver e ao mesmo tempo inquieto com as coisas que percebe e que não consegue deixar de transpor para a ponta do lápis. Criada em 1964, essa figura icônica e todo o seu universo recheado de outros personagens marcantes são atualmente editados em 30 países e traduzidos para 16 idiomas. Quinografia faz jus à genialidade do criador e à influência sem rival da sua criatura, ambos eternos em seu poder de transformação.