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Cartunista Samuca Andrade celebra 40 anos de carreira com novo livro

Samuca Andrade, ícone do humor gráfico pernambucano, lança coletânea que reúne suas principais charges, cartuns e caricaturas

Por Allan Lopes

Cineasta Alfred Hitchcock

Uma linha. Só isso. É o que Samuca Andrade precisa para iniciar a transformação de uma folha em branco em uma piada, uma crítica, uma reflexão, tudo ao mesmo tempo. Nesta terça-feira (13), às 19h, no Bar do Neno, o mestre do humor gráfico pernambucano celebra 40 anos de carreira (e incontáveis risadas) com o lançamento do livro O Fino Traço de Samuca, coletânea que reúne charges, cartuns e caricaturas, em 64 páginas coloridas.

A história por trás desse traço característico remonta aos tempos de adolescência, quando Samuca estagiava com Romildo Araújo Lima, o célebre cartunista Ral. Longe de impor um estilo ao pupilo, o mentor não apenas lhe deu técnica, mas o incentivou a encontrar sua própria linguagem. A epifania veio quando, certo dia, RAL devolveu seus rabiscos com um sorriso. “Foi libertador perceber que o traço mais espontâneo, o do rascunho, era mais verdadeiro do que o da arte final”, relembra o cartunista, em conversa exclusiva com o Viver.

Daí em diante, Samuca faria do minimalismo sua marca registrada, encontrando nas linhas precisas de uma personagem como a Pantera Cor-de-Rosa e na expressividade do desenho Caverna do Dragão, clássico dos anos 1980, suas referências perfeitas. “Admiro estilos mais elaborados, mas no meu trabalho, se o cenário é muito carregado, a ideia se perde. Prefiro deixar a mensagem em evidência e permitir que o leitor complete o cenário com a imaginação. Ele vê uma rua que não está desenhada, uma cidade que não existe”, afirma.

Essa abordagem rapidamente conquistou espaço nos principais veículos de Pernambuco e do país. Sua arte apareceu n’O Rei da Notícia, Pasquim, Papa-Figo, na antiga Folha de Pernambuco e no Jornal do Commercio. Mas foi no Diario de Pernambuco, onde atuou durante 15 anos e produziu 3 mil charges, que ele consolidou seu legado. Entre suas ilustrações mais marcantes que ainda guarda no portfólio, destaca-se uma impactante página inteira dedicada ao músico Jards Macalé, quando veio tocar no Recife. “O Diario sempre dedicou um espaço muito bacana para o trabalho dos cartunistas”, celebra Samuca.

Mas ele nunca se contentou em ser apenas um artista de traço elegante e suas charges foram se tornando espelhos da sociedade. Essa combinação única de forma e conteúdo lhe rendeu reconhecimento internacional no World Press Cartoon, o mais prestigiado salão de humor gráfico do mundo, e três menções honrosas no Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo, uma delas em 2016, com a charge Eu Vi Um Pokémon, que retrata a alienação social na era digital.

Vários de seus desenhos viralizaram na internet ao longo dos anos, mas é agora, com seu terceiro livro, que Samuca assegura algo mais valioso do que likes ou compartilhamentos. “Nada se compara ao prazer de ter a sua charge em uma estante ou em um acervo de um museu. Uma charge pode bombar por alguns dias e ser esquecida na semana seguinte, dependendo do tema. Já um livro, mesmo que datado, registra um momento, uma visão de mundo. É mais substancial”, explica o artista.

O Fino Traço de Samuca também é uma introdução perfeita para a nova geração que não acompanhou suas charges nos jornais, mas que agora pode conhecer — e se reconhecer — no humor gráfico que, décadas depois, ainda traduz nosso cotidiano. “O público mais jovem pode acessar meu site, escanear um QR Code, procurar meu nome. O livro ajuda a criar essa ponte”, observa Samuca, cuja arte diverte, provoca e, acima de tudo, faz pensar.