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‘"Resgatar credibilidade não é fácil", diz Raquel Lyra sobre relação com o governo federal

Por CYNTHIA MORATO

A governadora Raquel Lyra (PSD) foi entrevistada pelo Diario de Pernambuco nesta segunda-feira (29)

Ao término do seu terceiro ano como governadora do estado, Raquel Lyra (PSD) afirma que muitas entregas estão sendo feitas e problemas antigos de Pernambuco enfrentados, como é o caso do sucateamento do Metrô do Recife ou a defasagem nas polícias militar e civil. Em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco ontem, a gestora falou ainda das dificuldades enfrentadas, principalmente, segundo ela, pelo fato de ser a primeira mulher à frente do governo. “Muita coisa que aconteceu nunca tinha acontecido com um governador homem”, disse ela sobre a atribulada relação que teve, ao longo do ano, com a Alepe.

Por outro lado, Raquel fez questão de exaltar a parceria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - sobre quem ela não quis cravar se vai apoiar ou não nas eleições do próximo ano. De acordo com a governadora, muitos investimentos deixaram de ser feitos no estado, como a retomada da Ferrovia Transnordestina, porque “Pernambuco passou 10 anos brigando com o governo federal” e foi preciso trabalhar muito para “recuperar a credibilidade” do estado junto à União. “Montamos um time capaz de tirar obra do papel e garantir a entrega”, resumiu Raquel Lyra.

Relação com Lula

Pernambuco passou 10 anos brigando com o governo federal. Perdemos a Transnordestina, não tem investimento no metrô, a Adutora do Agreste não andou. Era preciso restabelecer a credibilidade de Pernambuco junto ao governo federal. E a gente fez isso, com a parceria com o presidente Lula e com os seus ministros, mas entregando. Como vira o jogo? Trabalhando, resgatar a credibilidade não é algo simples. Pernambuco era campeão de obras paralisadas no Brasil segundo o relatório da Caixa Econômica Federal que foi me entregue no governo de transição. Montamos um time capaz de poder tirar a obra do papel, os sonhos do papel, retomar a obra paralisada e garantir entrega.

Apoio a Lula em 2026

As coisas ainda vão ser montadas. Quem vai ser candidato, quem está em que partido, como serão as relações. De maneira muito clara, o que o PSD me traz é liberdade para trabalhar. Confiança, compromisso, qualquer que seja a conjuntura. Com liberdade e autonomia. Em relação às alianças, converse com Kassab.

Entregas em 2026

Não é porque é um ano eleitoral, é um ano de trabalho. Pegamos um estado desarrumado, sem dinheiro, organizamos a casa, fomos buscar recursos, construir parceria, fazer projeto... A gente não projeta Pernambuco para as próximas eleições, é para as próximas gerações. A minha conta não é o cálculo eleitoral porque, se fosse, eu tinha deixado de fazer muita coisa, para botar propaganda na televisão, e não fiz.

PSD

Eu vim para o PSD em uma construção que demorou cerca de um ano, na própria discussão dentro do meu partido anterior (PSDB) e com o PSD. Eu vim para ter um partido que pudesse, crescendo com o Brasil, crescer em Pernambuco também pela liderança de Kassab (Gilberto, presidente nacional da legenda) e pelas oportunidades que a gente discutiu juntos.

Relação tumultuada com a Alepe

O que eu preciso é manter uma relação de estabilidade e de harmonia com os outros poderes. Nós vivemos numa democracia. E quem ocupa a presidência e a diretoria foi eleito legitimamente para poder estar lá. O que a gente não pode ter, sob o meu ponto de vista, vivendo em uma democracia que me elegeu para estar aqui, que quem tem mandato de Pernambuco trabalhe para que as coisas não aconteçam. Porque Pernambuco tem pressa. Nós passamos muito tempo sem investir. E a gente não pode estar brigando para disputar algo que não seja de interesse do povo de Pernambuco. Porque eu sou representante aqui do povo de Pernambuco e fui eleita legitimamente para isso.

Violência política de gênero

Se você for fazer uma análise, muita coisa que aconteceu (em relação à Alepe) nunca tinha acontecido com um governador homem. Mas todos os projetos que eu mandei para lá foram votados e aprovados por imensa maioria, inclusive as operações de crédito, que nós mandamos. Falam que eu estou querendo ser vitimizada. Nunca assumi o papel de vítima. Eu tô aqui pra ser a primeira governadora de Pernambuco. Eu sou uma mulher forte. E eu represento muitas outras que nunca tiveram vez nem voz. E tem medo de participar da política por conta disso. Eu respondi a primeira CPI da história do Pernambuco, como governadora. Pode dizer que eu não faço política, pode não gostar da minha forma de agir, pode não concordar com o meu governo, mas ninguém discute em Pernambuco a minha honestidade e a minha integridade. E aqui nós vivemos num Estado que, depois de tanto tempo, tem a sua primeira mulher governadora. E só somos duas no Brasil. E somos 13% no Congresso Nacional.

Operações de crédito

Basta perguntar a quem não tem água em casa se eu preciso de operação de crédito, porque para o povo pouco importa se o dinheiro é de custeio do estado, ou se é um dinheiro que vem direto de um banco para poder fazer a obra, ou vem de um privado com uma concessão, a da Compesa. E o que a gente tem feito nas operações, principalmente aqui na busca de recursos para o nosso estado, é dar espaço aqui dentro, na organização da máquina pública, para investimento, para custeio, para melhorar a condição de trabalho dos trabalhadores de Pernambuco, que são 200 mil e eram desmotivados, desengajados, porque era escola sucateada, hospital sucateado, segurança pública sucateada, dar direito à população de ir e vir. A média de investimento dos anos anteriores ao nosso mandato era de R$ 1,2 a R$ 1,3 bilhões por ano. Fizemos R$ 3 bilhões no primeiro ano e, agora, estamos chegando a R$ 12 bilhões.

Críticas de João Campos

Nós estamos trabalhando. Eu fui eleita para trabalhar pelo povo de Pernambuco e para ajudar os municípios todos, inclusive. Aqui no Recife, vamos fazer uma obra que era para ter sido entregue na Copa do Mundo: os corredores Norte, Sul e Leste e Oeste. Enfrentamos o tema do metrô e chegamos a um acordo com o governo federal. Tem que ter coragem para isso. Porque eu podia dizer que o problema é do governo federal e que eu não tenho nada a ver com isso e a responsabilidade ser só dele. Mas eu disse ao presidente Lula que eu queria ser parte da solução.


Concurso polícias

Estamos contratando a banca para fazer um novo concurso no próximo ano para preencher vagas na Polícia Militar, Polícia Civil, e Bombeiro. Estamos fazendo avaliação de impacto na folha do pessoal para que a gente possa lançar o concurso público com tranquilidade e segurança. Eu estou continuando fazendo o fortalecimento do Programa de Jornada Extra para que o nosso efetivo ele possa estar reforçado, nas folgas inclusive, comprando as folgas dos policiais.

Segurança pública

Na questão de segurança pública, o que nós fizemos foi ter uma atitude de liderar a segurança pública no nosso estado. A gente não chegou a ser o terceiro estado mais violento do Brasil por acaso. Houve muito tempo de não investimento, de não priorização de segurança pública. Não tem parte mágica em segurança, mas precisa ter investimento em uma estratégia muito clara. Mudou a estratégia e mudou a liderança. Enfrentamos temas importantes como o fim das faixas salariais, compramos 20 mil novas armas, softwares básicos para trabalharmos com inteligência policial. Lançamos o concurso público para sete mil policiais. Nomeamos já 3,5 mil e temos 3,5 mil em formação. A gente precisa viver num estado seguro, as pessoas precisam ter o direito de ir e vir, que é o direito básico, que o cidadão só se sai de casa, se você tiver segurança. Não dá pra gente admitir que haja toque de recolher. Não dá pra num tempo de hoje, com a complexidade do crime, a gente tá trabalhando do jeito que trabalhava 50 anos atrás, eu tenho repetido isso.

Feminicídio

Até o dia de hoje, Pernambuco registrou um aumento de 17% no número de casos de feminicídios. A gente tem um monitoramento diário de feminicídio e violência contra mulheres, semanal, com o Poder Judiciário e o Ministério Público. É um crime que tem uma natureza, uma característica muito distinta do homicídio. Tem muito a ver com a cultura machista que nós temos em Pernambuco e no Brasil. O homem se sente dono de mulheres. Ele violenta essa mulher financeiramente, psicologicamente e fisicamente, usa requintes de crueldade pra isso. Ele destrói o corpo e a face da mulher. Muitas vezes, mata os próprios filhos. Pra punir a mulher. O monitoramento permite 98% de resolutividade com a autoria. E os feminicídios são julgados em um ano. Na prevenção, fizemos a abertura das delegacias da mulher 24 horas funcionando na região metropolitana e no interior. Atuamos no fortalecimento dos organismos municipais de política pública para a mulher. A gente está abrindo agora, em parceria com os municípios, 39 centros de acolhimento a mulheres vítimas de violência. E quando a gente tem uma rede, a mulher tem coragem de sair do ciclo de violência, porque ela pensa que não tem alternativa. Ela está presa naquilo psicologicamente. Se a gente cria rede de proteção, a gente dá a oportunidade dessa mulher sair dessa situação.

Metrô

Eu acho que houve aí um ruído de comunicação, porque, na verdade, eu não tinha como montar uma empresa para poder receber o metrô. A gente tinha que fazer o processo de concessão para, a partir da assinatura, a gente assumir a gestão do contrato e o metrô passar a ser estadualizado. Existia um modelo, que foi feito em Belo Horizonte, por exemplo, de criar uma sociedade de propósito específico, transferir todos os ativos que eram do metrô para poder fazer a licitação. O governo federal não quis mais esse projeto desta forma, por uma decisão inclusive do que dizia respeito ao valor antecipado de depósito do aporte financeiro do governo federal, que lá foram 3 bilhões e aqui é pelo menos 4 bilhões.

Transporte público

Ano que vem, no começo do ano, nós vamos comprar 100 ônibus elétricos aqui para o Recife. Nós cuidamos do sistema de transporte coletivo sozinhos na Região Metropolitana. São R$ 520 milhões de subsídios por ano. A gente terminou agora o terminal de Igarassu integrado, vamos fazer o terminal do Camaragibe. Não estamos enfrentando temas que são desafiadores para o estado e nós estamos conseguindo dar respostas a eles.

CRECHES

Pela primeira vez na história do Pernambuco, creche é um assunto porque nós temos a pior cobertura do nordeste brasileiro: 18%. Quando eu fui prefeita de Caruaru, diziam que eu não entregava 6 mil vagas de creche. Eu entreguei. Agora nós queremos entregar 60 mil, que é isso que a gente precisa para chegar na média do Brasil. Agora, não é fácil construir 250 creches de uma vez só. Não é fácil. Entregamos a primeira manhã. Eu licitei, estou fazendo convênio com alguns municípios para passar para eles o dinheiro. Se o município não tinha o terreno, eu botei um terreno do estado ou desapropriava. Eu quero entregar todas. E vou trabalhar todo dia pra fazer isso. Nós vamos abrir o crechômetro agora. Vocês vão acompanhar comigo quanta vaga de creche nós inauguramos em Pernambuco.