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"Se o marido tomava uma, queria matar a mulher", diz vizinho de família morta em incêndio no Recife

O incêndio aconteceu no sábado (29) na comunidade Icauã, na Iputinga, na Zona Oeste do Recife

Por Cadu Silva

Terreno onde aconteceu tragédia, na Iputinga, está sendo limpo pela prefeitura

Moradores da comunidade Icauã, na Iputinga, na Zona Oeste do Recife, onde ocorreu o incêndio que provocou a morte de Isabele Macedo, de 40 anos, grávida de dois meses, e quatro de seus filhos, relataram que a família vivia no local há mais de uma década e era conhecida pela rotina centrada nas crianças.

O casal era formado por Isabelle, descrita como uma mulher de convivência tranquila, e por Aguinaldo José Alves, conhecido como Guel, apontado por vizinhos como alguém que mudava de comportamento quando consumia bebida alcoólica.

Segundo José Carolina, de 86 anos, que mora no local há dez anos, a relação do casal era marcada por violência doméstica dentro de casa. “Se o marido tomava uma, queria matar a mulher. Terminou morrendo a mulher mesmo”, relatou.

Maria José de França, 53 anos, que também vive na comunidade há mais de dez anos e conhecia Isabelle desde criança, contou que a vítima tinha convivência tranquila com os vizinhos, enquanto Guel se envolvia em conflitos quando bebia.

De acordo com ela, a rotina de Isabelle era voltada para os filhos. “Todos os dias levava as crianças à creche pela manhã e retornava no fim da tarde empurrando um carrinho com os mais novos.”

Maria José afirmou ainda que as agressões eram recorrentes. “Ele, quando bebia, estranhava os outros e queria dar nela. Muitas vezes ela apanhava dele”, disse. Ela relatou ter ouvido de vizinhos que, no dia do incêndio, Guel teria trancado e amarrado a companheira antes de atear fogo na casa.


Outro morador, que não se identificou na gravação, mas afirmou viver há dez anos na área, disse que conhecia o casal e que Guel “tomava a cachaça dele”, mas os conflitos aconteciam apenas dentro da residência.

Mesmo convivendo há tantos anos na mesma comunidade, os moradores afirmaram que o casal tinha pouca interação social e permanecia quase sempre dentro de casa, saindo principalmente para levar as crianças à creche ou à escola.

Ainda assim, a comunidade sabia da existência de brigas frequentes entre o casal, especialmente quando Guel bebia.

Serviços

De acordo coma Prefeitura do Recife, o trabalho de limpeza do terreno ocupado pela comunidade afetada pelo incêndio no bairro da Caxangá começou nas primeiras horas da manhã desta segunda (1). Além disso, equipes da Secretaria de Direitos Humanos e Juventude já estão no local iniciando os procedimentos para a emissão dos documentos perdidos.

Desde o início do ocorrido, às 12h35 do sábado (29), a Prefeitura prestou assistência com diversas secretarias e órgãos envolvidos. SAMU, CTTU, Guarda Municipal, Controle Urbano e Defesa Civil atuaram de forma integrada no ocorrido desde que foram acionadas.

No domingo (30), equipes da Prefeitura realizaram a demolição das estruturas afetadas que colocavam em risco a população. A Assistência Social providenciou aos moradores afetados vagas de acolhimento no abrigo Travessa do Gusmão, cestas básicas e colchões, além de kits de higiene, limpeza e água mineral. A Prefeitura disponibilizará ainda auxílio funeral para a família afetada.

Foi constatado que o incêndio deixou cinco pessoas mortas e afetou 20 das cerca de 30 casas existentes no terreno. O COP Recife continuará acompanhando durante as próximas horas toda a situação e se coloca à disposição para todos os serviços e ações necessárias para minimizar o impacto do ocorrido para a comunidade.

A Unidade de Saúde da Família Mais (USF +) Olinto de Oliveira esteve com uma equipe multiprofissional de plantão neste domingo para atender os moradores. A equipe, formada por profissionais de medicina, enfermagem, saúde mental, assistência social, farmácia e agente comunitário de saúde, fez contato com os moradores, prestou assistência no local e também atendeu na unidade. Ao todo, foram acolhidas 55 pessoas (entre elas crianças, idosos e uma gestante), com atendimento clínico e aferição de sinais vitais, dispensação de medicamentos e materiais de curativo. O trabalho prosseguirá pelos próximos dias