Morte de advogada em naufrágio: polícia encerra inquérito e aponta "omissão" em salvamento
Inquérito sobre a morte da advogada Maria Eduarda Medeiros, ocorrida em junho, em Suape, no Grande Recife, foi concluído pela Polícia Civil de Pernambuco
A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) concluiu o inquérito sobre o naufrágio que resultou na morte da advogada Maria Eduarda Carvalho de Medeiros, de 38 anos, apontando indícios de "omissão funcional de agentes públicos" que atuaram na ocorrência do salvamento. O procedimento já foi enviado para o Ministério Público (MPPE).
De acordo com a investigação, houve um “acidente marítimo involuntário, sem qualquer indício de dolo ou culpa” ao médico Seráfico Júnior, de 55 anos, noivo da vítima.
Maria Eduarda morreu após o barco, que estava acompanhada do noivo, naufragar na tarde de 21 de junho em Suape, no Grande Recife. Ela não conseguiu se salvar e seu corpo foi encontrado perto da Praia de Calhetas três dias depois. O casal havia saído de um condomínio em Muro Alto, em Ipojuca, a bordo de um tipo de barco movido a vela, indicado para áreas rasas.
No documento, obtido pelo Diario de Pernambuco, a Polícia Civil de Pernambuco afirma que “há indícios de uma possível omissão funcional de agentes públicos que atuaram na ocorrência do salvamento”.
De acordo com o documento, assinado pelo delegado Ney Luiz Rodrigues, houve “falhas graves de comunicação e resposta operacional” por parte do Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods), responsáveis pelo atendimento inicial da ocorrência. Isto porque, o acidente foi comunicado, segundo o inquérito, às 17h08 e o acionamento do Grupamento Tático Aéreo (GTA) ocorreu seis horas após o naufrágio.
Nas oitivas realizadas pela Polícia Civil, “o coordenador de operações do CIODS, afirmou ter determinado o acionamento imediato do GTA; entretanto, a resposta oficial do próprio Grupamento contradiz essa informação, revelando que o pedido não partiu do Ciods, configurando possível omissão funcional”, afirma o documento.
Para a polícia, houve demora nas tentativas de contato com a Capitania dos Portos de Pernambuco e falta de integração com o Corpo de Bombeiros Militar e o Salva-Mar de Ipojuca. Isso teria comprometido a efetividade do resgate, conforme o relatório.
O inquérito afirma, também, que “tais circunstâncias revelam indícios de falha operacional e a possível configuração de crime militar, tendo em vista que os agentes envolvidos se encontravam de serviço, no exercício de suas funções, quando da ocorrência dos fatos”.
E finaliza pontuando “a necessidade de apuração de responsabilidade administrativa, diante da eventual omissão de providências adequadas e do possível comprometimento da eficiência e da regularidade do serviço público prestado”, diz a investigação.
Naufrágio
O inquérito policial concluiu, também, que não há motivos para o prosseguimento do processo penal contra Seráfico por conta da ausência de crime. Com isso, a corporação sugere o arquivamento do caso.
Com a investigação, ficou provado que o casal não usava colete salva-vidas. No entanto, para o delegado Ney Luiz Rodrigues, que preside o inquérito, o uso de colete salva-vidas “não seria capaz de evitar o resultado letal, tendo em vista o tempo de permanência no mar e as condições de correnteza”.
O documento aponta, também, que paredão rochoso do Complexo Portuário de Suape, para onde Seráfico e Maria Eduarda teriam nadado em busca de ajuda, “apresentava características de difícil acesso e impacto intenso de ondas”.
As diligências realizadas pela Polícia Civil comprovaram, ainda, que o investigado era habilitado para conduzir a embarcação e as condições meteorológicas e marítimas eram favoráveis no início do passeio.
Além disso, o laudo do Instituto Médico Legal (IML), do corpo da advogada, e o relatório técnico do setor de inteligência da PCPE afastam a hipótese de agressão, omissão deliberada ou comportamento doloso por parte do médico.
Por meio de nota, a Polícia Civil de Pernambuco informou que "remeteu à Justiça o inquérito policial instaurado em junho de 2025 para apurar as circunstâncias do naufrágio de um veleiro, na Praia de Suape, no Cabo de Santo Agostinho". De acordo com a corporação, o procedimento foi concluído e enviado ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) no dia 14 de novembro de 2025.
O Diario de Pernambuco também procurou a Capitania dos Portos, mas até a publicação desta reportagem não obteve retorno.