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Desigualdades regionais na educação devem levar mais de dez anos para acabar, mostra pesquisa

Nordeste registra uma das maiores evoluções na última década, mas segue atrás do Sudeste. Atraso escolar, necessidade de trabalhar e desinteresse aparecem como principais barreiras para jovens nordestinos concluírem o Ensino Médio

Por Adelmo Lucena

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O Nordeste desponta como uma das regiões que mais avançaram na conclusão da Educação Básica nos últimos dez anos, mas ainda é necessário mais de uma década para que as desigualdades regionais sejam eliminadas. É o que revela o estudo “Conclusão da Educação Básica: avanços e desigualdades da última década”, produzido pelo Todos Pela Educação com base em dados da Pnad Contínua e do Módulo Educação do IBGE.

Entre 2015 e 2025, o percentual de jovens nordestinos que concluíram o Ensino Fundamental até os 16 anos saltou de 63,6% para 84,8%, uma das maiores evoluções do país. No Ensino Médio, o índice passou de 46,3% para 69,3%, uma alta de 23 pontos percentuais que coloca a região entre as que mais cresceram, atrás apenas do Norte.

Apesar dos avanços, os números mostram que o Nordeste permanece com desempenho inferior ao das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Enquanto no Sudeste 92,7% dos jovens concluíram o Ensino Fundamental na idade certa em 2025, no Nordeste esse índice ficou em 84,8%. No Ensino Médio, a distância continua significativa, com 79,6% no Sudeste contra 69,3% no Nordeste.

Os dados mostram ainda que fatores socioeconômicos e raciais ampliam as barreiras enfrentadas pelos jovens nordestinos. Em 2024, 14,5% dos jovens da região que não concluíram o Ensino Médio até os 19 anos apontaram que ainda estavam estudando.

A necessidade de trabalhar e a falta de interesse também seguem relevantes, alinhadas ao cenário nacional, mas no Nordeste o atraso escolar se destaca com mais força do que em qualquer outra região. A combinação de pobreza, desigualdades raciais e baixa oferta de políticas de permanência escolar tem impacto direto nas trajetórias de jovens negros e indígenas, historicamente mais vulneráveis ao abandono e ao não aprendizado.

Entre os estudantes pretos, pardos e indígenas, a taxa de conclusão nacional do Ensino Médio em 2025 foi de 69,5%, ainda muito distante dos 81,7% registrados entre brancos e amarelos.

Nas demais regiões do país, o estudo revela dinâmicas distintas. No Norte, que também figura entre os maiores avanços, a conclusão no Ensino Médio atingiu 69,1% em 2025, crescimento de 25,7 pontos percentuais na década. No Sul, embora os índices iniciais fossem mais altos, o motivo da não conclusão que mais pesa é a necessidade de trabalhar, especialmente entre homens jovens.

Já as regiões Sudeste e Centro-Oeste mantêm os melhores indicadores do país, mas ainda convivem com brechas entre estudantes ricos e pobres. Nacionalmente, a taxa de conclusão do Ensino Médio chegou a 74,3% em 2025, e a do Ensino Fundamental, a 88,6%, marcando avanços, mas ainda deixando cerca de um quarto dos jovens sem concluir a etapa final da Educação Básica.

O levantamento ainda aponta que os obstáculos são múltiplos e que entre os jovens que não concluíram o Ensino Médio em 2024, 35,2% ainda estavam estudando, 24,6% deixaram a escola para trabalhar e 25,1% perderam o interesse.

O estudo destaca que o “Brasil avançou, mas em ritmo ainda insuficiente para assegurar esse direito a todos. As desigualdades que impedem muitos jovens de concluir a Educação Básica permanecem evidentes”.