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Homens do Grande Recife são os que menos fazem exames solicitados por médicos, diz pesquisa

Levantamento aponta que somente 38% dos homens da RMR buscam fazer exames após recomendação médica

Por Adelmo Lucena

Câncer de próstata tem alta chance de cura quando diagnosticado preocemente

Uma pesquisa realizada pela Ipsos-Ipec a pedido da Pfizer mostra que os homens da Região Metropolitana do Recife são os que menos realizam exames solicitados pelos médicos. Somente 38% afirmam cumprir integralmente as recomendações, contra 67% das mulheres da mesma localidade e índices mais altos em outras capitais, como Belém (43%) e São Paulo (61%).

No Recife, um quinto dos entrevistados admite já ter feito exames, mas nunca levou os resultados ao profissional de saúde, comportamento que compromete diretamente o diagnóstico precoce de doenças graves, como o câncer de próstata. O estudo ouviu 1.740 pessoas maiores de 18 anos em diferentes regiões metropolitanas do país e mostrou que, apesar de o câncer ser apontado por 54% dos homens como a maior preocupação de saúde, a informação ainda não se traduz em hábitos de prevenção.

A cultura de “só ir ao médico quando sente algo” persiste entre os homens, especialmente no Nordeste, onde o comportamento é ainda mais presente. Nacionalmente, 39% deles só procuram atendimento diante de sintomas incômodos, enquanto 49% das mulheres realizam check-ups anuais mesmo sem sinais de doença, uma tendência também registrada na capital pernambucana.

“Existe uma cultura no Nordeste que está ainda mais presente na Região Metropolitana do Recife de que o homem só procura o médico quando tem sintomas ou quando alguém próximo a ele aparece doente. Se ele estiver totalmente assintomático e não tiver contato com ninguém que tenha doença, ele não vai ao médico”, afirma o presidente da Sociedade de Radiologia de Pernambuco, Fernando Gurgel.

O desconhecimento sobre os fatores de risco agrava o cenário e quase metade dos homens brasileiros não sabe que o câncer de próstata é uma das principais causas de morte masculina no país, e apenas 40% reconhecem a obesidade como um fator de risco. A associação da doença com homens negros, comprovada pela literatura científica, é reconhecida por somente 15% dos entrevistados.

O toque retal, considerado fundamental quando o Antígeno Prostático Específico (PSA) apresenta alterações, também segue cercado de desinformação e 70% dos entrevistados não sabem que o exame é necessário mesmo quando o PSA está normal.

“O câncer de próstata não gera sintoma nenhum, então faz com que o diagnóstico seja retardado e, consequentemente, o homem perca a oportunidade de tratar de uma maneira menos invasiva e, muitas vezes, até fique com sequela da doença ou de um tratamento mais agressivo que precisou ser utilizado”, explica Fernando Gurgel.

Apesar da alta incidência, as chances de cura chegam a até 95% quando o diagnóstico é feito ainda nos estágios iniciais. “O câncer de próstata diagnosticado precocemente tem chance de cura de mais de 90% apenas com a cirurgia. Na maioria das vezes nem precisa de quimio nem rádio”, complementa o presidente da Sociedade de Radiologia de Pernambuco.

Outras localidades

Em cidades como Belém e Distrito Federal, até 26% dos homens acreditam que o toque retal pode afetar a masculinidade, percepção que também aparece, embora em menor escala, entre os recifenses. Em relação ao câncer de mama, a pesquisa mostra que tanto homens quanto mulheres ainda subestimam fatores relacionados ao estilo de vida.

Apesar de apenas 5% a 10% dos casos terem origem genética, 71% das mulheres acreditam que a herança familiar é o principal fator de risco. Já os aspectos modificáveis, como obesidade, sedentarismo e consumo de álcool, são pouco mencionados.

Recife, porém, apresenta um dado positivo, uma vez que 53% das mulheres da RMR reconhecem o excesso de peso como fator de risco, acima das participantes de Porto Alegre (32%) e São Paulo (33%). A maternidade e o papel histórico de cuidadoras também influenciam os resultados.

A pesquisa evidencia a “feminização do cuidado”, já que 72% das mulheres afirmam ser as responsáveis pela saúde da família, enquanto apenas 25% dos homens mencionam suas parceiras como responsáveis pelo acompanhamento médico. Entre jovens de 18 a 24 anos, 41% citam a mãe como a principal referência para cuidados de saúde, e apenas 3% falam do pai. O impacto emocional do câncer também foi avaliado.

Caso recebessem um diagnóstico, 35% dos entrevistados contariam primeiro ao parceiro ou parceira. Ao refletir sobre como lidariam com as consequências do tratamento na vida sexual, 57% das mulheres disseram que isso não seria uma preocupação diante da gravidade da doença, enquanto apenas 41% dos homens demonstraram a mesma postura.