Homem da Meia-Noite na luta contra feminicídio: "Numa mulher não se bate nem com uma flor"
Campanha é promovida em parceria do Homem da Meia-Noite com o Instituto Capiba e o Centro Mulher Vida, de Olinda. A ação é de fortalecimento à luta contra violência contra mulher e feminicídio
O Homem da Meia-Noite lançou a campanha social de combate à violência contra a mulher e ao feminicídio, denominada “Numa mulher não se bate nem com uma flor”. A inauguração da campanha foi nesta quarta (12), em evento realizado na sede do Coletivo Mulher Vida, em Olinda, no Grande Recife, um dos parceiros do projeto, ao lado do Instituto Capiba, idealizador da campanha.
O objetivo é fortalecer a causa de proteção às mulheres e aos direitos femininos. O presidente do Homem da Meia-Noite, Luiz Adolfo, destacou a importância de uma agremiação tão importante endossar uma temática urgente na sociedade.
“O Homem da Meia-Noite, como uma agremiação de teor crítico, não poderia ficar de fora do momento tão importante. Todos os anos a gente traz campanhas sociais significativas, importantes, necessárias para uma reflexão maior da nossa sociedade, do que acima de tudo, o Homem da Meia-Noite acredita e deseja para todos nós. Fomos procurados pelo Instituto Capiba, para trazer o tema ‘Numa mulher não se bate nem com a flor’, e aceitamos de imediato”, explicou Luiz Adolfo.
“Já pensávamos em trazer uma campanha de combate ao feminicídio, que é algo tão necessário, combater essa mazela da sociedade, essa coisa cruel e deprimente, fruto de uma construção equivocada da nossa sociedade”, completou.
Parceiros
O idealizador da campanha foi o Instituto Capiba, que carrega o nome de um dos maiores compositores da música brasileira, o pernambucano Capiba. A denominação da campanha vem de um trecho da letra escrita pelo artista na música “Cala a boca menino”. Confira
“Sempre ouvi dizer que numa mulher / Não se bate nem com uma flor / Loira ou morena, não importa a cor / Não se bate nem com uma flor”, escreveu Capiba, em 1965.
O diretor-executivo do Instituto Capiba, Amaro Filho, relatou como pensou em desenvolver uma campanha com o tema.
“O tema é urgente. A temática do feminicídio virou uma coisa absurda. Cada dia se fala isso, cada dia é uma mulher morrendo. Como eu estou muito envolvido no acervo de Capiba, eu vi músicas que tratam dessa questão. ‘Cala a boca menino’, de 1965, tem essa frase: "Uma mulher não se bate nem com a flor". Capiba lá atrás já estava falando de uma coisa que é completamente atual”, contou.
“Eu levei o tema para a diretoria, interessante e comecei a ver parceiros. De primeira, o Homem da Meia-Noite topou, e eu achei ‘arretado’. Sempre achei que os homens deveriam estar mais a frente dessa campanha, porque as mulheres são as vítimas e elas já estão gritando”, afirmou Amaro.
A diretora do acervo de Capiba, Débora Mendes também destacou a importância de trazer um símbolo carnavalesco para a campanha, por ser um período do ano em que a violência contra a mulher entra em foco.
“É muito importante essa campanha já estar acontecendo desde hoje, em novembro, porque nós vamos ganhar tempo para que quando chegar o Carnaval, ela já esteja em todo o estado de Pernambuco e todo o Brasil. Eu acho que tem que crescer essa campanha, não só para o Grande Recife, mas para o Brasil inteiro”, avaliou Débora.
“Carnaval é um momento de violência. Antes era prazer, mas hoje já a festa já está contaminada pela violência, principalmente contra as mulheres. Então, eu acho que é um momento muito propício, a gente ganha tempo para gente fazer uma campanha bem consolidada para ser repercutida para o Brasil inteiro”, compartilhou.
Rosana França, assistente social e coordenadora do colegiado do Coletivo Mulher Vida, de Olinda, explicou o que significa para a instituição participar da campanha. O grupo atende cerca de 600 mulheres
“Quando eles convidaram a gente, foi exatamente por entender a historicidade da instituição, que há 34 anos atua no enfrentamento violência contra mulher e o feminicídio tem sido um tema muito importante na nossa atuação. Receber esse convite e saber que a gente está ao lado de um dos maiores blocos do mundo, que vai repercutir isso falando de homem para homem, é para a gente uma oportunidade ímpar”, relatou.
Camisa
Também foi lançada uma camisa especial para a campanha, cuja arrecadação das vendas será destinada aos projetos parceiros para investimento em ações de proteção de mulheres e mobilizações sociais. O valor é de R$ 70,00.
Estilista da grife do Homem da Meia-Noite, há 9 anos, Rafaela Mendes, compartilhou como foi a concepção do modelo da camisa especial da campanha.
“A gente quis fazer justamente essa reflexão do homem, como o Homem da Meia-Noite, como o maior homem de Olinda, traz essa bandeira de que a gente precisa cuidar das mulheres o ano todo. Elas precisam ser protegidas, elas precisam ser salvas, não só no carnaval, mas o ano todo”.