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Diversidade religiosa marca homenagens aos mortos no Cemitério de Santo Amaro

Diferentes crenças se reúnem no Cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife, para consolar quem atravessa processos de luto e lida com a saudade de entes queridos

Por Marília Parente

Autoridades e praticantes de diversas religiões marcaram presença no Cemitério de Santo Amaro, para levar consolo aos enlutados e lembrar os mortos

Diversas expressões de fé levam consolo às famílias enlutadas que chegam ao Cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife, neste domingo (2). Seja com orações, música ou bênção, diversas ações voluntárias de solidariedade podem ser observadas no local, que registra forte movimentação de público em razão do Dia de Finados.

Logo na entrada do cemitério, a professora Fabíola Gonçalves recebe o público com folhetos espíritas, voltados para a consolação de quem perdeu entes queridos. "A palavra básica do espiritismo é 'fora da caridade não há salvação'. Esse é um trabalho consolador, para pessoas que ainda estão lidando com o desencarne de entes queridos", explica. 

Um dos folhetos do grupo é recebido com gratidão e sorrisos pela família do aposentado Carlos Fernando dos Santos. Católico, ele visita o cemitério anualmente há 30 anos, para restaurar e florir o jazigo onde estão sepultados sua mãe e seu irmão, que morreu aos 10 meses de idade, durante sua infância. 

Caprichoso, ele aplica a segunda mão de tinta sobre cada detalhe e aresta do jazigo, que pinta de azul em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. "É uma atenção com quem teve atenção com a gente. É uma espécie de retribuição. Fizeram tanto por mim e só porque morreram vou esquecer deles?", comove-se. 

 

Não muito distante de Carlos e de sua família, as primas Nicole e Emily Santana, de 12 e 11 anos, respectivamente, emocionam os visitantes executando peças instrumentais da Igreja Adventista com seus violinos. "Acho que as pessoas se sentem mais tranquilas com música e, às vezes, esquecem da dor de perder alguém", diz Nicole. 

Na companhia das mães, as meninas realizam o trabalho no local pelo segundo ano consecutivo. "A gente vem dar a notícia de que Jesus nos ama. As pessoas não precisam ficar tristes, porque tem sempre alguém pra cuidar da gente", acrescenta Nicole. 

Proteção de Iansã e São Francisco de Assis

Na tradição do candomblé, a orixá Iansã é a guardiã dos cemitérios. Ela responsável por conduzir os espíritos dos mortos, chamados de eguns, e separá-los dos vivos. 

"Quando a gente apronta santo, o Pai de Santo dá o 'ujeje, que é a segurança da gente para entrar no cemitério. Esse colar que estou usando", conta o aposentado Maciel Agripino. 

Vestindo roupas brancas, em conformidade com a tradição da religião, ele foi ao local pedir pelo sobrinho, falecido há dois meses, e pela esposa, que partiu há um ano e quatro meses. "A morte é uma coisa que a gente sente, faz nosso cortejo, traz as obrigações para fazer para Iansã e despacha para ela, para que eles cheguem num bom lugar", explica. 

Pelo cemitério, também circulam os freis Franciscanos da Anunciação, oferecendo bênçãos aos túmulos e transeuntes que circulam pelo local. "As pessoas pedem uma bênção e uma palavra por seus queridos. Muita gente sente saudade e tristeza. Nossa função é consolar", diz o frei Wendel Cândido.