Diario de Pernambuco e UFPE avançam em projeto de digitalização do acervo histórico
Iniciativa feita pelo Laboratório Liber visa preservar 2.690 volumes do jornal, datados desde o século XIX, garantindo acesso público às futuras gerações
O presidente do Diario de Pernambuco, Carlos Frederico Vital, e o deputado federal Eduardo da Fonte visitaram, na sexta-feira (10), o projeto de curadoria e preservação digital do jornal, realizado pelo Laboratório Liber, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A iniciativa reúne ações de restauração, digitalização e conservação de um acervo histórico com 2.690 volumes, dos quais cerca de 800 exigem tratamento prioritário antes da digitalização.
A parceria foi formalizada por meio de um Termo de Cooperação Técnica e Científica celebrado entre o Liber-UFPE, o Diario de Pernambuco e a Associação da Imprensa de Pernambuco (AIP). O objetivo é assegurar a proteção e o acesso público à coleção iniciada no século XIX: um conjunto documental que ultrapassa a própria história da empresa jornalística e se consolida como testemunho vivo da trajetória social, política e cultural de Pernambuco e do Brasil.
O projeto começou a ser executado em 2022, embora as discussões tenham se iniciado ainda em 2020 entre pesquisadores da universidade. Em 2024, o trabalho ganhou novo fôlego com uma emenda parlamentar do deputado Eduardo da Fonte, destinada a fortalecer as ações de conservação da memória do jornal. O processo é dividido em três etapas principais, incluindo resgate, preservação e acesso.
Patrimônio
“O Diario de Pernambuco é um patrimônio do nosso estado e o jornal mais antigo em circulação do Hemisfério Sul. Esse processo representa uma significativa conquista para Pernambuco e para o Brasil. A colaboração neste projeto com a Universidade Federal de Pernambuco é crucial para a preservação da nossa cultura, beneficiando as futuras gerações. É fundamental que, daqui a 100, 200 ou 300 anos, o acervo do Diario de Pernambuco continue acessível, seja lembrado e contribua para a história do nosso país”, destaca o deputado, responsável pelo projeto de lei que reconhece o acervo como patrimônio cultural e material do Brasil.
O jornal, fundado em 7 de novembro de 1825, completará 200 anos de existência em 2025, consolidando-se como um pilar na preservação da história política, social e cultural do Brasil. Embora o ciclo completo de restauração do acervo deva se estender por mais de dez anos, os resultados serão divulgados gradualmente, à medida que cada fase for concluída.
“Os estudantes realizam uma higienização das páginas do jornal e, em seguida, iniciam a catalogação, identificando o volume, o número e o ano de cada edição. Após essa etapa, é feita a avaliação para determinar se o material pode ser digitalizado, dando início ao processo técnico de preservação do Diario de Pernambuco. Somente depois de toda essa preparação é que se inicia o delicado trabalho de digitalização, garantindo que a memória preservada em cada página possa atravessar o tempo e continuar acessível às futuras gerações”, explica a vice-coordenadora do Laboratório Liber, Vildeane Borba.
Colaboração
Ela complementa que “grande parte do acervo já está disponível na Biblioteca Nacional, mas ainda há outro conjunto importante de exemplares em formato analógico, recebidos diretamente pelo projeto. Jornais em papel datados do século XIX.” Devido à antiguidade e à dimensão do acervo, há lacunas em algumas edições. Por isso, outras instituições poderão ser acionadas para colaborar na reconstituição da coleção completa do jornal. Paralelamente, parte do acervo mais recente, correspondente ao período posterior a 2010, já foi digitalizada pela própria empresa.
Formação
“Quando pensamos no Diario, estamos falando de uma narrativa que ultrapassa as fronteiras do estado, trata-se da história do Brasil e, em muitos aspectos, da história mundial. São duzentos anos que refletem a própria formação do ser humano como o conhecemos hoje, dessa sociedade do século XXI, política, moralmente estruturada, com divisão de poderes e valores bem definidos. A história da humanidade, como a entendemos atualmente, está condensada nesses dois séculos, com o fim de uma era marcada pela escravidão e o início de um período de liberdade, que atravessa também momentos de ditaduras e transformações profundas”, afirma a gestora do projeto, Marcela Gama.
O acervo do Diario de Pernambuco também serve como base de pesquisa para estudantes da UFPE em diferentes áreas do conhecimento. O estudante de Biblioteconomia Diogo Manoel, por exemplo, utiliza o material histórico do jornal em sua pesquisa sobre a escravidão no Brasil.
“Quando escrevemos uma pesquisa, não estamos determinando nada, estamos apresentando hipóteses para que outras pessoas possam questionar, discutir ou confirmar. O meu objetivo, dentro desse ponto de vista, é justamente promover a conscientização, fazer com que as pessoas reflitam e se tornem mais críticas diante do tema, e analisar como os jornais retratam este tema antigamente ajuda a entender como a sociedade evoluiu”, destaca o estudante.