Expedição da UFPE investiga influência dos estuários no ambiente marinho
Ao todo, 28 pessoas participaram da expedição, analisando diferentes pontos do mar que chegam até 500 metros de profundidade
O navio-escola Ciências do Mar IV zarpou do Porto do Recife na última semana levando a bordo 28 pessoas, entre tripulantes, pesquisadores e estudantes, para uma missão científica que busca compreender como grandes estuários e massas de água continentais influenciam o oceano e sua biodiversidade. A expedição é coordenada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e integra o projeto INCT BioAmazônia Azul, que reúne instituições de pesquisa de todo o país.
O trabalho realizado em Pernambuco acontece de forma simultânea a outras três missões nas regiões Norte, Sudeste e Sul, permitindo um retrato mais completo do Oceano Atlântico em território brasileiro. Para o professor Mauro Maida, do Departamento de Oceanografia da UFPE e coordenador científico da expedição no Nordeste, a expectativa é que a iniciativa contribua tanto para a produção científica quanto para a formação prática de novos oceanógrafos e biólogos marinhos.
Durante a viagem, a equipe percorreu 27 pontos de coleta distribuídos em nove perfis perpendiculares à costa, entre profundidades que variam de 25 a 500 metros. Foram levantados alguns tipos de parâmetros. Os físicos, por exemplo, incluem temperatura da água, direção e velocidade das correntes, topografia e tipo de fundo marinho.
Os químicos são salinidade, oxigênio dissolvido, nutrientes, pH e contaminantes, além da análise de isótopos de carbono, que ajudam a identificar a influência do Rio São Francisco na composição da coluna d’água. Já os biológicos são observação da megafauna marinha (baleias, golfinhos, tartarugas e aves), coleta de plâncton e organismos bentônicos, além de filmagens submarinas que já registraram mais de 11 quilômetros de paisagens no fundo do mar.
Segundo o coordenador da expedição, os dados coletados também têm potencial para indicar efeitos das mudanças climáticas e da poluição sobre o mar. A ideia é que esse tipo de levantamento seja contínuo e se torne uma política pública nacional de conservação marinha. “A equipe do projeto INCT Bioamazônia Azul -CNPq, composta por representantes de várias universidades de norte a sul do país, espera que essa iniciativa se consolide como política pública nacional, e que essa expedição sinótica seja somente a primeira de um programa governamental de longo prazo de monitoramento e conservação do mar brasileiro”, explica o professor Mauro.
“A experiência prática no mar é de essencial importância para a formação de profissionais nas ciências do mar (graduação e pós graduação), tanto que os cursos de graduação em oceanografia exigem um mínimo de horas de embarque para que se possa obter o grau de oceanógrafo. Os navios-escola proporcionam experiência prática para os estudantes, que vão desde se adaptar ao balanço do mar, experiência na utilização de equipamentos oceanográficos e de navegação, equipamento de coleta, planejamento de expedições e convivência à bordo”, destaca Maida.
A realização simultânea das expedições nas quatro regiões brasileiras também se destaca. A estratégia permitirá comparar condições oceanográficas e de biodiversidade em diferentes pontos da costa, considerando tanto as variações regionais quanto as mudanças sazonais. “As expedições simultâneas dos quatro navios são importantes para que possamos comparar os parâmetros analisados entre as regiões brasileiras banhadas pelo Oceano Atlântico (Norte, Nordeste, Sudeste e Sul) na mesma época do ano, e conhecer as peculiaridades oceanográficas e de biodiversidade ao longo das estações do ano, e como isso varia no longo prazo para cada região”, explica o coordenador.
Mudanças climáticas também são tema de estudos de outra expedição
Já um grupo de cientistas brasileiros embarcou, ontem, para a Antártica em mais uma etapa do Projeto Mephysto, iniciativa vinculada ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar) que busca compreender os efeitos das mudanças climáticas sobre os oceanos e a biodiversidade marinha. A missão segue até o dia 30, a bordo do navio de pesquisa oceanográfica Almirante Maximiano, com destino à Baía do Almirantado, uma das áreas mais estudadas do continente. O retorno ao Brasil está previsto para 15 de novembro.
O Projeto Mephysto investiga como o aquecimento global tem alterado as características físicas, químicas e biológicas do Oceano Austral, região estratégica para o equilíbrio climático do planeta. Embora represente apenas 20% da superfície oceânica, essa massa de água absorve cerca de metade do dióxido de carbono emitido pelas atividades humanas, desempenhando um papel crucial na regulação da temperatura global.
Alterações nesse ambiente, como o aumento da temperatura da água, a redução do gelo marinho e mudanças na circulação das correntes, afetam diretamente a disponibilidade de nutrientes, comprometem o desenvolvimento do plâncton e repercutem em toda a cadeia alimentar marinha. Para o professor da UFPE Moacyr Araújo, coordenador do projeto, “o Mephysto 2 amplia a compreensão sobre o papel estratégico do Oceano Austral para o futuro da Terra. Mais do que nunca, precisamos de ciência para orientar políticas públicas diante dos efeitos já visíveis das mudanças climáticas”.
Durante a missão, os pesquisadores irão coletar amostras e dados que permitam avaliar como os ecossistemas marinhos estão reagindo às pressões ambientais impostas pelas mudanças climáticas.