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Tecnologia sustentável ganha protagonismo na Futurecom 2025 às vésperas da COP30

O tema, proposto pelo IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos), mobilizou especialistas de diversas universidades brasileiras em São Paulo, entre 30 de setembro e 2 de outubro

Por Larissa Aguiar

Às portas da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), marcada para novembro, no Pará, a Futurecom 2025 trouxe para o centro do debate uma questão urgente: como a tecnologia pode ser aliada no enfrentamento das mudanças climáticas e na construção de cidades mais limpas, inteligentes e sustentáveis. O tema, proposto pelo IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos), mobilizou especialistas de diversas universidades brasileiras em São Paulo, entre 30 de setembro e 2 de outubro, em um momento em que todos os olhares se voltam para o Brasil como anfitrião da próxima cúpula climática.

Maior organização profissional técnica do mundo dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade, o IEEE conta com mais de 486 mil membros em 190 países, sendo 5 mil no Brasil. A entidade aproveitou o palco da Futurecom, considerada o mais importante evento de tecnologia e telecomunicações da América Latina, para lançar uma agenda de soluções sustentáveis que vão da bioeconomia amazônica ao uso de gêmeos digitais, passando pela transformação digital, pela energia limpa e pelo monitoramento ambiental.

Soluções para um planeta em transformação
Os especialistas lembram que a COP30 representa uma oportunidade histórica para o Brasil, já que o evento será realizado em Belém, em pleno coração da Amazônia. Para a professora Tereza Carvalho, da Escola Politécnica da USP e membro do IEEE, o desafio está em conciliar desenvolvimento econômico com a preservação ambiental:
“É urgente investir em projetos de pesquisa e desenvolvimento voltados à proteção da floresta e ao fortalecimento da bioeconomia, que pode ser um caminho sustentável para a região”, afirmou. Entre as propostas, ela destacou a aplicação de Internet das Coisas (IoT) e blockchain no monitoramento e rastreamento de cadeias produtivas, como forma de combater o desmatamento e garantir transparência na exploração de recursos naturais.

Já Vanessa Schramm, professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e membro sênior do IEEE, destacou os impactos da digitalização na transição verde:
“A transformação digital é uma oportunidade para construirmos um planeta mais sustentável, mas também é preciso estar atento às ameaças, como o consumo energético excessivo”.

Outro ponto crucial é a energia. O engenheiro Otávio Chase, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), reforçou que a expansão do acesso à energia limpa é essencial para o futuro das cidades brasileiras: “O consumo energético da Inteligência Artificial cresce rapidamente. É preciso pensar em fontes renováveis, como a solar, para garantir que o avanço tecnológico não represente retrocesso ambiental”.

Da Amazônia à Caatinga: desafios brasileiros
Além da floresta amazônica, a discussão avançou sobre outros biomas brasileiros que sofrem pressões ambientais intensas, como o Cerrado e a Caatinga. O professor Renato Borges, da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou a importância de expandir as medições e os modelos de monitoramento ambiental para além da Amazônia. Segundo ele, tecnologias como torres de fluxo, capazes de medir CO? e variáveis meteorológicas, aliadas a dados de satélite, podem validar práticas sustentáveis em diferentes regiões.
“Não faz sentido falarmos em gêmeos digitais do meio ambiente sem incluir todos os biomas brasileiros. A Caatinga, por exemplo, tem processos físicos e biológicos completamente diferentes dos da Amazônia e precisa ser monitorada com a mesma atenção”, explicou.

A pesquisadora Cristina Agra Pimentel, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), destacou o papel dos gêmeos digitais modelos virtuais que reproduzem ambientes reais para prever cenários e prevenir desastres: “Estamos falando de uma tecnologia que já vem sendo usada em setores como a saúde e que pode ser aplicada em larga escala para prever impactos climáticos, antecipando riscos em cidades e biomas”.

Se por um lado a tecnologia abre caminhos para reduzir emissões e otimizar recursos, por outro, levanta discussões sociais e econômicas. Vanessa Schramm lembrou que a digitalização também afeta o mercado de trabalho: “A Inteligência Artificial pode gerar novas oportunidades, mas também exige requalificação da força de trabalho. Essa transição precisa ser planejada para não ampliar desigualdades”.

Outro desafio citado foi a infraestrutura energética necessária para dar suporte ao avanço tecnológico. No Brasil, onde data centers estão em expansão, especialistas alertaram para a necessidade de integrar inovação com eficiência energética e uso de fontes renováveis, de modo a não comprometer as metas climáticas assumidas pelo país.

Conexão com a COP30
A presença do IEEE na Futurecom 2025 foi marcada pela estratégia de alinhar a discussão sobre inovação tecnológica com o debate global que ocorrerá na COP30. Os cientistas ressaltaram que o Brasil tem papel central nessa agenda por reunir grande parte dos biomas mais importantes do planeta e, ao mesmo tempo, enfrentar desafios urbanos complexos.

Nesse contexto, as propostas apresentadas em São Paulo se conectam diretamente ao esforço internacional de reduzir emissões e mitigar os efeitos da crise climática.