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Com aumento de 20%, estado tem média de 1 feminicídio a cada 4 dias

Segundo dados da SDS-PE, Pernambuco contabilizou, de janeiro a agosto de 2025, 60 feminicídios. Os números representam um aumento de 20% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados 50 casos.

Por Bartô Leonel

Julia foi encontrada morta na terça (23)

A média de feminicídios registrados em Pernambuco durante os oito primeiros meses de 2025 é de um caso a cada quatro dias, segundo dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE).

A pedido do Diario, a SDS-PE informou, nesta sexta (26), que foram registradas 60 ocorrências até agosto deste ano. Isso significa um aumento de 20% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados 50 casos.

O crime de feminicídio é configurado quando a mulher é morta por uma questão de gênero.

A pena de reclusão varia entre 20 a 40 anos, conforme a Lei nº 14.994, de 2024.

Esta lei ampliou a pena para o feminicídio, que antes era de 12 a 30 anos, e o tornou um crime autônomo, com a punição mais severa prevista no ordenamento jurídico brasileiro.

“Esses números são muito preocupantes, pois mostram que estamos em uma epidemia de feminicídios tanto em Pernambuco como no Brasil, o quinto país que mais mata mulher no mundo, num universo de 196 nações. Já em relação a Pernambuco, o estado ocupa o primeiro lugar em feminicídio no Nordeste”, alertou a diretora-executiva do Instituto Banco Vermelho, Paula Limongi.

O Instituto Banco Vermelho desenvolve ações para combater as mortes relacionadas a gênero. Instala bancos em locais públicos para fazer um alerta sobre a necessidade de atingir a meta de "feminicídio zero". 

Desses 60 casos registrados em 2025, 13 foram na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Isso representa uma redução de 13,4%, no Grande Recife, em relação aos primeiros oito meses de 2024, quando foram contabilizados 15 casos.

Paula Limongi afirma que ainda existe muita dificuldade em combater casos de feminicídio, principalmente, pela cultura patriarcal de nossa sociedade.

“Existe uma dificuldade imensa no combate a esse tipo de crime. Primeiro, porque o Brasil é um país patriarcal e tem uma cultura machista muito forte. e Segundo, devido à sociedade, que ainda não atentou que esse é um problema é de todos. Infelizmente, quando se trata de violência contra a mulher, a sociedade ainda fecha os olhos”, explica.

Balanço

Ainda segundo a SDS-PE, nos últimos quatro anos, Pernambuco teve uma média de quase 80 casos por ano, sendo 75 registrados no Grande Recife.

Nesse mesmo período, o ano que teve o maior número de registros foi 2021, com 87 casos.

Na sequência aparecem 2023 (83 casos), 2024 (76 casos) e 2022 (72 casos).

Falando especificamente da RMR, o ano que mais registrou casos foi 2024, com 25 feminicídios, representando um aumento de 56% em relação a 2023.

Casos recentes

O feminicídio mais recente foi o da manicure Júlia Ramilly Duarte, de 20 anos, que foi encontrada morta, com sinais de esganadura e de violência sexual, na suíte de um motel em Paulista, na RMR, manhã da terça-feira (23).

A vítima entrou no estabelecimento com um homem identificado como Djalma Diego Oliveira Deodato, de 25 anos.

Segundo o delegado Douglas Camilo responsável pelo caso, o casal teria ligado para a recepção do estabelecimento por volta das 4h, solicitando um lanche.

Algumas horas depois, o homem deixou o quarto, efetuou o pagamento com parte do dinheiro da vítima e informou aos funcionários que a companheira estava dormindo.

O corpo de Júlia foi encontrado pela camareira na suíte de número 6 do estabelecimento. Conforme o depoimento da funcionária do motel, o cadáver foi encontrado em cima da cama, coberto por um lençol e com um travesseiro em cima. Havia marcas de sangue no local.

Djalma Diego Oliveira Deodato está em prisão preventivamente no Centro de Triagem e Observação (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.

Mais ocorrências

Na segunda-feira (22), a jovem Lindsey da Silva,de 20 anos, foi assassinada com cerca de 60 facadas dentro do próprio apartamento, no bairro Pinheirópolis, em Caruaru, Agreste de Pernambuco.

Testemunhas relataram ter ouvido pedidos de socorro durante a madrugada e, logo depois, viram um homem saindo do local. Amigos da vítima apontaram que ele seria conhecido como Eduardo.

O suspeito, identificado como Eduardo Santos de Melo Farias, de 24 anos, foi preso no mesmo dia. Ele tinha um relacionamento com a vítima. Segundo as investigações, o ciúme pode ter sido a motivação para o feminicídio.

 Combate ao feminicídio

Segundo a SDS, o combate à violência contra a mulher é uma das prioridades para a atual gestão do Governo do Estado.

Por conta disso, as ações da Patrulha Maria da Penha, da PMPE, foram intensificadas e o seu atendimento aprimorado.

Segundo dados da própria SDS, desde 2023, a patrulha já acompanhou 14.672 mulheres com Medidas Protetivas de Urgência (MPUs), realizando 63.084 diligências entre 2024 e 2025.

Somente em 2025, segundo os dados, 3.802 mulheres ingressaram no programa, com 20.725 atendimentos realizados.

 A secretaria também ressalva que, para se combater este tipo de crime, também é preciso contar com a colaboração da rede de proteção.

Pessoas próximas, amigos e vizinhos podem passar informações e fazer denúncias sigilosas. Em casos de emergência, a orientação é ligar para o 190. Para denúncias anônimas, a SDS disponibiliza os telefones 181 ou 0800.081.5001.