A caminho dos 200 anos, Diario de Pernambuco é ferramenta de historiadores para pesquisas
Ao longo dos séculos, o Diario de Pernambuco também acompanhou mudanças de linguagem e formato, investindo no fotojornalismo, nas charges e na transição para o digital
Às vésperas de completar 200 anos, o Diario de Pernambuco, o jornal mais antigo em atividade da América Latina, reafirma sua importância como ferramenta indispensável para a pesquisa histórica. Mais do que registrar fatos, o periódico se firmou como espaço de memória e reflexão, fornecendo aos historiadores um vasto acervo documental que atravessa gerações.
Isso foi tema do II Encontro Por Outros Oitocentos: Pesquisa Histórica e o Bicentenário do Diario de Pernambuco, que está sendo realizado entre os dias 16 e 18 de setembro, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Organizado pelo Núcleo de Estudos Oitocentistas (COITÉ), em parceria com os cursos de graduação e pós-graduação em História da instituição, o evento reuniu pesquisadores, professores e estudantes para debater como as páginas do jornal ajudam a reconstruir a história social, cultural e política do país.
Os debates mostraram como o Diario de Pernambuco acompanha a vida nacional desde o Primeiro Reinado, cumprindo papéis diversos: de órgão da imprensa oficial, publicando atas, posturas municipais e regulamentos, a veículo de circulação internacional de notícias.
Para a professora Lídia Santos, da Unicap, o jornal atravessou marcos importantes de preservação tecnológica: do microfilme no século XX a era digital. “Esse momento representou uma quebra de paradigma no acesso documental, permitindo que pesquisadores ampliassem a compreensão da história do cotidiano por meio de edições digitalizadas”, destacou.
Já a doutoranda Vanessa Sial, da UFPE, ressaltou o caráter múltiplo da publicação: “O Diario de Pernambuco é uma fonte altamente privilegiada para todos os tipos de pesquisa. Ele conseguiu se manter como espaço de comunicação provincial, nacional e internacional. Ao longo dos 200 anos, cumpriu também a função de diário oficial, antes mesmo da criação desse conceito”.
As páginas do periódico registraram não apenas os grandes acontecimentos políticos, mas também aspectos da vida cotidiana: anúncios de festas religiosas, disputas cívicas, epidemias que marcaram o século XIX. Essa riqueza de detalhes permite aos historiadores enxergar sujeitos invisibilizados pela narrativa oficial, como escravizados, imigrantes e trabalhadores anônimos.
A pesquisa de Vanessa Sial sobre a “história da morte” ilustra bem esse potencial. Ela identificou, nos registros do jornal, a cobertura de epidemias, as medidas de saúde pública e até os anúncios de funerárias que ajudaram a fundamentar o setor privado da morte. “O jornal documentava as performances do morrer, os convites de irmandades, as estatísticas de óbitos, com os obituários, pois falavam de tudo um pouco, não apenas daqueles se que julgavam mais importantes”, explica.
Essa multiplicidade de registros também esteve presente na fala da professora Lídia Santos, ao destacar como as festas religiosas e cívicas eram noticiadas.
Ao longo dos séculos, o Diario de Pernambuco também acompanhou mudanças de linguagem e formato, investindo no fotojornalismo, nas charges e na transição para o digital. Segundo Vanessa Sial, essa capacidade de adaptação o tornou uma verdadeira “cápsula de memória”: “Ele permite o diálogo do passado com o presente, mostrando uma sociedade complexa, dinâmica e diversa”.