150 anos do Mercado de São José: comerciantes aguardam fim das obras de restauração
Segundo a URB, não existe um prazo definido para finalização das obras, pois a autarquia aguarda a finalização das escavações arqueológicas. De acordo com a professora UFRPE, Suely Luna, responsável pela pesquisa, os estudos não estão atrapalhando o andamento das requalificações
Em meio às comemorações dos 150 anos do Mercado de São José, no Centro do Recife, celebradas no último fim de semana, os comerciantes que ainda atuam no local ou que foram realocados para anexo provisório, localizado na Rua da Praia, aguardam o fim das obras de restauração.
Eles se queixam da queda no movimento provocado pelas requalificações realizadas no equipamento público.
“Essas obras estão prejudicando muito as vendas, pois tem pouca gente vindo ao mercado. Tem vezes que não tem quase ninguém. Desde que as obras começaram, não houve uma divulgação avisando que a parte de carne, peixes e frios está funcionando dentro do mercado. Muita gente acha que essa parte está fechada”, desabafou o comerciante Severino Gonçalves, conhecido como Nino Delegado, que vende carne no mercado há 58 anos.
As obras, iniciadas em janeiro de 2024, contemplam a preservação das fachadas e a requalificação das estruturas do mercado, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Também está sendo construído um primeiro andar com um mezanino para operação gastronômica, com um elevador com capacidade de 16 passageiros.
Segundo a Prefeitura do Recife, as obras estão sendo executadas em etapas, minimizando o impacto nas atividades comerciais e permitindo o funcionamento contínuo do mercado.
Com relação a área de artesanato, os permissionários precisaram ser realocados para um anexo provisório na Rua da Praia, nº 47, que abriga mais de 140 boxes.
O que diz a prefeitura
De acordo com a gestão municipal, cerca de 100 comerciantes foram diretamente impactados e puderam optar entre permanecer no anexo ou receber um auxílio mensal de R$ 3 mil. Ao todo, segundo a prefeitura, 46 optaram pelo espaço provisório e 54 pelo benefício financeiro.
Porém, apesar de todas essas iniciativas da gestão municipal, os comerciantes estão incomodados com a falta de previsão para o fim das obras.
“Não temos expectativa sobre a volta para o mercado, pois não sabemos de certeza quando irão acabar essas obras. Uns falam que será no próximo ano, já outros dizem que será daqui a 2 anos. Enquanto não tem essa definição, as vendas seguem caindo e prejudicando os vendedores”, ressaltou o comerciante Antônio Alves, que trabalha no mercado há 45 anos e precisou ser realocado para o anexo.
Segundo a Autarquia de Urbanização do Recife (URB), responsável pela obra, não existe um prazo definido para finalização das obras, pois a autarquia segue aguardando a finalização das escavações arqueológicas que estão acontecendo no local.
Apesar dessa indefinição, a autarquia destacou que as obras estão acontecendo normalmente em outros pontos onde não estão sendo feitas escavações. Segundo a Prefeitura do Recife, já foram concluídas a requalificação da cobertura e da estrutura metálica do pavilhão central.
O que diz a UFRPE
De acordo com a professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Suely Luna, responsável pela coordenação da pesquisa arqueológica, os estudos estão sendo feitos em conjunto com as reformas do Mercado, sem impactar em nada no andamento das obras.
Além disso, ela ressalta que os trabalhos arqueológicos realizados no mercado em si têm o prazo previsto para encerrar em novembro deste ano.
Segundo a Prefeitura do Recife, atualmente estão em andamento a recuperação das fachadas e esquadrias do pavilhão norte; a fundação do novo mezanino; a execução de estruturas metálicas; a instalação de calhas e ornamentos; e a recuperação dos elementos arquitetônicos da fachada.
Além desses trabalhos, estão sendo renovadas todas as infraestruturas elétricas, lógicas, hidráulicas, de combate a incêndio e o Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA).
De acordo com a Prefeitura do Recife, o projeto, orçado em R$27 milhões, visa resguardar a memória e a história do Recife, reforçando a importância do Mercado na rotina da cidade e aumentando sua visibilidade como ponto turístico.
A reportagem do Diario de Pernambuco procurou a URB para saber quantos por cento da obra já foram finalizados, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.
Ossadas encontradas
Durante a execução das obras, fragmentos de ossadas humanas foram encontrados durante escavações no pavilhão norte.
Após a aparição das ossadas, o Iphan foi acionado, realizou vistoria e determinou o acompanhamento arqueológico em toda a área do futuro mezanino. Para atender à exigência, a Prefeitura do Recife firmou convênio com a UFRPE, que está conduzindo os trabalhos arqueológicos.
De acordo com a pesquisa, já foram encontrados mais de 30 esqueletos humanos, além de grande quantidade de outros tipos de vestígios. A pesquisa constatou que o centro comercial era um cemitério, antes de se tornar um mercado público, classificando o terreno de 14.200 m² como um sítio arqueológico tipificado como sítio-cemitério.
150 anos do Mercado de São José
Símbolo do patrimônio histórico e cultural do Recife, o Mercado de São José foi inaugurado em setembro de 1875, considerado o primeiro mercado público pré-fabricado em ferro do Brasil.
Com arquitetura inspirada no Mercado de Grenelle, em Paris, o projeto do mercado teve a assinatura técnica do engenheiro francês Louis Léger Vauthier, conhecido por outras obras emblemáticas no Recife, como o Teatro de Santa Isabel.
Como forma de celebração aos 150 anos do Mercado de São José, a Prefeitura do Recife realizou, no último fim de semana, uma edição especial do “Viva o Centro”, com diversos serviços à população e também com homenagens, na Praça Dom Vital, no bairro de São José.
Além do “Viva o Centro”, houve atividades de educação patrimonial ligadas às escavações realizadas no mercado. A equipe do Núcleo de Ensino e Pesquisa Arqueológica (NEPARQ/UFRPE) promoveu uma exposição na área externa do equipamento.
A mostra apresentou ao público fotografias das escavações, banners explicativos e materiais arqueológicos encontrados no sítio, como fragmentos de cerâmica, faianças, cachimbos, vidros, potes e objetos em osso.
Também foram distribuídos panfletos educativos e os visitantes puderam interagir com os pesquisadores para conhecer mais sobre a história do antigo cemitério associado à Igreja Nossa Senhora da Penha, no mesmo terreno antes da construção do mercado.