° / °
Cadernos Blogs Colunas Rádios Serviços Portais

PCC e Comando Litoral Sul: Ficco mira esquema de facções para distribuir cocaína no Nordeste

A operação Sintonia Fina cumpriu 18 mandados de prisão preventiva e 31 de busca e apreensão, nesta quarta (3), em Pernambuco e em outros estados, além de bloquear valores e sequestrar bens ligados aos investigados. Esquema movimentou mais de R$ 328 milhões

Por Larissa Aguiar

Operação Sintonia Fina desarticula braço do PCC responsável por abastecer Pernambuco com cocaína

Deflagrada nesta quarta (3) pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Pernambuco (Ficco/PE), a Operação Sintonia Fina mirou diretamente um dos principais fornecedores de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC) para o Nordeste, responsável por abastecer facções locais em diversas cidades pernambucanas.

Em Pernambuco, o PCC, segundo a Ficco, atua em parceria com o Comando Litoral Sul, uma das facções criminosas locais.

Desde o início das investigações, em 2024, foram apreendidas mais de oito toneladas de entorpecentes, sendo seis toneladas de cocaína, além da movimentação financeira ilícita de cerca de R$ 328 milhões.

Essas informações foram repassadas por integrantes da Ficco-PE, em entrevista coletiva concedida nesta quarta, no Recife.

Integram a força as Polícia federal (PF), Rodoviária Federal (PRF), além da operadoras da Secretaria Estadual de Defesa Social, como as Polícias Militar, Civil e Penal. 

A Ficco atua em parceria com o Sistema Penitenciário Federal. Essa integração, segundo os representantes das instituições, tem permitido operações de grande impacto contra o crime organizado em Pernambuco.

A operação cumpriu 18 mandados de prisão preventiva e 31 de busca e apreensão, além de bloquear valores e sequestrar bens ligados aos investigados. As ações ocorreram em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, Itaquitinga, Paudalho, Tacaimbó e Caruaru, além de cidades de outros estados como Campo Grande (MS) e Itanhaém (SP).

Dois alvos ainda estão foragidos e outro foi assassinado, segundo informações da Ficco-PE.

Detalhes

Segundo a Ficco, mesmo com a prisão do líder do grupo em 2024, atualmente encarcerado em um presídio federal, a organização criminosa manteve atividades intensas em Pernambuco, atuando no tráfico de drogas, no comércio ilegal de armas de fogo, em homicídios e em sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro.

O secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, destacou que o grupo tinha papel estratégico para a criminalidade no Estado: “Eles eram responsáveis por fornecer drogas a diversas facções pernambucanas. Essa droga chegava em grandes carregamentos, principalmente cocaína, e era distribuída a traficantes locais”, afirmou.

As autoridades ressaltaram que Pernambuco vinha sendo usado como ponto de recepção e distribuição para outras regiões do Nordeste. A conexão direta com o PCC, que nasceu nos presídios de São Paulo e expandiu sua atuação para além das fronteiras nacionais.

As investigações revelaram que o grupo movimentou mais de R$ 328 milhões nos últimos anos, dinheiro que foi ocultado por meio de empresas de fachada e contas bancárias em nome de terceiros. O objetivo era dar aparência de legalidade a recursos oriundos do tráfico.

De acordo com o diretor-geral da Polícia Civil de Pernambuco, Renato Rocha, a integração entre as forças permitiu um aprofundamento das apurações:“Cada polícia detinha um fragmento da informação. Quando reunimos tudo dentro da Ficco, o resultado foi muito mais robusto e consistente. Essa qualidade de prova é o que garante que o Judiciário defira nossos pedidos e fortaleça o combate às facções”, afirmou.

O coordenador da operação, delegado Márcio Tenório (PF), explicou que a Ficco funciona como uma força-tarefa permanente, "reunindo o que há de melhor em termos de recursos humanos das polícias. Trabalhamos lado a lado, o que acelera o compartilhamento de informações e fortalece a resposta contra o crime organizado”.

Outras operações

A Operação Sintonia Fina é resultado direto da análise de informações obtidas em operações anteriores, como a Manguezais (2022) e a La Catedral (2024), ambas também conduzidas pela Ficco/PE. Essas ações já haviam identificado irregularidades no sistema prisional pernambucano e conexões entre facções locais e organizações criminosas de alcance nacional.

As autoridades lembraram que a atuação do grupo não se restringia ao tráfico. Diversos homicídios ocorridos na Região Metropolitana do Recife são atribuídos aos investigados. As disputas por território e a cobrança de dívidas relacionadas ao comércio de drogas estariam diretamente ligadas à escalada da violência.

“Mais de 80% dos homicídios em Pernambuco e no Brasil têm relação direta com o tráfico. Ao atingirmos a base logística dessas facções, também enfraquecemos os crimes violentos”, pontuou o secretário Alessandro Carvalho.

O secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização, Paulo Paes, ressaltou que a integração com a Ficco tem reforçado o controle dentro das unidades prisionais:
“Sabemos que facções tentam se articular a partir dos presídios, mas temos investido em monitoramento e isolamento de lideranças. Esse trabalho conjunto tem sido fundamental para cortar a comunicação e reduzir a influência do crime organizado”.

A Ficco informou que a *Operação Sintonia Fina ainda terá desdobramentos, já que parte dos alvos possui conexões interestaduais. O líder preso em São Paulo, por exemplo, era apontado como responsável pelo fornecimento de cocaína para todo o Nordeste, o que deve gerar compartilhamento de informações com outras unidades da federação.