° / °
Cadernos Blogs Colunas Rádios Serviços Portais

Paternidade: o amor que construiu um lar

O casal está junto há oito anos e, até 2020, o assunto "ser pai" não fazia parte das conversas mais frequentes

Por Larissa Aguiar

Família Vignoli, Maxwell, Felipe e Gabriel

No Dia dos Pais, Maxwell e Felipe celebram mais do que uma data no calendário: comemoram a construção de uma família que nasceu de forma inesperada e se fortaleceu com o tempo. A chegada de Gabriel, no início da pandemia, não foi fruto de um planejamento, mas de um encontro transformador. “A paternidade chegou de forma surpreendente. Era como se a gente estivesse esperando por ele, mesmosem saber”, lembra Maxwell Vignoli, promotor de Justiça.


O casal está junto há oito anos e, até 2020, o assunto “ser pai” não fazia parte das conversas mais frequentes. “No começo do relacionamento, estávamos aproveitando a vida a dois. Éramos pais apenas de pets”, conta Felipe. “Mas no fundo, eu já tinha esse desejo, mesmo que não tivesse falado em voz alta.”


O destino, no entanto, tratou de acelerar o que parecia distante. Gabriel, filho do casal, então com nove anos, precisou de um lugar seguro. O convite inicial era para passar apenas uma semana na casa dos dois. “Mas bastaram alguns dias para entendermos que já éramos pais”, lembra Maxwell.

 
A despedida, no retorno temporário de Gabriel para a antiga casa, foi dolorosa para todos. “Ele ficou mal lá, e nós ficamos mal aqui. Era como se faltasse um pedaço da casa”, conta Felipe. Eles deram entrada no processo judicial, para firmar a adoção e pouco tempo depois, Gabriel voltou para ficar. “Ele chegou com a certidão de nascimento e um documento do Conselho Tutelar para a matrícula na escola e disse: ‘Pronto, agora vocês podem me adotar’”, recorda Maxwell.


O processo de adoção direta foi concluído meses depois, sem obstáculos jurídicos. Mas o preconceito, embora sutil, apareceu em momentos do dia a dia. “Uma vez, ao tirar o passaporte dele, perguntaram qual era o nome anterior de Gabriel. Para um casal heterossexual, essa situação não ocorreria”, afirma Maxwell.


Apesar disso, a maior parte das lembranças que colecionam são de afeto e descobertas. “A gente descobre a paternidade todos os dias”, diz Felipe. “O nosso dia de comemoração é perto do São João, pois foi a data que oficialmente ele chegou”

Com 14 anos, Gabriel vive a adolescência com a segurança de um lar estável e cheio de diálogo. Os pais falam abertamente sobre respeito, diversidade e como reagir a comentários preconceituosos. “Digo para ele que, quando alguém falar algo ofensivo, ele pode responder: ‘Eu sou filho de um casal gay, e não gostei do que você disse’”, explica Maxwell.


A rotina também mudou por completo. Viagens agora seguem o calendário escolar, os programas incluem a participação do filho e até as escolhas de filmes e séries passam por um novo filtro. “No início, tínhamos medo de sermos julgados, evitávamos até cenas de afeto na TV. Hoje é diferente, ele cresceu, entende, então, lidamos de uma outra forma”, conta Felipe.


No Dia dos Pais deste ano, a programação já está garantida, uma pizza em família. Mas, para Maxwell e Felipe, a data vai muito além de um presente ou um almoço especial. “Ser pai me fez revisitar minha própria infância. É como se, ao ver Gabriel crescer, eu também reencontrasse o menino que fui”, reflete Maxwell.


Gabriel, que não esconde o orgulho da família que construiu, resume a importância desse amor em poucas palavras: “Me sinto muito feliz de ter dois pais tão especiais”.


Mais do que um título ou um papel social, para Maxwell e Felipe, a paternidade é um exercício diário de presença, escuta e aprendizado mútuo. “Não existe manual. A gente erra, acerta, mas está sempre junto, construindo um vínculo que não se quebra”, afirma Felipe.


No fim, o que sustenta essa história é algo que vai além de documentos ou cerimônias: é a decisão consciente de amar e cuidar. Neste Dia dos Pais, a comemoração é só um símbolo, pois a verdadeira celebração acontece todos os dias.