Preso por ameaças a Felca admite invasão a login de juízes para vender alvarás de soltura por R$ 15 mil
Em interrogatório, Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, confessou que vendia serviços ilícitos na internet, mas negou ameaças a Felca
Em depoimento à Polícia Civil de Pernambuco, Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, admitiu que cobrava até R$ 15 mil para emitir alvará de soltura falso e até invadia login e e-mail de juízes para autenticar os documentos. O suspeito foi preso em Olinda, no Grande Recife, na segunda-feira (25), por suposto envolvimento em ameaças ao youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido por Felca.
O Diario de Pernambuco teve acesso ao interrogatório de Cayo Lucas, realizado na Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Cibernéticos, após a prisão. À polícia, o suspeito também declarou que está desempregado, confessou ataques a sites governamentais e relatou já ter faturado mais de R$ 500 mil com os serviços ilícitos. Ele, no entanto, negou participação nas ameaças contra Felca.
Morador de Gravatá, no Agreste, Cayo Lucas afirmou que estava no bairro Jardim Brasil, em Olinda, para alugar uma residência ao lado da casa de Paulo Vinicius de Oliveira Barbosa, de 21, que foi preso em flagrante durante a operação. Segundo o depoimento, eles se conheciam há cerca de dois anos.
No interrogatório, Cayo Lucas relatou que fazia “compra e venda de logins de usuários de sistemas governamentais” e vendia os acessos “em qualquer lugar”. Para lavar os valores, ele usaria contas de laranjas e investimentos em criptomoedas.
Dados sigilosos
Entre os serviços ilícitos, o investigado citou que oferecia consulta de dados sigilosos de terceiros, bloqueio de contas bancárias, emissão e revogação de mandados de prisão, inclusão de dívidas no Serasa e alteração de informações no sistema da Receita Federal (RF) e do Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o depoimento, Cayo Lucas cobrava R$ 15 mil para expedir alvará de soltura, o que já teria feito mais de 50 vezes, por meio de acessos clandestino a contas de magistrado). Também afirmou cobrar R$ 3 mil para “excluir o nome do mandado de prisão” no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).
“Geralmente recebe o valor em criptoativos ou, se for por Pix, pede para alguém receber”, registra o depoimento. De acordo com o investigado, os laranjas ficavam com 20%.
O suspeito admitiu, ainda, invasões a sistemas da polícia de ao menos dois estados: o “Cerebrum”, no Ceará, o “Polícia Ágil”, em Pernambuco, do qual já “vendeu diversos acessos”, segundo o depoimento. Cayo Lucas também disse que conhece “todos os sistemas” – voltados a envio de ofícios, consulta de dados e até quebra de sigilo – e utilizou “praticamente todos”.
“Ele paga para pessoas realizarem um ‘dump’ (cópia) da base de dados de órgãos públicos. Ele envia o site e as credenciais para a pessoa que contratou e realiza a cópia do banco e lhe entrega”, registra o documento.
De acordo com o interrogatório, uma das bases atacadas foi a do Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB), responsável, por exemplo, pelas emissões de RGs em Pernambuco. O investigado teria coletado “dados de qualificação e fotografia das pessoas” . As informações foram vendidas por R$ 50 mil.
Ainda segundo o depoimento, Cayo Lucas também “contrata pessoas para criar programas e jogos e coletam credenciais de acesso”. “São trojans [um tipo de vírus] que vêm encapsulado em programas. Quando o usuário instala, ele passa a coletar as credenciais e envia direto para um Bot [robô] no Telegram”, diz o documento.
Investigação
A investigação do caso começou após uma especialista em psicologia infantil, que participou de um vídeo de Felca, receber uma série de ameaças de morte e estupro, por e-mail e WhatsApp, no início do mês. A vítima registrou boletim de ocorrência em São Paulo.
Segundo a Polícia Civil paulista, os ataques foram orquestrados e realizados por integrantes do “Country”, uma organização criminosa que atua no Telegram e no Discord, da qual Cayo Lucas seria um dos líderes. Esse grupo também teria envolvimento com pornografia infantil e exploração de crianças e adolescentes, de acordo com a investigação.
No interrogatório, Cayo negou que fizesse parte da organização. “Já entrou no grupo Country mas saiu após publicações relacionadas ao nazismo por ‘não querer se envolver com isso’”, diz.
A reportagem não localizou a defesa de Cayo Lucas. Já a família de Paulo Vinícius nega acusações e diz que ele seria inocente.