Política "invade" ruas durante a Festa do Morro da Conceição
Em ano pré-eleitoral, a movimentação na Festa do Morro traz o debate sobre o uso de ambientes de fé como palco político
Quem sobe o Morro da Conceição nos dias próximos à data da festa de Nossa Senhora, que acontece na próxima segunda-feira (8), nota que a fé tem dividido espaço com a política. Banners, faixas e bandeiras de candidatos se acumulam nas paredes das casas que estão no caminho até o Santuário, misturando devoção, pressão eleitoral e disputa por visibilidade durante uma das maiores festas religiosas de Pernambuco. Em ano pré-eleitoral, a movimentação traz novamente o debate sobre o uso de ambientes de fé como palco político, prática que vem crescendo em diferentes denominações.
Segundo o cientista político Hely Ferreira, analisar o limite ético da prática para candidatos em ambientes de fé é difícil. “Muitas vezes não se tem ética nem na política, como é que eles vão ter ética dentro da questão religiosa?”, questiona.
A presença de materiais políticos no entorno do Morro faz parte de uma estratégia antiga e cada vez mais evidente, avalia o cientista. Para ele, a lógica é simples: visibilidade. “Diz o velho ditado: quem não é visto, não é lembrado. Então, a presença dos políticos em eventos religiosos produz visibilidade, faz com que eles sejam lembrados”, explica.
O professor ressalta que a disputa por espaço nesses ambientes se intensificou porque a política partidária se infiltra em todos os lugares. “A política está presente em tudo que é local. Nas instituições, em ambientes onde a gente menos imagina, de modo que se faz presente também na religião”, analisa.
Apesar da forte presença de candidatos, o cientista político avalia que esse tipo de estratégia não determina o resultado das urnas. “Eu não conheço ninguém que tenha ganho eleição porque estava presente em alguma festa religiosa. A presença faz lembrar, mas desconheço um eleitor que vota em um candidato porque ele simplesmente frequenta o ambiente religioso. Há uma relação mais próxima quando este candidato confessa ou professa a mesma fé. Aí sim, existe um peso”, avalia.
Riscos à democracia
Sobre possíveis riscos à democracia, Ferreira ressalta que religião e política sempre conviveram, desde a Grécia antiga. “Não vejo risco à democracia com questões religiosas. O ruim é quando não se consegue separar a religião da política. Quando se mistura é algo estranho”, afirma. Segundo o especialista, o problema central é a diferença entre as duas lógicas: “A política tem interesses que devem ser plural. A religião tem conceitos que, em tese, são exclusivistas.”