Lula encerra setembro em alta e abre espaço para 2026, avaliam analistas
Erro da oposição abre espaço para Lula, que precisa conter inflação e cumprir promessas para manter vantagem
A pouco mais de um ano da eleição presidencial de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega ao fim de setembro em um cenário com saldo político positivo. A aprovação de seu governo alcançou 50%, segundo a pesquisa recente do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), resultado de um segundo semestre, até aqui, carregado de uma série de acertos que dão musculatura para o governo, de acordo com especialistas.
Neste mês, acontecimentos como a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) por liderar a trama golpista, a discussão PEC da Blindagem e a PL da Anistia no Congresso Nacional e o discurso de Lula na Assembleia Geral da ONU em defesa do “Brasil Soberano”, cooperaram para o avanços internos e externo do governo de Lula.
Para o cientista político e professor do curso de Ciências Sociais e de Consumo da ESPM, Paulo Ramirez, o resultado favorável do governo não é atribuído apenas aos méritos de Lula, mas também aos erros de seus adversários.
“Muito mais pelos erros dos adversários, com medidas que beiram a inconstitucionalidade, foram fundamentais para que essa imagem do governo Lula, como defensor da manutenção das instituições democráticas e que se volta aos interesses da maioria da sociedade. Lula foi angariando essa sua imagem e o que foi determinante, para que ele tivesse agora resultados mais positivos”, avalia.
Ramirez lembra que desde junho, com a derrubada do Congresso Nacional na proposta do Executivo de ampliação do IOF em contrapartida à aprovação de medidas “impopulares”, como o aumento dos custos da composição dos parlamentares e seu gastos internos, a opinião pública começou a desaprovar o Legislativo Federal de forma mais expressiva, o que teria criado um ambiente favorável para o Planalto.
PONTO DE VIRADA
Bhreno Vieira, cientista político e doutorando em Ciência Política pela UFPE, destaca que setembro foi o ponto de virada deste crescimento iniciado nos primeiros meses do segundo semestre. “A partir disso, a base social de apoio do governo começou a pautar o debate demonstrando que o Congresso era totalmente contrário aos interesses nacionais”.
Dando continuidade à ascensão, a reação imediata de Lula em resposta ao anúncio das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o anúncio de medidas, “enquanto que a família Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro principalmente, dos Estados Unidos, começa a agir contra os interesses econômicos nacionais”, teria também ajudado na imagem do crescimento de Lula.
“O governo Lula soube reagir fazendo falas críticas contra essas tentativas de intervenção externas, e também em nome da manutenção da soberania nacional. Eu diria que este foi o grande elemento, que propiciou essa alavancagem da subida da popularidade”, aponta o professor da ESPM.
Borges também destaca o “lobby" feito pelo filho 03 de Bolsonaro (PL) nos EUA. Para o especialista, o “timing” que Eduardo colocou o debate do tarifaço foi “péssimo”, provocando uma defesa governo e “vestir a camisa verde e amarelo e levantar a bandeira nacionalista”. “As campanhas que já estavam sendo desenvolvidas no governo como Brasil dos Brasileiros, o Brasil Soberano, ganharam muito mais fôlego”.
Em setembro, Vieira lembra da manifestação do 7 de Setembro, Dia da Independência do Brasil, bolsonaristas levaram às ruas, em São Paulo, o bandeirão dos Estados Unidos, um “presente" dado ao governo Lula, segundo Vieira, seguido da condenação definitiva de Bolsonaro no STF por liderar a trama golpista.
Para Vieira, a segunda semana de setembro foi um divisor de águas. Após os protestos em defesa do Brasil e contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia, realizados no domingo (21), Lula discursou na Assembleia Geral ONU defendendo a soberania brasileira. No mesmo dia, o Senado Federal decidiu arquivar a tramitação da PEC da Blindagem, após ser rejeitada por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça da Casa.
“Essa conjuntura doméstica em paralelo com a internacional, favorável ao governo, aconteceu em julho, com o tarifaço e o IOF e agora com essa movimentação contra resoluções do Congresso e o debate na ONU, com o aceno de Trump à figura de Lula. Isso tudo pavimenta um terreno extremamente favorável para o governo para a eleição de 2026”, analisa.
FATORES DETERMINANTES
A discussão no Congresso de pautas impopulares como a PEC da Blindagem e o PL da Anistia, também são apontadas por Ramirez como determinantes para a alta da aprovação de Lula. “Foram fundamentais para fortalecer a imagem do governo Lula como defensor da manutenção das instituições democráticas e que se volta aos interesses da maioria da sociedade”, afirma.
Ramirez também destaca que o gesto de Trump à Lula na Assembleia Geral da ONU, ainda que motivado por pressões internas dos Estados Unidos, também pesa sobre a imagem do presidente na visão do eleitor brasileiro.
“O enfraquecimento do bolsonarismo por atuar contra o Brasil, e até mesmo o início de inversão das relações hoje muito prejudicadas entre Brasil e Estados Unidos, tende a favorecer a imagem do presidente atual, o Lula”, ressalta o professor da ESPM.
Na visão dos analistas, será necessário atuar em alguns pontos decisivos para Lula não perder fôlego até 2026. Ramirez alerta que os efeitos do tarifaço podem ser decisivos e, se o governo não conseguir reverter a situação, Lula pode acabar visto como um presidente que não conseguiu defender o país.
Vieira também destaca a necessidade de controlar os preços dos alimentos somado à necessidade de avançar em medidas propostas pelo governo, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, para o permanecimento da aprovação do governo Lula, abrindo assim espaço para o cenário de reeleição em 2026.