STF forma maioria para condenar Braga Netto por abolição do estado de Direito com voto de Luiz Fux
Em votação que durou mais de 10 horas, Luiz Fux absolveu Jair Bolsonaro e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier pelo crime
O ministro da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, se posicionou em julgamento, nesta quarta-feira (10), pela condenação do general da reserva e ex-ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, pelo crime de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Com esse voto, já se formou maioria para a condenação do militar nesse ponto.
Fux divergiu em relação a outras acusações contra o general, votando por sua absolvição nos crimes de organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Ainda assim, destacou que Braga Netto teve participação direta em um plano que previa a eliminação do ministro Alexandre de Moraes, relator da própria ação penal.
General da reserva e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, Braga Netto está preso desde dezembro do ano passado, acusado de tentar obstruir investigações sobre a conspiração para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), ele teria participado da formulação do chamado plano Copa 2022, uma operação clandestina conduzida por militares conhecidos como “kids pretos”. O objetivo seria sequestrar e assassinar Moraes, peça central no enfrentamento das articulações golpistas.
Em delação premiada, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, que também figura como réu, afirmou que recebeu de Braga Netto uma sacola de vinho recheada de dinheiro para custear etapas da conspiração. A defesa do general nega as acusações.
"O réu Braga Netto, em unidade com Rafael Martins de Oliveira e Mauro César Barbosa Cid, planejou e financiou o início da execução de atos destinados a ceifar a vida do relator desta ação penal, o ministro Alexandre de Moraes", disse Fux.
No voto desta quarta-feira, Fux avaliou que uma reunião entre Braga Netto, Cid e integrantes dos kids pretos reforça a tese de que o general não apenas aderiu ao plano, mas atuou como financiador de ações voltadas à eliminação de Moraes.
"A morte violenta de um integrante da Suprema Corte seria um episódio traumático para a estabilidade política do país, gerando intensa comoção social e colocando em risco a separação dos poderes", afirmou.
O posicionamento de Fux segue linha semelhante à adotada em relação a Mauro Cid, a quem também atribuiu responsabilidade no crime de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Diferentemente, porém, votou pela absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro e do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, em todas as imputações.
Com isso, tanto Braga Netto quanto Cid já têm maioria de votos para condenação por tentativa de golpe. O julgamento segue aberto e restam ainda os votos das ministras Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, que devem ser proferidos nesta quinta (11). A previsão é que a sentença dos réus seja dada nesta sexta-feira (12).
Na última terça (9), o relator Alexandre de Moraes e o ministro Flávio Dino haviam defendido a condenação de Bolsonaro e de outros sete acusados.
Veja quem são os réus:
Jair Bolsonaro - ex-presidente da República;
Alexandre Ramagem - ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
Almir Garnier - ex-comandante da Marinha;
Anderson Torres - ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal;
Augusto Heleno - ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
Paulo Sérgio Nogueira - ex-ministro da Defesa;
Walter Braga Netto - ex-ministro de Bolsonaro e candidato à vice na chapa de 2022;
Mauro Cid - ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.