Em resposta ao tarifaço dos EUA, Lula reforça papel do Brics
O presidente brasileiro afirmou que o comércio e a integração financeira entre os países do Brics podem reduzir os impactos do protecionismo norte-americano
Durante a Cúpula Virtual do Brics, nesta segunda-feira (8/9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o fortalecimento do bloco como resposta à instabilidade global e às medidas comerciais unilaterais. Ele ressaltou que os cinco países representam 40% do PIB mundial, quase metade da população do planeta, e têm legitimidade para “refundar o sistema multilateral de comércio em bases modernas, flexíveis e voltadas ao desenvolvimento”.
Segundo o presidente, o cenário internacional enfrenta uma profunda crise de governança, com instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC) paralisadas e princípios do livre-comércio — como as cláusulas de Nação Mais Favorecida e de Tratamento Nacional — sendo abandonados. Lula acusou potências de recorrerem à “chantagem tarifária” e a sanções extraterritoriais como instrumentos de pressão política e econômica.
O encontro acontece em meio ao aumento de tarifas dos Estados Unidos sobre produtos do bloco, com o objetivo de discutir respostas conjuntas e fortalecer a cooperação econômica entre os países.
Lula afirmou que o comércio e a integração financeira entre os países do Brics podem ajudar a mitigar os efeitos do protecionismo. Ele destacou o potencial do bloco para promover uma “industrialização verde”, aproveitando a complementaridade entre grandes exportadores e consumidores de energia e a ampla base agrícola, responsável por 42% da produção agropecuária mundial. O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do Brics, foi citado como instrumento estratégico para a diversificação econômica e a transição sustentável.
No campo político, Lula defendeu maior unidade do Brics diante de conflitos internacionais. Sobre a guerra na Ucrânia, elogiou iniciativas de diálogo, como a Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos pela Paz, criado por China e Brasil. Em relação ao Oriente Médio, condenou a decisão de Israel de assumir o controle da Faixa de Gaza e alertou para o risco de anexação da Cisjordânia, classificando como “urgente” o fim das ações militares contra os palestinos. O presidente anunciou ainda que o Brasil passou a integrar a ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça.
Sobre terrorismo, Lula reafirmou que o fenômeno não deve ser confundido com religião, nacionalidade ou questões de segurança pública. Ele também criticou a presença militar dos Estados Unidos no Caribe, classificando-a como um fator de tensão em uma região que se consolidou como zona de paz desde 1968.
Conselho de Segurança
Em um discurso centrado na defesa do multilateralismo, o presidente destacou a necessidade de ampliar o Conselho de Segurança da ONU, incluindo países da América Latina, África e Ásia. Lula alertou ainda para a falta de governança no espaço digital e defendeu a soberania tecnológica como forma de reduzir a vulnerabilidade à manipulação estrangeira.
Na agenda ambiental, o presidente convocou os parceiros do Brics a apoiar a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU. Ele também antecipou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre durante a COP30, em Belém, como forma de remunerar os serviços ambientais prestados pelos países que abrigam biomas estratégicos.
“O Brics já é o novo nome da defesa do multilateralismo”, concluiu Lula, reforçando que o bloco deve se apresentar de forma coesa nas próximas reuniões internacionais, incluindo a Assembleia Geral da ONU, a Conferência Ministerial da OMC e a COP30.
Confira as informações no Correio Braziliense.