"O que a minha filha pode significar de risco?", questiona Padilha após EUA cancelarem visto de sua esposa e filha
A família do ministro foi informada sobre o cancelamento do visto americano por meio de um comunicado do consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo
Após os Estados Unidos cancelarem os vistos da esposa e da filha do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ele questionou qual a ameaça que uma criança pode oferecer ao país norte-americano. “Eu quero que eles me expliquem o que a minha filha de 10 anos de idade pode significar de risco para o governo americano para ela ter seu visto cancelado?”. A indagação em tom de desabafo foi feita durante a visita do ministro ao Pronto-Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco (Procape), no Recife.
Os vistos foram cancelados nesta sexta-feira (15), mas Padilha não foi afetado porque o visto dele para os EUA está vencido desde 2024. Ainda nesta semana, a embaixada norte-americana no Brasil afirmou que o Programa Mais Médicos, criado por Padilha durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, tratava-se de um "golpe diplomático" e que as sanções não vão parar.
Durante a visita ao Procape, o ministro demonstrou preocupação com a filha e disse que terá que explicá-la sobre o cancelamento do visto e que ela terá que lidar com os comentários feitos por colegas na escola.
“Ela vai passar por uma situação difícil, vou ter que explicar para ela hoje e amanhã porque certamente as amiguinhas da escola vão querer perguntar o que que está acontecendo, já tudo está nas redes, mas ela não vai passar por aquilo que eu passei, porque a gente não vive uma ditadura no nosso país. A gente vive uma democracia presidida por um democrata que é o presidente Lula e que respeita a Constituição”, destacou.
Padilha fez referência ao período conturbado em que a família dele viveu durante a ditadura militar. O pai do ministro precisou se exilar por um tempo nos Estados Unidos e não pôde assistir ao nascimento do filho. A mãe de Padilha optou por permanecer no Brasil.
Revogação de vistos
Autoridades brasileiras associadas à implementação do programa Mais Médicos tiveram seus vistos revogados esta semana. Entre os nomes atingidos estão Mozart Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde; e Alberto Kleiman, ex-assessor de Relações Internacionais da pasta e atual coordenador-geral da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).
Em comunicado, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, afirmou que os servidores teriam contribuído para um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano” por meio do programa.
A medida integra um conjunto de ações recentes do governo Donald Trump contra o Brasil, que inclui a imposição de tarifas sobre produtos nacionais, sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e a revogação de vistos de outros magistrados e autoridades.
Os Estados Unidos mantêm, há mais de seis décadas, um bloqueio econômico contra Cuba com o objetivo declarado de pressionar por mudanças no regime político instaurado após a Revolução de 1959. A exportação de médicos é uma das principais fontes de receita do governo cubano, que, desde a década de 1960, enviou mais de 605 mil profissionais da saúde para 165 países, segundo dados do Ministério da Saúde de Cuba. Na lista de nações que já receberam médicos da ilha estão Portugal, Ucrânia, Rússia, Espanha, Argélia e Chile.
Mais Médicos
O Brasil aderiu ao programa cubano em 2013, durante o governo de Dilma Rousseff, que o reformulou e ampliou com prioridade para profissionais brasileiros e abertura para outras áreas da saúde, como odontologia, enfermagem e assistência social.
No governo de Jair Bolsonaro, o projeto foi rebatizado como Médicos pelo Brasil e o acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) foi encerrado.