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Entenda o caos da campanha de 'Emilia Pérez' rumo ao Oscar

Polêmicas envolvendo a atriz principal Karla Sofia Gascón transformaram filme outrora favorito em um campo minado

Por André Guerra

Nenhum filme da atual temporada de prêmios vive uma trajetória tão desgovernada quanto Emilia Pérez. O longa, que entra em cartaz amanhã no Recife, foi uma das sensações do Festival de Cannes 2024, sucesso de público em Toronto, ganhador do Globo de Ouro de Melhor Filme — Comédia/Musical e líder de indicações ao Oscar (13 ao todo), mas enfrenta fortes controvérsias, culminando no caso explosivo envolvendo a atriz principal, Karla Sofia Gascón.
 
Dirigido e escrito pelo francês Jacques Audiard (vencedor da Palma de Ouro por Dheepan: O Refúgio), a obra musical gira em torno da advogada Rita (Zoe Saldaña), contratada por um chefe do narcotráfico para auxiliá-lo na redesignação de gênero e nos trâmites da sua morte forjada. Agora, sob a identidade de Emilia Pérez (Karla Sofia), a personagem tenta apagar o passado, mas a sua vontade de reaver os filhos tem um alto custo, que envolve a sua antiga esposa (Selena Gomez).
Apesar de consagrado pelos membros da indústria, o filme já enfrenta polêmicas há meses por conta da representação estereotipada do México e da falta de atrizes mexicanas no elenco central. Audiard foi criticado pela apropriação da cultura latino-americana e também da pauta trans, dado o discurso binário, simplista e punitivista com que Emilia Pérez lida com a protagonista. O uso das músicas tem sido alvo de cortes virais nas redes sociais, destacando letras e melodias mal-elaboradas e a falta de coesão entre o musical e os temas da narrativa.

Nada parecia afetar a produção, que chegou como favorito ao Oscar de Filme Internacional e recordista de indicações para um longa de língua não-inglesa. Até que a campanha trouxe Karla Sofia Gascón e Jacques Audiard para promover Emilia Pérez no Brasil. Com o clima de animosidade já instalado, graças à concorrência com Ainda Estou Aqui, a espanhola (primeira atriz trans nomeada ao Oscar) acusou pessoas próximas a Fernanda Torres de organizarem ataque sistemático a seu filme — e aí a coisa toda degringolou.
A fala gerou debates sobre ter ou não quebrado regras da Academia, mas rapidamente a controvérsia de Karla se multiplicou quando foram resgatadas postagens suas com conteúdo racista e xenobóbico, com ironias sobre povos mulçumanos na Espanha, desdém sobre o caso do assassinato de George Floyd e críticas à representatividade no Oscar.
 
Na tentativa de se defender, a atriz concedeu entrevistas por conta própria afirmando existir uma campanha de silenciamento contra ela, mas suas justificativas pioraram o clima, outrora festivo, em volta de Emilia Pérez. A campanha entrou em colapso, excluindo Karla da divulgação e tentando salvar a reputação do filme em algumas categorias, mas o estrago, aparentemente, já está feito. O antes mais badalado filme da temporada virou um campo minado.
 
Emilia Pérez concorre ao Oscar nas seguintes categorias: Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Atriz, Atriz Coadjuvante, Fotografia, Montagem, Maquiagem, Canção Original (2x), Trilha Sonora, Som e Filme Internacional.