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Plano pós-guerra dos EUA para Gaza prevê controle por 10 anos e deslocar a população

O projeto dos EUA conta com uma deslocação "voluntária" dos cerca de dois milhões de residentes em Gaza para outros países ou zonas seguras dentro do enclave

Por Isabel Alvarez

Palestinos caminham por uma rua perto de prédios danificados pela guerra na Cidade de Gaza, em 8 de agosto de 2025. O exército israelense "tomará o controle" da Cidade de Gaza, segundo um plano proposto pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e aprovado por seu gabinete de segurança, o que desencadeou uma onda de críticas em todo o mundo. (Foto de Bashar TALEB / AFP)

O plano pós-guerra dos Estados Unidos para a Faixa de Gaza, revelado no domingo pelo jornal The Washington Post, que teve acesso ao documento de 38 páginas, prevê a deslocação de toda a população do território palestino, que ficaria sob administração norte-americana durante dez anos para ser transformado num polo turístico e tecnológico.

O projeto dos EUA conta com uma deslocação "voluntária" dos cerca de dois milhões de residentes em Gaza para outros países ou zonas seguras dentro do enclave, que se concordarem receberão 5 mil dólares, além de ajuda para pagar quatro anos de renda e um ano de alimentação. Por uma década, o território ficaria sob a administração de uma entidade chamada Fundo para a Reconstituição, Aceleração Econômica e Transformação de Gaza, ou Great Trust, e posteriormente ficaria sob a autoridade de uma entidade palestina reformada e desradicalizada, avançou a mídia.

Os proprietários de terrenos também receberiam ‘tokens digitais’ para usar no financiamento de uma nova vida em outra região ou trocar por um apartamento numa das seis a oito novas cidades inteligentes com tecnologia de IA (Inteligência Artificial) que constam no planejamento e serão construídas em Gaza.

O Departamento de Estado norte-americano não se manifestou até o momento sobre as informações divulgadas pelo jornal. A notícia foi publicada poucos dias após uma reunião na Casa Branca, que segundo Steve Witkoff, o enviado especial do presidente Donald Trump, estava a examinar um plano muito abrangente para o período pós-guerra em Gaza.

Este plano foi rejeitado pelos países árabes e ocidentais, assim como pelas Nações Unidas.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apoiou um plano anunciado em fevereiro por Trump, que propunha assumir o controle de Gaza e transformá-la na "Riviera do Oriente Médio", reiterando que a população do território poderia se mudar para outro lugar.

Por sua vez, o representante político do grupo Hamas, Bassem Naim, disse hoje que Gaza "não está à venda" e que o território é parte integrante da grande pátria Palestina. Naim ressaltou a rejeição do Hamas e do povo palestino ao plano.

Enquanto isso, os países islâmicos e árabes instaram a Casa Banca a reconsiderar a sua decisão de negar ou revogar os vistos dos diplomatas palestinos que pretendem participar da próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, no final de setembro, que terá inclusive o conflito em Gaza como um dos principais focos da reunião.

O Comitê Ministerial Árabe Islâmico para Gaza, que representa mais de 50 países, expressou em um comunicado seu profundo pesar pela decisão do Departamento de Estado dos EUA e exortou a reconsiderar e revogar a mesma. Washington anunciou na última sexta-feira que negarão e revogarão os vistos dos diplomatas palestinos, excluindo a possibilidade de irem a Assembleia Geral da ONU.