Chanceler russo desvaloriza negociações diretas com a Ucrânia
Lavrov também afirmou que qualquer discussão sobre as garantias de segurança ocidentais que possam ser oferecidas à Kiev sem considerar a posição de Moscou será inválida
O Kremlin desvalorizou as especulações sobre um encontro iminente entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o ucraniano, Volodymyr Zelensky, uma vez que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, se esquivou desse compromisso ainda vago. “Qualquer reunião teria de ser preparada com o máximo rigor e não podem ser procurados em nome de cobertura midiática ou transmissões noturnas. Começando pelo nível dos especialistas e, posteriormente, passando por todas as etapas necessárias", disse o chanceler russo.
Apesar de Putin ter dito ao líder norte-americano, Donald Trump, que estava aberto à ideia de conversações diretas com a Ucrânia e ter chegado a sugerir uma reunião em Moscou, algo que presumivelmente Zelensky nunca aceitaria, de modo que a proposta pode ter sido uma estratégia de apresentar uma opção improvável de Kiev concordar.
Lavrov também afirmou que qualquer discussão sobre as garantias de segurança ocidentais que possam ser oferecidas à Kiev sem considerar a posição de Moscou será inválida. “O Ocidente compreende perfeitamente que discutir seriamente garantias de segurança sem a Rússia é utópico, é um caminho que não leva a lado nenhum. Não podemos aceitar que as questões de segurança coletiva sejam agora abordadas sem a Rússia”, reforçou o chefe da diplomacia russa.
No entanto, os chefes militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) deverão realizar uma reunião virtual ainda hoje, enquanto o chefe militar do Reino Unido viaja a Washington para discutir o futuro envio de uma força de segurança na Ucrânia.
Já o representante adjunto da Rússia nas Nações Unidas, Dmitry Polyanskiy, citou que ninguém tinha rejeitado a oportunidade de conversações diretas, mas não deveria ser uma reunião por si só.
Enquanto isso, Trump renovou a pressão para que os dois líderes se encontrem para discutir o fim da guerra e que deveriam avançar diretamente para um acordo de paz permanente, após ter se reunido com Putin no Alasca na semana passada e recebido ainda líderes europeus e Zelensky na Casa Branca na segunda-feira. "Vamos descobrir mais sobre o presidente Putin nas próximas semanas. É possível que ele não queira fechar um acordo. Putin enfrentaria uma situação difícil se for esse o caso”, acrescentou, sem especificar detalhes.
Mas, o presidente dos EUA também disse que está disponível para participar da reunião se for necessário.
Por sua vez, os líderes europeus e Zelensky manifestaram estarem a favor da ideia de um encontro bilateral e negociações diretas, e o presidente ucraniano mencionou que estava aberto a qualquer formato de encontro com Putin, enquanto os europeus defendem um local neutro para a cúpula, como, a Suíça. Além disso, Zelensky e os dirigentes europeus afirmam que os compromissos de segurança seriam fundamentais para a soberania de Kiev em caso de acordo de paz.
Estão planejadas mais conversações de alto nível para os próximos dias sobre a questão e qual será o real apoio de Trump à Europa. Para Trump, os EUA podem fornecer somente ajuda aérea em caso de cessar-fogo ou acordo de paz, embora tenha descartado o envio de tropas terrestres norte-americanas. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou que o apoio aéreo dos EUA era uma opção e uma possibilidade, mas não avançou com mais pormenores.
"O presidente declarou definitivamente que os EUA não estarão em solo ucraniano, mas podemos certamente ajudar na coordenação e talvez fornecer outros meios de garantia de segurança aos nossos aliados europeus", anunciou Leavitt.
A Coligação dos dispostos, liderada pela França e pelo Reino Unido, assegurou que trabalha para consolidar os planos para uma força de segurança que poderá ser enviada para a Ucrânia caso as hostilidades terminem. “O grupo se reunirá com as autoridades americanas nos próximos dias para reforçar ainda mais os planos para fornecer garantias de segurança robustas", disse um porta-voz do governo britânico.
Em contrapartida, em meio às tentativas de acordo, a Rússia lançou hoje um ataque em grande escala contra a Ucrânia. Os drones atingiram a região de Sumy e fizeram cerca de 15 feridos, inclusive crianças. Ofensivas russas ainda atingiram um posto de distribuição de gás em Odessa, no sul do país, e danificaram cinco prédios de apartamentos em Kostiantynivka, na região de Donetsk.
"Os bombardeios também atingiram as regiões de Chernihiv, Kharkiv e Poltava. No total, foram utilizados mais de 60 drones e um míssil balístico”, relatou Zelensky na rede social. O presidente da Ucrânia enfatizou que ataques como estes mostram e confirmam a necessidade de pressionar Moscou, impondo novas sanções e tarifas até que a diplomacia seja totalmente eficaz.