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EUA sancionam Petro, que responde: 'Nem um passo atrás'

A decisão ocorreu no mesmo dia em que os Estados Unidos anunciaram o envio de um porta-aviões para "combater o narcoterrorismo" na América Latina

Por AFP

Presidente da Colômbia, Gustavo Petro

Os Estados Unidos anunciaram nesta sexta-feira (24) sanções financeiras contra o presidente colombiano, Gustavo Petro, por não combater o narcotráfico, e receberam uma forte resposta do mandatário, que prometeu que não dará "nem um passo atrás".

O Departamento do Tesouro americano também impôs sanções contra a esposa do presidente de esquerda e um de seus filhos, assim como contra o ministro do Interior, Armando Benedetti, seu braço direito.

Foi uma medida incomum. A lista de sanções dos Estados Unidos geralmente é reservada a chefes do narcotráfico, terroristas e ditadores envolvidos em graves abusos contra os direitos humanos.

A decisão ocorreu no mesmo dia em que os Estados Unidos anunciaram o envio de um porta-aviões e de sua frota de apoio para se somar à ofensiva militar que já atua desde agosto para "combater o narcoterrorismo" na América Latina.

É a primeira vez que um presidente da Colômbia — o país que mais produz cocaína no mundo — recebe uma sanção desse tipo.

"O presidente Petro permitiu que os cartéis de drogas prosperassem e se recusou a deter essa atividade", disse o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, em um comunicado.

Trump "está tomando medidas firmes para proteger" os Estados Unidos, acrescentou.

Petro reagiu imediatamente no X com palavras duras: "Lutar contra o narcotráfico durante décadas e com eficácia me traz esta medida do governo da sociedade que tanto ajudamos a conter seus consumos de cocaína."

"Uma verdadeira ironia, mas nem um passo atrás e jamais de joelhos", acrescentou.

Petro sustenta que os assessores de Trump são próximos de narcotraficantes e afirma que os chefes do tráfico da cocaína vivem confortavelmente em cidades dos Estados Unidos, como Miami.

O mandatário colombiano também rejeita os ataques de Washington contra supostas lanchas narcotraficantes no Caribe e no Pacífico, que até o momento deixaram pelo menos 43 mortos, segundo ele, em "execuções extrajudiciais".


"Gringos, vão para casa"

As medidas, publicadas pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac, na sigla em inglês), implicam o bloqueio de qualquer propriedade que os sancionados possuam nos Estados Unidos e proíbem que realizem transações internacionais com meios de pagamento desse país.

Sem apresentar provas, Trump acusou Petro de ser um "líder do narcotráfico" e anunciou o fim da ajuda econômica à Colômbia, em represália ao alto nível de produção de drogas no país sul-americano.

Convocados por Petro há dias, centenas de manifesantes se reuniram nesta sexta-feira em Bogotá para protestar contra as sanções com mensagens como "Trump respeite a Colômbia".

As sanções também envolvem a esposa do presidente, Verónica Alcocer, e seu filho mais velho, Nicolás Petro, que está sendo julgado por supostamente ter recebido cerca de 100 mil dólares para a campanha de seu pai em 2022 de um ex-narcotraficante condenado anteriormente à prisão nos Estados Unidos.

O primogênito do presidente afirma que o dinheiro não chegou às finanças da campanha.

Também foi sancionado Benedetti, o funcionário mais próximo de Petro e um de seus maiores aliados durante a corrida presidencial.

Benedetti, ex-embaixador na Venezuela e junto à FAO em Roma, referiu-se aos Estados Unidos como um "império" "injusto", cuja luta antidrogas é "uma farsa armamentista".

"Para os Estados Unidos, uma manifestação não violenta é o mesmo que ser narcotraficante. Gringos, vão para casa", acrescentou o ministro do Interior.


Campanha de difamação

Em sua juventude, Petro pertenceu à guerrilha urbana M-19, que depôs as armas em um processo de paz em 1990.

Em seu comunicado, o Departamento do Tesouro lembrou o passado de Petro como rebelde e garantiu que ele se "aliou" ao "regime narcoterrorista" do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Também acusou o presidente esquerdista de ter dado "benefícios" a organizações criminosas na Colômbia com sua política de negociar para alcançar a paz.

O embaixador da Colômbia em Washington, Daniel García-Peña, afirmou em entrevista à AFP nesta semana que há uma "grande distância" entre Petro e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, um conhecido inimigo da esquerda na América Latina.

Para o presidente colombiano, senadores republicanos próximos da direita colombiana, como Bernie Moreno, estão por trás de uma estratégia de difamação contra a Colômbia.

"De fato, a ameaça de Bernie Moreno se cumpriu", acrescentou Petro em sua resposta às sanções.