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Beto Lago: 'Orçamentos mais baixos colocam pressão nos treinadores do Trio de Ferro'

A folha salarial dos três técnicos para temporada de 2026 deve ser semelhante

Por Beto Lago

Roger, Hélio dos Anjos e Marcelo Cabo, técnicos do Trio de Ferro para temporada de 2026

Na pressão
A duas rodadas do início da temporada 2026, o futebol pernambucano vive um cenário raro e nada confortável. Pela primeira vez em muitos anos, Sport, Náutico e Santa Cruz se aproximam financeiramente, não por crescimento, mas por queda. Um “equilíbrio por baixo”, resultado direto do rebaixamento do Sport, da sua crise institucional e financeira, e dos acessos de Náutico (Série B) e Santa Cruz (Série C). As folhas salariais dos três clubes tendem a orbitar valores semelhantes. E isso muda tudo, sobretudo para quem estará à beira do campo. No Sport, a chegada de Roger Silva expõe o limite da reconstrução. A rejeição ou decepção de parte da torcida é compreensível, mas a nova diretoria não tem margem para errar ou apostar alto. Depois de um 2025 catastrófico dentro e fora de campo, qualquer movimento de risco seria irresponsável. Roger carrega identificação com o clube, conhece o DNA rubro-negro – foi campeão da Copa do Brasil em 2008 –, mas isso não entra em campo. Com uma folha em cerca de R$ 3,5 milhões, o treinador terá de fazer escolhas duras: cortar nomes caros, reaproveitar peças desacreditadas e extrair competitividade de um elenco que fracassou coletivamente. Sua maior missão não será tática, mas psicológica: reconstruir um time e, principalmente, reconquistar uma torcida impaciente e cansada.

Quando o acesso vira obrigação
No Náutico, o discurso é outro e a cobrança, maior. Com folha inicial na casa dos R$ 2,5 milhões, o clube manteve Hélio dos Anjos e promoveu Guilherme ao comando técnico. O acesso passou pela leitura da dupla, que soube controlar o vestiário e explorar o momento certo para crescer na competição. Mas 2026 traz um peso adicional: sem Copa do Brasil e Nordestão, o Timbu terá menos jogos, menos desgaste e menos desculpas. O elenco pode ser mais modesto do que os concorrentes da Série B, mas a exigência é clara: brigar pelo Estadual e, no mínimo, disputar o acesso à Série A. Qualquer coisa abaixo disso soará como fracasso.

O eterno risco fora de campo
O Santa Cruz também aposta na continuidade. A permanência de Marcelo Cabo foi desejo da diretoria e dos investidores, e os jogos-treinos são trunfos importantes para iniciar o Estadual com a base mais sólida. Mas o velho problema persiste: sem a SAF no controle, o clube precisa apagar incêndios financeiros, com salários atrasados. Segurar a folha em torno de R$ 2 milhões será um exercício diário de sobrevivência. A Copa do Brasil surge como esperança real de oxigênio financeiro e não apenas esportivo. Avançar de fases deixou de ser ambição; virou necessidade.

Sem ilusão, sem estrela
O recado é cristalino: não haverá salvadores da pátria em 2026. Nada de contratações bombásticas ou nomes que inflacionam expectativa e folha salarial. Sport, Náutico e Santa Cruz operam no limite, em modo de reconstrução, estancando sangrias antes de pensar em voos maiores. O sucesso não virá do brilho individual, mas da montagem inteligente do grupo, da coerência interna e, sobretudo, da capacidade dos treinadores de suportar a pressão. Porque, neste novo futebol pernambucano, errar custa caro e repetir erros pode ser fatal.