Beto Lago: 'Organização custa menos que improviso e rende mais'
Flamengo e Palmeiras conquistaram mais de R$300 milhões cada, em premiações na temporada
Exceção
Os dois melhores clubes do Brasileirão terminaram 2025 com cifras que explicam parte do domínio dentro de campo. Flamengo e Palmeiras, donos de estruturas pesadas, aparecem também no topo das premiações: R$ 342,3 milhões para o campeão rubro-negro e R$ 311,9 milhões para o alviverde. E o clube carioca ainda disputa o Mundial Intercontinental. Ou seja, mais grana. Nada surpreendente. As receitas são turbinadas por calendário longo, elencos robustos e torneios milionários. O Fluminense arrecadou impressionantes R$ 362,6 milhões, reflexo da participação no Mundial de Clubes e que deve crescer, já que disputa as semifinais da Copa do Brasil. Quem joga mais finais, ganha mais. Quem ganha mais, reforça o ciclo. Mas 2025 ofereceu um ponto fora dessa curva quase determinística: o Mirassol. Dono da segunda menor folha salarial da Série A – R$ 5 milhões mensais, dois milhões a mais que o Juventude – o clube atropelou a lógica financeira. Sem estádio moderno, sem verbas exuberantes, sem estrelas de vitrine. E mesmo assim estará na fase de grupos da Libertadores de 2026. Dentro de campo, não houve milagre: houve execução. Um time maduro, competitivo, que encarou os gigantes no seu acanhado estádio e longe dele com a mesma compostura. O mérito não está apenas na bola rolando. A gestão do Mirassol talvez seja o capítulo mais interessante. Planejamento, escala de gastos controlada, modelo de jogo coerente com o orçamento, e ausência dos devaneios que normalmente destroem projetos médios no Brasil. A lição é antiga, mas raramente é aplicada: organização custa menos que improviso e rende mais.
Evitar a ambição
Resta saber se o conto de organização sobreviverá ao beijo da vaidade. A história recente está repleta de clubes que, ao primeiro lampejo de grandeza, desfiguraram o próprio DNA: aumentaram folha, tentaram “dar o próximo passo” antes de consolidar o atual e acabaram derretendo. A tentação da ambição desmedida costuma ser fatal.
Cuidado na caminhada
O desafio do Mirassol, agora, não é a Libertadores. É a armadilha do próprio sucesso. A prioridade deveria ser óbvia: manter o conjunto, proteger o fluxo financeiro, resistir a apostas fora da realidade. Continuar crescendo, mas por degraus, não por saltos no escuro. Se o clube souber sustentar essa lógica, deixa de ser exceção e vira referência. Se não, será mais um caso de ascensão meteórica seguida de queda abrupta. No futebol brasileiro, os dois caminhos são bem conhecidos e a distância entre eles é perigosamente curta.
Faltou planejamento
O Goiás dá um exemplo cristalino de como não gerenciar um departamento de futebol. Em 2026, o clube vai carregar uma folha especial que paga quatro técnicos — Jair Ventura, Vagner Mancini, Fábio Carille e, agora, Daniel Paulista. É a conta salgada de quem demite por impulso e contrata por desespero. O futebol pune esse tipo de improviso, e o Goiás entra na próxima temporada gastando mais com erros do que com acertos. Sem critério, não há projeto. E sem projeto, só sobra a conta.