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Beto Lago: "Na hora de contratar os jogadores, missão principal é do treinador"

"O futebol virou um laboratório de planilhas, onde dirigentes sem conhecimento técnico e analistas que nunca chutaram uma bola ditam os rumos do elenco"

Por Beto Lago

Enrico Ambrogini, diretor geral de futebol do Sport

Poder de decisão
Nos tempos em que o futebol era comandado por aqueles que sentiam o cheiro da grama e entendiam a alma do vestiário, as contratações eram uma extensão da ideia de jogo. O treinador dizia o que precisava, e o clube buscava dentro da realidade. Hoje, em boa parte dos clubes brasileiros, essa lógica se perdeu. O futebol virou um laboratório de planilhas, onde dirigentes sem conhecimento técnico e analistas que nunca chutaram uma bola ditam os rumos do elenco. O resultado está aí: elencos desequilibrados, contratações em massa e demissões em série. A cada nova temporada, dezenas de jogadores chegam e saem, sem jamais terem feito sentido dentro de um projeto esportivo. São apostas frias, baseadas em números e softwares, e não na leitura humana que o jogo exige. Futebol é alma, é contexto, é momento. E quem entende isso é o treinador. Não se trata de desprezar a análise de dados. Ela é uma ferramenta valiosa, desde que complemente a visão de campo, e não a substitua. O problema é quando o analista se torna o "homem forte" do futebol, e o técnico, um mero executor de planilhas. Quando o scout dita a pauta, o vestiário perde comando e o time perde identidade. Já vimos clubes que montaram departamentos de “inteligência” cheios de laptops, mas sem inteligência emocional. Jogadores contratados por percentual de acerto de passes, mas incapazes de decidir um jogo grande. Os treinadores são obrigados a moldar sistemas táticos em cima de peças que não pediram. A incoerência é tamanha que, muitas vezes, o técnico cai antes mesmo de conhecer os reforços que recebeu. É por isso que o comando técnico precisa recuperar o poder de decidir.

O jogo é humano
O treinador deve ser o centro do projeto esportivo. Não é o presidente, nem o diretor, nem o analista. O clube pode e deve impor limites orçamentários, mas nunca elenco. Enquanto o futebol continuar sendo tratado como um jogo de Excel, o campo continuará cobrando caro. Porque planilha nenhuma entende o peso de uma torcida, a força de um vestiário ou o temperamento de um craque. O jogo é humano. E quem entende de gente é o treinador.

A viagem do diretor
A ida de Enrico Ambrogini ao Catar para “acompanhar de perto” o volante Zé Lucas, destaque da Seleção Brasileira no Mundial Sub-17, confirma duas realidades. Que o diretor, mesmo após um ano desastroso em campo e nos bastidores, deve ser mantido em 2026. E que a esperança financeira do Sport repousa inteiramente nas costas do garoto. A diretoria aposta que a venda de Zé Lucas, avaliada em torno de US$ 15 milhões, seja o respiro que equilibre o balanço.

O melhor gestor do futebol pernambucano
Acerta o Santa Cruz ao renovar o contrato de Pedro Henriques como CEO para 2026. Em meio ao caos generalizado, Pedro é uma exceção: um gestor que trouxe método, credibilidade e resultados a um clube que, até pouco tempo atrás, lutava pela própria sobrevivência. Sua atuação na transição para a SAF e na reorganização administrativa do Arruda mostra algo simples, mas revolucionário por aqui: planejamento e coerência.