Beto Lago: 'Faltam ações para que os ídolos da bola possam vivenciar mais o dia a dia dos nossos clubes'
Os craques do futebol brasileiro encerram suas carreiras sem ao menos receber uma despedida digna
Ídolos
No futebol brasileiro, ser ídolo vai muito além de marcar gols ou levantar taças. O ídolo é quem encarna a identidade de um clube, traduz em gestos e suor o sentimento da arquibancada. Ele é lembrado em vitórias históricas, em clássicos decididos na raça, em títulos improváveis e até em derrotas que mostraram dignidade. Ídolo é herança. Passa de pai para filho, de avô para neto. É o elo que transforma um simples clube em uma instituição viva. Mas se a torcida preserva essa memória, os clubes, em sua maioria, não tiveram o mesmo zelo. A história recente mostra que o futebol brasileiro tratou seus ídolos com descaso. Quantos craques não encerraram a carreira praticamente esquecidos, sem sequer uma despedida digna? Quantos não foram reaproveitados como embaixadores, gestores, técnicos de base, consultores? Enquanto a Europa cria cargos simbólicos e estratégicos para seus ídolos – Maldini no Milan, Zidane no Real Madrid, Giggs no Manchester United –, aqui preferimos relegá-los ao esquecimento.
O que poderia ser investimento em imagem e identidade, acaba visto como gasto ou risco. A grande contradição é que o torcedor nunca esquece. É ele quem perpetua os ídolos em cantos, bandeiras e memórias. O dirigente passa, mas o ídolo fica. E talvez esteja aí a resposta: se os clubes brasileiros não aprenderem a tratar seus ídolos como parte de um patrimônio institucional, seguirão reféns de gestões imediatistas e desconectadas da própria história. Ídolo não é estatística, não é lembrança distante. Ídolo é a alma de um clube. E quem despreza sua alma corre o risco de perder também sua identidade.
Maior contato com o torcedor
Ao conversar com ídolos como Birigui, percebo uma mistura de sentimentos, predominantemente de frustração pelo esquecimento que enfrentam. Quando recebem um gesto simples de reconhecimento e são levados de volta ao convívio com a torcida, a felicidade é visível em seus rostos. Esse retorno simbólico é essencial para a valorização do legado que cada um deles representa.
Interesse político ou pessoal
A falta de ação efetiva por parte dos dirigentes é um dos principais obstáculos nessa relação. Historicamente, clubes foram administrados por líderes mais preocupados em atender a interesses políticos ou pessoais, do que em preservar a memória e o patrimônio humano que seus ídolos representam. Nesse contexto, ídolos foram vistos como ativos estratégicos. Além disso, existe um certo “ciúme político” entre presidentes, que muitas vezes evitam dar destaque a ex-jogadores, temendo que possam se tornar concorrentes.
Preparar um novo profissional
Muitos ídolos não encontraram espaço fora dos gramados, até por não ter uma formação técnica (para ser dirigente, treinador, executivo). Aqui, o clube poderia ter oferecido essa estrutura, até para que possa aproveitar esse profissional no futuro. Mas também existem outros que vão buscar um cargo diretivo e enfrentam problemas: ao não dar certo, chegam a ser descartados ou alvo de críticas da própria torcida.