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O quartel general do Botafogo

Por Vladimir Souza Carvalho

SPORT X BOTAFOGO

O único time de futebol com Quartel General próprio em Itabaiana era o Botafogo. Quartel General, aliás, que existiu enquanto a bodega de Chico bateria funcionou à Rua do Sol, esquina com a Rua das Flores. Lá, era o dono atendendo a freguesia da redondeza e o seu prosear com Zé Pinto se desenrolava. Não se conhece outro torcedor do Botafogo que participasse das importantes confabulações entre os dois, no contraste entre um, que falava baixo, e outro, que, praticamente discursava, sem abrir mão do charuto. Importantes decisões devem ter tomado, porque as reuniões se concretizavam diariamente. As demais torcidas, sempre pelos times cariocas, não apresentavam a mesma e severa disciplina dos dois ilustres torcedores, tão solitários como a Estrela do seu glorioso time, ali, confabulando e assumindo posições, sempre em prol de sua bandeira, indiferentes aos fregueses que apenas ouviam e ouviam.

A permanente conversa entre Zé Pinto e Chico bateria, sobre as vitórias e os percalços do Botafogo, exerceram influência na escolha que Bosco fez em nível de time para torcer. Nada de Flamengo, Vasco e Fluminense. Botafogo no duro e na batata, a ponto de, em determinada e passageira época, ter sido apelidado de Zolo [ou Zoulo] Rabelo, porque não era um torcedor isolado, único entre tantos torcedores de outras equipes. Daí fazer jus ao apelido do técnico, quando, nos idos de cinqüenta e inicio de sessenta, alguns apelidos, extraídos do mundo futebolístico, eram apenas de atletas, como Sabará, Pompéia. Bosco foi o caso único na história.

A semente plantada por Chico bateria floresceu. De Bosco, talvez o único influenciado pelas conversas de Zé Pinto com Chico bateria, surgiu uma ruma de botafoguenses em nível familiar. Em casa, o filho, Jivago; entre os cunhados, absolutamente todos se fizeram torcedores do Botafogo, a ponto de já terem se deslocado ao Rio só para assistir a seus jogos, acrescentando a honra de pousar com velhos ídolos, como Jairzinho. Não sei se entre os filhos de Chico bateria a devoção prossegue. Se deles não saiu um só torcedor do Botafogo, para servir de remédio, acho que o pai, em sua sepultura, estará sempre inquieto. Imagino um torcedor do Botafogo, além de morto, irritado! Se tiver torcedor, não vai existir morto mais feliz. Tenho certeza.


Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras