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Porto de Galinhas não pode virar território sem lei

O episódio recente de violência envolvendo turistas em Porto de Galinhas não é apenas um fato isolado, é um sinal de alerta grave para o turismo de Pernambuco

Por Sergio Aroucha

Porto de Galinhas, em Ipojuca

O episódio recente de violência envolvendo turistas em Porto de Galinhas não é apenas um fato isolado, é um sinal de alerta grave para o turismo de Pernambuco. O que deveria ser um cartão-postal do Brasil transformou-se em palco de agressões, desordem e medo.


Quando visitantes são atacados em plena orla, em área turística, o problema deixa de ser pontual e passa a ser estrutural. Não se trata apenas de um conflito comercial, mas de uma falha clara de ordenamento público.


O Estado precisa compreender que turismo exige planejamento, presença e autoridade. Porto de Galinhas é uma vitrine internacional.


Tudo o que acontece ali repercute no Brasil inteiro. Cada vídeo de violência afasta famílias, excursões, escolas, grupos de terceira idade e eventos corporativos.


Isso significa menos empregos, menos arrecadação e menos desenvolvimento. O mais grave é que os turistas mato-grossenses só não sofreram consequências ainda mais trágicas porque salva-vidas que atuam na praia deixaram suas funções para socorrê-los, mesmo diante de ameaças de morte.


Foram esses profissionais que garantiram a retirada das vítimas do local e impediram que o pior acontecesse. A pergunta que ecoa é inevitável: onde estava a Polícia Militar? Onde estava a Guarda Municipal? Nos últimos meses, têm crescido relatos e denúncias sobre a presença de facções criminosas atuando no município de


Ipojuca, inclusive com referências ao Comando Vermelho. Essas informações circulam em boletins policiais, redes sociais e relatos de moradores e comerciantes. O mais grave é a sensação de que as autoridades vêm tratando o problema com silêncio e pouca presença efetiva. Onde o poder público se omite, o crime ocupa.


A ausência de policiamento fixo, de fiscalização municipal e de regras claras abre espaço para abusos. Sem tabela de preços, sem alvarás rigorosos e sem fiscalização contínua, a orla vira ambiente de conflito.
O turista passa a ser visto como oportunidade de lucro imediato, não como parceiro da economia local. E onde falta regra, sobra violência. É preciso restabelecer o ordenamento da orla com urgência. Implantar tabela pública de preços. Padronizar barracas. Exigir treinamento obrigatório dos permissionários. Manter guarda municipal fixa na praia. Instalar bases móveis da Polícia Militar. Criar canais rápidos de denúncia. Turismo não se constrói com improviso. Constrói-se com gestão. Com presença do poder público. Com regras claras. Com fiscalização diária. Pernambuco não pode permitir que seu principal destino turístico seja associado à insegurança.


Porto de Galinhas precisa voltar a ser símbolo de acolhimento, não de medo. O turista precisa sair com saudade, não com trauma. O silêncio das autoridades custa caro. Custa empregos. Custa credibilidade. Custa futuro. Este é o momento de agir. Antes que mais um vídeo vire manchete nacional. Antes que mais uma família desista de conhecer Pernambuco.


Antes que o turismo pague novamente a conta da omissão. Porque turismo não é detalhe. É política pública. É economia. É dignidade.

Sérgio Aroucha Administrador de empresas, ex - Presidente da Astur-PE (Associação dos Secretários de Turismo de PE)