Termópilas e o Monte das Tabocas: a essência do épico
Um casal de médicos pernambucanos, meus caros amigos Neyton e Patrícia Santana, em visita à Grécia há poucos dias, ambos interessados na milenar cultura grega
Um casal de médicos pernambucanos, meus caros amigos Neyton e Patrícia Santana, em visita à Grécia há poucos dias, ambos interessados na milenar cultura grega, sabendo da minha estima e dos escritos em que faço analogias entre textos clássicos da Grécia Antiga e autores dos nossos dias, trouxeram-me como lembrança uma pequena pedra do sítio sagrado de Termópilas.
“Meu desejo, ao visitar a Grécia”, disse-me Patrícia, “foi conhecer menos a Grécia instagramável e mais a Grécia berço da cultura ocidental. Elegemos como um dos locais a serem visitados Termópilas, pois foi ali que se deu a história de um rei destemido que, ao lado de seus melhores soldados, deu a própria vida para refrear um exército inimigo que vinha não para preservar, mas para destruir. Hoje, o local é pouco valorizado. A estátua de Leônidas, o herói que despertou o sentimento de nação entre os gregos, está em meio a uma autoestrada. Mas o seu grito corajoso ecoa.”
O ato de Termópilas, embora tenha sido uma derrota tática, foi uma vitória moral. A lição de atualidade resultante da Batalha de Termópilas, ocorrida em 480 a.C. — da qual nos fala a médica pernambucana — é de uma grandeza incomensurável, exemplar e profundamente atual. Ela reside na disposição de arriscar a vida e a liberdade para confrontar um poder profundamente enraizado, corrupto e brutal.
Esse episódio tornou-se um dos exemplos mais celebrados de heroísmo e sacrifício militar, segundo seus historiadores, a partir do maior de todos: Heródoto, cuja obra ilumina a guerra que durou apenas três dias. A batalha fez parte das Guerras Greco-Persas e ficou famosa pela atuação de um pequeno contingente de gregos que enfrentou o vasto exército persa: 300 heróis contra mais de 7.000 invasores fortemente armados.
A dra. Patrícia fala-me da atualidade simbólica dessa guerra. Termópilas transformou-se em símbolo mítico de resistência desesperada, remetendo à ideia de uma luta final e incansável contra um poder avassalador.
Em minha casa, guardo com carinho uma pequena pedra trazida do Monte das Tabocas, em Vitória de Santo Antão, cenário de uma batalha travada há exatos 380 anos, no crucial confronto de 3 de agosto de 1645. Esse evento marcou o início da Insurreição Pernambucana, quando forças luso-brasileiras venceram os holandeses invasores, consolidando a resistência e o sentimento nativista que levariam à expulsão holandesa do Brasil.
O confronto abriu caminho para vitórias futuras, como as dos Guararapes, segundo o historiador José Aragão Bezerra Cavalcanti. As forças luso-brasileiras, lideradas por combatentes como Antônio Dias Cardoso, utilizaram táticas de guerrilha e o terreno favorável para surpreender os holandeses, que, apesar de estarem melhor armados, foram derrotados — fato considerado inexplicável segundo documentos históricos da época.
“A vitória consolidou a resistência e inspirou a luta pela libertação do Brasil.” A bravura e o sacrifício dos “300” de Termópilas e dos heróis de Tabocas tornaram-se símbolos de determinação na luta pela liberdade. São epítomes do verdadeiro heroísmo: o sacrifício pessoal máximo em favor de uma causa maior — a essência do épico.
Os dois combates devem ser vistos, no mundo contemporâneo, como símbolos duradouros de coragem, honra e sacrifício inabalável diante de adversidades esmagadoras. A pedra de Termópilas e a pedra do Monte das Tabocas são iguais, com uma diferença fundamental: na batalha do Monte das Tabocas, entre os nossos heróis, não houve traidores.
Marcus Prado *
*Jornalista