Lamento Rubro-Negro
Após cinco décadas de vida, há uma dúvida que ainda me persegue, quase um mistério insondável, daqueles que não se consegue desvendar
Após cinco décadas de vida, há uma dúvida que ainda me persegue, quase um mistério insondável, daqueles que não se consegue desvendar, por maior que seja o empenho com que se dedique à missão de trazer luz à questão: a paixão por um time de futebol. Confesso que não sei se é algo que já faz parte do nosso código genético, contra o qual não há nada que se possa fazer, ou se é uma característica transmitida por algum incauto amante das quatro linhas, que exerce tão nefasta influência sobre o nosso destino, a ponto de nos fazer escolher um pavilhão de cores definidas e seguir fiel a esta bandeira ao longo de toda uma vida, atribuindo às façanhas dos jogadores muitas de nossas grandes emoções, alternando entre risos e lágrimas, a depender da sorte da pelota.
Quem frequenta um campo de futebol, já viu, e não poucas vezes, um mesmo jogador ir de algoz a herói em uma única partida, a depender do sucesso das suas jogadas. Da mesma forma, abraçou-se com ilustres desconhecidos para comemorar a alegria de um gol ou se uniu ao coro de indignados torcedores para xingar um jogador “perna de pau” ou a pobre a mãe do juiz, que, mesmo sem ter qualquer culpa pelas infelizes decisões da arbitragem, é condenada, sem qualquer direito à defesa, a sofrer o ódio eterno da torcida pelos erros da criatura que trouxe ao mundo, porque, em se tratando de futebol, não vale a máxima do direito segundo a qual a pena não pode passar da figura do contraventor.
Pois bem, decidi escrever estas mal traçadas linhas ao ver o meu glorioso Sport Club do Recife sofrer mais uma humilhante derrota neste campeonato da Série A do ano de 2025, que insiste em não se acabar.
É que esta derrota calou mais fundo do que as goleadas sofridas nas últimas partidas, porque aquele que verdadeiramente ama o rubro-negro pernambucano sabe o quão difícil é ter seu rebaixamento decretado pelo seu maior rival e ainda ter que ouvir a torcida adversária entoar a plenos pulmões “Mengo, Mengo”, tudo isso após a vergonhosa venda do mando de campo pela atual diretoria, apequinando de vez o nosso Sport Club do Recife.
E a nós, torcedores, cabe apenas calar e fingir indiferença, quando, por dentro, impera o sentimento de revolta contra todos aqueles, dirigentes e jogadores, que nos fizeram passar pela maior vergonha já enfrentada por essa apaixonada torcida ao longo de um único ano: eliminação da Copa do Brasil (da qual já fomos campeões), na primeira rodada, jogando sem nenhuma vontade, como se o time estivesse em um treino e achasse que a qualquer momento iria fazer o gol que eliminaria o adversário de pouca tradição futebolística. Eliminação da Copa do Nordeste, jogando em casa, com a Ilha do Retiro lotada, para outro grande rival, o Ceará, com direito a cobranças de pênaltis tão bisonhas que não há sequer como descrever a façanha dos jogadores. Perder para o Retrô, na final do Campeonato Pernambucano, obtendo o título em uma decisão por pênaltis, sem qualquer honra ou glória. E, por fim, permanecer na lanterna do Campeonato Brasileiro praticamente desde a primeira rodada, culminando com seu precoce rebaixamento para a Série B, num ano em que os seus arquirrivais, Santa Cruz e Náutico, com investimentos incomparavelmente menores, conseguiram alcançar seus principais objetivos, que foram os acessos às Séries C e B, respectivamente.
É certo que, em outras edições do Campeonato Brasileiro, já vimos o Sport ser rebaixado, mas nunca desta forma: sem luta, sem brio, sem vontade, e, principalmente, sem querer competir. E é este aspecto que causa maior indignação e revolta, porque, nas outras ocasiões em que fomos “brindados” com o rebaixamento, o time lutou até a última rodada, ocorrendo o decesso, no mais das vezes, por um ponto apenas, o que, de certa forma, trazia um alento mesmo diante do insucesso.
A campanha deste ano foi diferente, porque só trouxe tristeza, vergonha e humilhação, sentimentos que não se coadunam com a história de luta e glória do Sport Club do Recife/PE.
Consumado o tão anunciado rebaixamento, resta a nós, torcedores, esperar que esta desastrosa administração, sob o comando do Sr. Yuri Romão, tome a única atitude digna, que é a de passar o bastão para alguém que, de fato, ame o clube e tenha a competência necessária para nos retirar de tão degradante situação, para que só assim possamos sonhar com dias melhores e, quem sabe, garantir às futuras gerações de rubro-negros as mesmas felizes memórias de tempos idos, em que o Sport Club do Recife enfrentava, de igual para igual, todos os seus adversários na “Bombonilha”.