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O primeiro jornal a gente nunca esquece

Sempre que me perguntam como começou essa coisa do jornalismo em minha vida, respondo: é culpa do Júnior

Por Cícero Belmar

Edições de 200 anos do Diario de Pernambuco

Sempre que me perguntam como começou essa coisa do jornalismo em minha vida, respondo: é culpa do Júnior. Melhor dizendo, dou graças a ele. Meu pai, seu Bé, sertanejo em primeiro lugar, gostava de ler revistas e jornais, foi quem colocou o Júnior em minhas mãos. Eu, fantasioso desde cedo, pensei que ele tinha sido feito para mim.

No momento em que o Diário de Pernambuco completa 200 anos de circulação, consolidando a marca de jornal mais antigo e tradicional da América Latina, faço homenagem e peço destaque ao Júnior. Antes, esclareço, estou falando de um suplemento endereçado à infância que tinha como slogan “Um senhor jornal”, e marcou gerações de leitores.

Nos primeiros anos da década de 1970, o Diário de Pernambuco chegava duas vezes por semana na minha cidade, Bodocó, no sopé da Serra do Araripe. Seu Geraldo vinha de outra cidade, Ouricuri, trazendo o conjunto das edições dos dias anteriores. Meu pai já era cliente certo: “Eu fico com a edição do sábado”. O Júnior era publicado aos sábados e eu aguardava com ansiedade a chegada de seu Geraldo, com o meu jornal.

Eu lia a edição no meu ritmo, curtindo as tiras dos gibis, os desenhos, a Carta dos Leitores. Um dia, tomei coragem, escrevi uma, e semanas depois, estava lá a resposta dos editores do Júnior, Tia Lola e Tio Joca. Acho que ali, naquela felicidade, tomei gosto de escrever para jornais. A partir daí, mandei outras colaborações. Várias.

Cresci, deixei o Júnior de lado na adolescência. Mas, defini que queria ser jornalista. “Como assim ser jornalista? Você vai estudar no Recife para ser médico ou engenheiro”, disse meu pai. Seu eu tivesse seguido o conselho hoje seria um homem rico e infeliz. Não sou uma coisa nem outra.

Quando o Diário de Pernambuco completou 162 anos, em 7 de novembro de 1987, eu li um artigo escrito por Tia Lola. Era a jornalista Loide Reis e Tio Joca, o também jornalista Fernando Spencer. No artigo, Tia Lola contava que o Júnior nasceu no dia 11 de novembro de 1967 e, portanto, estaria fazendo 20 anos naqueles dias. Era um texto emocionado.

Tia Lola citava nomes de colabores de diversas gerações: o meu estava lá, ao lado de Geneton Morais Neto, Roberto Borges, Paulo Generino, Maria de Fátima Guenes, Fátima Tedim, entre outros. Não tive dúvidas. Descobri o endereço de Tia Lola, no bairro da Torre, e fui lhe dar um abraço.

Depois de formado, trabalhei em diversos veículos de comunicação, inclusive no Diário de Pernambuco. Mais adiante, fiz MBA em Marketing e defendi a tese sobre a importância dos suplementos infantis que funcionam como poderosos agentes de leitura. Na época, o Júnior também ajudava a legitimar a infância como relação social e contribuía para reduzir as distâncias num mundo de comunicação desigual. Salve!