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COP30: hora da transformação sistêmica

A humanidade vive uma crise de fragmentação

Por Sérgio Xavier

COP30 acontece em Belém (PA) de 10 a 21 de novembro

Sérgio Xavier*

A humanidade vive uma crise de fragmentação. Nossos modelos econômicos e políticos funcionam como máquinas de desintegração: isolam setores, excluem comunidades, degradam ecossistemas, alimentam extremismos, quebram ciclos naturais e multiplicam doenças humanas e planetárias. A economia linear — centrada no extrair, produzir, consumir e descartar sem limites — rompeu os ciclos vitais da Terra e tornou-se o principal motor da destruição climática. É urgente inverter essa lógica e cocriar uma economia regenerativa, circular, inclusiva e saudável.


A COP30, em Belém, deve ser um polo de transformação socioecológica. Não basta discutir metas de carbono ou de adaptação de cidades: é preciso reverter rapidamente o macromodelo econômico, que gera gases-estufa, desigualdades e colapsos.


O Brasil tem potencial único para liderar essa virada global, articulando ciência, saberes ancestrais, políticas públicas e inovação social em processos participativos de regeneração territorial. E esta transformação pode ser feita na base da sociedade, acelerando uma nova economia regenerativa local. O Fórum Brasileiro de Mudança do Clima – FBMC e o Comitê Interministerial de Mudança do Clima (CIM – unindo 23 ministérios) são canais institucionais já disponíveis para apoiar essas iniciativas transversais e viabilizar uma governança climática sistêmica e participativa no Brasil.


Três eixos são essenciais na transformação socioambiental das cadeias econômicas: restaurar biomas e bacias com base no conceito de saúde planetária (que integra saúde humana com saúde dos ecossistemas, evitando doenças e custos); valorizar culturas e modos de vida sustentáveis e inclusivos em cada território; e orientar os processos agroindustriais por indicadores de bem-estar humano e ecológico. Em síntese, a economia deve ser modelada a partir desses propósitos, em vez de tentar submeter a natureza a modelos artificiais meramente financeiros e concentradores de lucros.
A transformação precisa ser sistêmica: multissetorial, multinível e multiconectada, com governança participativa, conhecimentos interligados e redes digitais de inteligência coletiva natural. E isso requer uma metodologia gerencial que agregue instrumentos, setores, suportes, políticas públicas e fontes de financiamento que estão dispersos e muito distantes dos territórios nos modelos atuais.
No Lab Noronha e Lab Rio São Francisco de Economia Regenerativa estamos formulando uma metodologia que une governos, empresas, ONGs, centros científicos e comunidades para estudar as cadeias atuais de cada território, entender todos os elementos que as compõem (insumos, energia, água, pessoas, tecnologias, conhecimentos, financiamento, resíduos etc) e, com uma visão sistêmica, definir o papel prático e as necessidades de cada setor para tornar essas cadeias ideais.


Ou seja, garantir que os processos e produtos de cada eixo econômico sejam efetivamente regenerativos, inclusivos e contribuam para eliminar poluições e restaurar a biodiversidade. Enfim, injetar as soluções nos modelos de negócios, integrando todos os elos da cadeia. Dessa forma, fica mais claro saber onde investir e criar incentivos públicos para tornar mais rápida e eficiente a transformação.


Nesses Labs de futuro, comprometidos com o Mutirão Global Pelo Clima, convocado pela presidência brasileira da COP30, floresta, oceano, cidade, campo, cultura, empreendedorismo, políticas públicas e saberes das populações de cada local se unem em práticas reais de mudanças, ligando as soluções com o chão do território.


A COP30 pode ser um marco da transição de um planeta doente para uma civilização saudável. O desafio é sistêmico, e a resposta também precisa ser — colaborativa, regenerativa e profundamente humana. Nos próximos dias estaremos em Belém apresentando esses conceitos e articulando parcerias para fazer o Mutirão acontecer!

*Enviado Especial da COP30, Coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), integrante do Comitê Interministerial de Mudança do Clima (CIM) e do Centro Brasil no Clima (CBC).