O desafio urgente dos clubes nordestinos
No futebol moderno, quem não se profissionalizar vai desaparecer.
No futebol moderno, quem não se profisionalizar vai desaparecer. Essa é uma verdade incômoda, mas inescapável. A paixão das arquibancadas já não é sufi ciente para sustentar uma estrutura cada vez mais complexa, competitiva e bilionária. O futebol se tornou uma indústria e, como toda indústria, exige gestão, estratégia e visão de futuro.
O cenário recente do futebol nordestino, com o acesso do Náutico à Série B e do Santa Cruz e do Maranhão à Série C, renova a esperança de dias melhores. Mas também acende um alerta: o sucesso dentro de campo só será sustentável se for acompanhado por eficiência fora dele. O que garante perenidade não é o gol no domingo, é a gestão de segunda a sábado.
Hoje, traçar um paralelo entre os clubes nordestinos e os grandes do eixo Sul-Sudeste já é um exercício de boa vontade; compará-los aos gigantes europeus, como Real Madrid, Barcelona, Manchester City ou Bayern de Munique, é praticamente uma ficção. Enquanto esses operam com planejamento de longo prazo, governança sólida e receitas diversificadas, muitos clubes do Nordeste ainda sobrevivem no improviso, na dependência de cotas ou de dirigentes abnegados.
A grande diferença não está apenas no dinheiro, mas na mentalidade. Os europeus enxergam o futebol como negócio, mas sem perder a paixão. Aqui, ainda tratamos a paixão como desculpa para a falta de profissionalismo.
E é justamente essa falta de estrutura — de estádios, centros de treinamento, departamentos de análise, marketing e performance — que impede o salto de qualidade. A solução passa por investimento em gestão, tecnologia e pessoas capacitadas. Futebol é talento, mas também é processo, é método, é disciplina.
Os clubes nordestinos têm algo que ninguém pode copiar: torcidas imensas, fiéis e apaixonadas. Essa força emocional precisa ser transformada em ativo econômico, por meio de programas de sócios modernos, experiências de engajamento e novas fontes de receita. É aí que a profissionalização mostra seu valor.
Mas para crescer, também é preciso unir forças. Rivalidade é combustível dentro de campo; fora dele, é atraso. A união entre os clubes da região — em projetos, ligas, formação de atletas e negociação de direitos — pode gerar escala e competitividade.
O acesso de Náutico, Santa Cruz e Maranhão é um alento, mas não pode ser o ponto final. É o ponto de partida para uma nova mentalidade. Porque no futebol de hoje, a paixão continua sendo o coração — mas a gestão é o cérebro. E sem os dois, nenhum clube sobrevive.