° / °
Cadernos Blogs Colunas Rádios Serviços Portais

O desafio urgente dos clubes nordestinos

No futebol moderno, quem não se profissionalizar vai desaparecer.

Por Augusto Carreras

Sede da Federação Pernambucana de Futebol (FPF)

No futebol moderno, quem não se profisionalizar vai desaparecer. Essa é uma verdade incômoda, mas inescapável. A paixão das arquibancadas já não é sufi ciente para sustentar uma estrutura cada vez mais complexa, competitiva e bilionária. O futebol se tornou uma indústria e, como toda indústria, exige gestão, estratégia e visão de futuro.


O cenário recente do futebol nordestino, com o acesso do Náutico à Série B e do Santa Cruz e do Maranhão à Série C, renova a esperança de dias melhores. Mas também acende um alerta: o sucesso dentro de campo só será sustentável se for acompanhado por eficiência fora dele. O que garante perenidade não é o gol no domingo, é a gestão de segunda a sábado.


Hoje, traçar um paralelo entre os clubes nordestinos e os grandes do eixo Sul-Sudeste já é um exercício de boa vontade; compará-los aos gigantes europeus, como Real Madrid, Barcelona, Manchester City ou Bayern de Munique, é praticamente uma ficção. Enquanto esses operam com planejamento de longo prazo, governança sólida e receitas diversificadas, muitos clubes do Nordeste ainda sobrevivem no improviso, na dependência de cotas ou de dirigentes abnegados.


A grande diferença não está apenas no dinheiro, mas na mentalidade. Os europeus enxergam o futebol como negócio, mas sem perder a paixão. Aqui, ainda tratamos a paixão como desculpa para a falta de profissionalismo.


E é justamente essa falta de estrutura — de estádios, centros de treinamento, departamentos de análise, marketing e performance — que impede o salto de qualidade. A solução passa por investimento em gestão, tecnologia e pessoas capacitadas. Futebol é talento, mas também é processo, é método, é disciplina.


Os clubes nordestinos têm algo que ninguém pode copiar: torcidas imensas, fiéis e apaixonadas. Essa força emocional precisa ser transformada em ativo econômico, por meio de programas de sócios modernos, experiências de engajamento e novas fontes de receita. É aí que a profissionalização mostra seu valor.


Mas para crescer, também é preciso unir forças. Rivalidade é combustível dentro de campo; fora dele, é atraso. A união entre os clubes da região — em projetos, ligas, formação de atletas e negociação de direitos — pode gerar escala e competitividade.


O acesso de Náutico, Santa Cruz e Maranhão é um alento, mas não pode ser o ponto final. É o ponto de partida para uma nova mentalidade. Porque no futebol de hoje, a paixão continua sendo o coração — mas a gestão é o cérebro. E sem os dois, nenhum clube sobrevive.