Eternas saudades de Mercedes Sosa, "La Negra"
O tempo passou veloz entre os dedos e as folhinhas sopradas no céu infinito de saudade
O tempo passou veloz entre os dedos e as folhinhas sopradas no céu infinito de saudade. Assim se passaram 16 anos da perda da “A voz da América Latina” e da resistência política da ditadura argentina, Mercedes Sosa. “ La Negra”, como era conhecida na América do Sul, viveu plenamente seus 74 anos. Não teve medo das barreiras nem dos limites. Transformou-se sua voz marcante, como símbolo da luta civil em defesa da liberdade, democracia e resistência contra a terrível ditadura na Argentina
A história de Haydeé Mercedes Sosa começou em 9 de julho de 1935, na província de San Miguel de Tucamán, quando veio ao mundo justamente no dia em que se comemora a independência da Argentina. O seu primeiro disco, lançado em 1962, “ La Voz de la Zafra” era o prenúncio de um repertório comprometido com as causas sociais.
No ano de 1966, participou do Movimento do Novo Cancioneiro, grupo quer pretendia renovar a música raiz, destacando o cotidiano do povo. Gravou em 1965, o disco “Caciones com Fundamentos”. No ano seguinte mais dois discos – Yo No Canto Por Cantar e Hermano – projetaram La Negra com uma das vozes poderosas da América do Sul. A nova canção emblemática e de protesto, explodia em meio a fatos como a Guerra Fria e a Revolução Cubana. Sem hesitar filiou-se ao partido comunista e colocou sua voz a serviço das ideais revolucionários.
Em 1976, grava “Volver a los 17” em dueto com Milton Nascimento para o álbum do cantor mineiro, e torna-se mais conhecida no Brasil. Entre os anos de 1997 e 1980, foi investigada pelo DOPS e detida durante show em La Plata pela polícia do regime ditatorial argentino. Mercedes esteve proibida de cantar. Exilou-se em Paris e no ano de 1980 mudou-se para Madri. Lutou ainda contra as injustiças, foi a voz do exemplo e da coragem. Nessa fase de exílio, sofreu crises e depressão, no entanto, nunca desistiu de levantar a bandeira em nome da ideologia política. Lançou quatro LPs, um deles gravado ao vivo no Brasil, em 1980. Aqui, a música de Mercedes representava o símbolo da resistência contra a ditadura militar.
Passado o período em que a Argentina viveu os anos mais obscuros de sua história política, “La Negra” volta aos palcos em 1982, quando realiza shows no Teatro Opera, compilados num disco chamado “Mercedes Sosa em Argentina”. Em 21 de novembro de 1984, fez um show memorável “ Corazón Americano” com Milton Nascimento que reuniu 30 mil pessoas no estádio Velez Sarsfield. Extraordinário e comovente. Seu coração esteve sempre voltado para os outros. Era visceral esse amor ao próximo.
A voz de Mercedes continuou a ser ouvida e amada por milhões de pessoas. Tornaram-se mundialmente conhecidas suas canções, em especial “Gracias a La Vida” de Violeta Parra. Mas, registre que, ao gravar com Raiumundo Fagner “Anõs” em 1981, ela ganhou muito mais popularidade. Uma canção de amor, simples e direta como uma flecha, de autoria do cubano Pablo Milanes.
Em seus últimos trabalhos – Corazón Livre – gravado em 2005, interpreta lindas músicas de forma contundente e extraordinária. Em 2009, lançou “Cantora” seu 26º disco da carreira que traz duetos com Joan Manuel Serrat, Shakira, Caetano Veloso e Daniela Mercury. Confirma e ratifica seu carisma de revolucionária, destemida e indomável. Uma mulher sem medos.
Porém, a artista calou a voz e saiu de cena pra sempre em 04/10/2009. Ficou sua história não apenas marcada pela militância política, contudo, traduzida por sua obra fiel de resistência. Como bem disse a cantora Maria Rita “sua história é de guerra, é de entrega. E de chorar as vítimas dos medos, das sombras, das entranhas latino-americanas”. Que os sopros dos ventos de todas as Américas continuem espalhando suas cinzas por corações e mentes, porque os ídolos não morrem, se eternizam.
Gratidão, Mercedes Sosa “La Negra”. Gracias a La vida!