Está na hora de discutir a copa do mundo de 2026
A Copa do Mundo é, acima de tudo, um momento de confraternização entre povos
A Copa do Mundo é, acima de tudo, um momento de confraternização entre povos. Trata-se da maior celebração do esporte mais popular do planeta, em que nações distintas se unem em torno da paixão pelo futebol. No entanto, a escolha dos Estados Unidos como sede da próxima edição tem despertado preocupações legítimas, sobretudo em relação às barreiras impostas por aquele país à entrada de estrangeiros.
O governo americano tem se mostrado cada vez mais seletivo quanto à admissão de visitantes, impondo um nível de incerteza elevado para torcedores que desejam assistir ao torneio. Esse cenário já foi sentido por brasileiros e cidadãos de outros países que se viram impedidos de ingressar em solo americano. Até mesmo atletas correm o risco de enfrentar restrições arbitrárias, colocando em xeque a essência da competição. Um episódio recente que ilustra bem essa política foi a Assembleia Geral da ONU: diversas autoridades ficaram em dúvida se conseguiriam participar do evento, e algumas só receberam autorização de última hora e, ainda assim, mediante fortes limitações de movimentação, como ocorreu com o ministro da Saúde brasileiro, Alexandre Padilha.
Para os latino-americanos, em especial, o risco de humilhações é real e elevado. Não apenas nas barreiras de imigração, mas também nas ruas, onde crescem episódios de preconceito e hostilidade, em parte alimentados pelo próprio discurso político vigente. Tal ambiente contrasta com o espírito de união e confraternização que deveria marcar uma Copa do Mundo.
Outro ponto a considerar é que os Estados Unidos não têm tradição relevante no futebol. Sua contribuição ao espetáculo tende a ser restrita à infraestrutura, sem agregar à dimensão esportiva e cultural que o torneio costuma carregar. Nesse sentido, a escolha do país como anfitrião pouco acrescenta ao universo do futebol. Ainda assim, retirar os EUA da organização não é simples. Boa parte das conexões aéreas com México e Canadá passa obrigatoriamente por território americano, o que complica a logística de uma eventual exclusão do trio que sediará o evento. Contudo, diante das incertezas diplomáticas e do desrespeito crescente com a comunidade internacional, especialmente com cidadãos de nações mais pobres, o debate sobre a mudança de sede precisa ganhar corpo.
O Brasil, por exemplo, poderia se candidatar novamente a anfitrião, desta vez em parceria com vizinhos do Mercosul. Uma edição compartilhada entre Brasil, Uruguai, Paraguai e, eventualmente, Argentina, representaria uma alternativa viável e mais coerente com a tradição futebolística mundial. Além da infraestrutura já consolidada em vários estádios, haveria a oportunidade de valorizar a região que deu ao mundo alguns de seus maiores craques e momentos inesquecíveis do esporte. A Copa do Mundo deve ser sinônimo de festa, inclusão e celebração global. Para que esse espírito seja preservado, é urgente iniciar a discussão sobre a adequação da escolha dos Estados Unidos como sede do evento.