Amor que se renova há 167 anos
Fazer filantropia no Brasil é um ato de fé e resistência
Fazer filantropia no Brasil é um ato de fé e resistência. Fé, porque é preciso acreditar que o cuidado com o outro ainda tem espaço num mundo cada vez mais marcado pelo individualismo. Resistência, porque manter de pé uma instituição secular dedicada ao bem comum exige esforço contínuo diante de um cenário de escassez de recursos, burocracia e crescente demanda por serviços essenciais.
A Santa Casa de Misericórdia do Recife é a instituição filantrópica mais antiga de Pernambuco. Completando 167 anos neste mês de agosto, somos testemunhas vivas da história de nossa cidade e protagonistas silenciosos de um trabalho que transforma vidas diariamente. No último ano, realizamos mais de 289 mil exames, 52 mil consultas e 6 mil cirurgias. Cada um desses números representa alguém que encontrou, em meio a um sistema de saúde desafiador, acolhimento, dignidade e esperança.
Mas esses números também escancaram o paradoxo da filantropia no Brasil: fazemos muito com muito pouco. A sustentabilidade das instituições filantrópicas depende da combinação entre gestão eficiente, apoio da sociedade civil e parcerias públicas que reconheçam e reforcem o papel estratégico dessas entidades na rede de saúde.
Filantropia, afinal, não é caridade assistencialista: é compromisso social estruturado. É presença nos territórios mais vulneráveis, é escuta ativa, é investimento contínuo em pessoas, em infraestrutura, em dignidade. É garantir que o cuidado chegue a quem mais precisa, independentemente da capacidade de pagar por ele.
A filantropia não é um favor, mas uma expressão viva do direito à saúde, à dignidade e ao cuidado. Por isso, é fundamental seguir fortalecendo o diálogo entre o setor público, a sociedade e as instituições do terceiro setor. A construção de políticas públicas que valorizem o trabalho filantrópico, a simplificação de processos, a ampliação de incentivos e a modernização dos contratos de prestação de serviço são caminhos que podem — e devem — ser percorridos coletivamente.
Avançar nessa direção é valorizar não apenas as instituições, mas sobretudo as pessoas que são por elas acolhidas todos os dias. É reconhecer o impacto silencioso, porém profundo, que a filantropia tem na saúde pública, na assistência social, na formação cidadã e no fortalecimento dos laços comunitários.
Na Santa Casa do Recife, unimos fé, ciência, gestão e solidariedade para garantir um cuidado integral, que vai da saúde do corpo à escuta da alma. E é isso que faz da nossa missão algo tão necessário quanto desafiador. Sabemos que os tempos são complexos, mas acreditamos na força das redes de apoio, na mobilização da sociedade e no poder de transformação que nasce quando muitos se unem por uma causa maior.
Chegar aos 167 anos é motivo de celebração, mas também de renovação de propósitos. Seguiremos fazendo a nossa parte, com responsabilidade e amor ao próximo, ao lado dos mais de 1.500 colaboradores que colocam esta instituição de pé todos os dias com competência, empatia e dedicação — certos de que, juntos, podemos construir um futuro onde a filantropia continue sendo uma ponte de transformação e esperança para milhares de vidas.