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As pimentas de Lina Bo Bardi, as balas de menta do cavalo de Papaléo, outras estórias

Marcus Prado Jornalista

Por Diario de Pernambuco

Masp (SP)

Quando esteve no Recife, convidada por Francisco Brennand e Ariano Suassuna, para o projeto que seria a Casa da Cultura, a partir da antiga Casa de Detenção (Governo de Miguel Arraes/1963), Lina Bo Bardi, arquiteta ítalo-brasileira consagrada com o prêmio Leão de Ouro, na Bienal de Veneza de Arquitetura, foi recebida para almoço pelo casal Francisco e Deborah Brennand, no engenho São Francisco (bairro recifense da Várzea). Lina tinha uma relação estreita com o mundo da arte, uma das suas obras mais emblemáticas, o MASP, é um marco da arquitetura moderna no Brasil, conhecido por sua estrutura suspensa. Havia outros convidados: César Leal, Maria Carmen, André e Tânia Carneiro Leão, Paulo Fernando Craveiro, Acácio Gil Borsoi, Marcelo Carneiro Leão, Jorge Martins Jr. Antes de o almoço ser servido, Lina pediu à dona da casa um copo cheio de pimenta vermelha, a malagueta, uma das mais famosas do mundo, e que lhe foi servida como uma entrada jamais vista na culinária pernambucana. A “pimenta” em relação à Lina Bo Bardi refere-se à sua marcante utilização da cor vermelha em suas obras. Essa escolha cromática, que vai além do aspecto estético, tornou-se uma assinatura da arquiteta, conectando suas criações e conferindo-lhes uma identidade única.

A pimenta de Lina me traz como um filme o cavalo branco mais belo do Recife, o Lord, Manga-larga Marchador, de Francisco Papaléo, um executivo pernambucano de muitos amigos e com uma trajetória profissional reconhecida. Lord combina os benefícios das melhores linhagens em nível de sua raça, de porte elegante, beleza plástica, temperamento dócil. O curioso é que esse cavalo, que conheço, amoroso e gentil, tem por comida predileta as nossas balas de menta. Certa vez o seu dono deixou cair umas pastilhas de menta, de conhecida marca, e Lord, rapidamente, as abocanhou, tornando-se viciado desde aquele dia. “Ao me ver de longe, fica agitado como a pedir a sua pastilha”, diz Papaléo. “Passear a cavalo, olhando as paisagens, tornou-se o meu lazer, a maneira de aliviar a mente do estresse diário. Fala-se muito em equinoterapia, e eu concordo que melhor terapia não existe.”

Não é de surpreender o que já foi dito nesta crônica, pois vem surrealismo a seguir: o cavalo que bebia cerveja, tema de um belo conto de João Guimarães Rosa presente em sua obra Primeiras Estórias. Explora temas como a solidão, a amizade improvável, a morte, e a relação entre o homem e o animal. Por fim, o folheto de cordel do pernambucano de Vitória de Santo Antão, Severino Milanês, que conta a estória do “matuto que bebia cachaça e seu cavalo ficava bêbado”.