° / °
Cadernos Blogs Colunas Rádios Serviços Portais

Narsson Figueiredo tornou-se guardião da memória do Diario de Pernambuco

Jornalista idealizou cápsula do tempo que foi aberta na comemoração dos 200 anos do jornal

Por Adelmo Lucena

Abertura da cápsula do Diario de Pernambuco

Entre os nomes que ajudaram a preservar a história do Diario de Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação da América Latina, destaca-se o de Narsson Figueiredo, funcionário dedicado, intelectual e apaixonado pela memória pernambucana. Foi ele o responsável por idealizar a criação de uma cápsula do tempo, entregue ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) em 1929, contendo registros da comemoração dos 100 anos do jornal, celebrados em 7 de novembro de 1925. A cápsula, lacrada, foi aberta na cerimônia de 200 anos do periódico.

A iniciativa partiu da certeza de que o Diario de Pernambuco seguiria firme no futuro. “Ele acreditou que o Diario ia durar mais 100 anos e também teve essa ideia porque ele era uma pessoa de ideias além do seu tempo. Era uma pessoa muito inteligente, irreverente e tinha atos que nos surpreendiam. O que a gente está precisando hoje é de pessoas que sejam criativas, ousadas, como ele foi há 100 anos”, afirmou a neta do jornalista, Lúcia Helena Figueiredo.

Dentro da cápsula aberta nesta sexta-feira (7) havia uma carta escrita pelo jornalista, relatando com brevidade a sua trajetória.

“Nasci no Povoado São João dos Bombos, município da Victória - Pernambuco, numa quinta-feira, aos 14 de abril de 1887, primogênito e legítimo filho do Cap. Eng. Sergio Figueirêdo e Silva e Maria Figueirêdo e Silva. Vim para o Recife em 2 novembro de 1901 como telegrafista da Estrada de Ferro Central (hoje Great Western) até março de 1906, quando deixei a Estrada, entrei para a Livraria Francesa, à rua 1º de Março nº 9 (esta Livraria acabou e o prédio reformado é hoje uma casa de café e frutas do país)”, registrou.

Narsson Figueiredo mudou-se para o Recife ainda jovem e começou a trabalhar como telegrafista da Estrada de Ferro Central (Great Western) em 1901, profissão que exerceu até 1906. Nesse período, chegou a testemunhar a passagem do então presidente Afonso Pena por Jaboatão.

Paralelamente, Narsson se envolvia com o cenário cultural e intelectual pernambucano. A partir de 1907, seu nome começou a aparecer em registros do Diario de Pernambuco, participando de grêmios literários, teatrais e culturais de Jaboatão. O poeta e cronista Mauro Mota, em texto publicado no Diario em 1970, destacou o jovem como “orador de excelente eloquência”.

Em 14 de novembro de 1912, casou-se com Laura Vieira de Mendonça Figueiredo. Dois anos depois, surgiram as primeiras menções formais à sua atuação no Diario de Pernambuco, em 1914. Trabalhou na redação até 1931, e mesmo após seu desligamento, seu nome continuou aparecendo nas páginas do periódico, carinhosamente apelidado de “Nosso Velho Diario”.

Além do vínculo profissional com o jornal, Narsson manteve intensa participação no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Tornou-se sócio efetivo em 1928, com presença constante nas reuniões e comissões da instituição. Suas intervenções, quase sempre, tratavam de temas relacionados à história da imprensa e à trajetória do próprio Diario de Pernambuco.

Em 7 de abril de 1955, Narsson registrou estar trabalhando em uma biografia detalhada de Antonino José de Miranda Falcão, fundador do Diario e figura central da história da imprensa brasileira. Falcão, que participou da Confederação do Equador e foi preso por isso, fundou o periódico em 7 de novembro de 1825, fazendo dele um marco da liberdade de expressão e do jornalismo nacional.

Ao longo dos anos, Narsson Figueiredo publicou diversos textos na revista do Instituto Arqueológico e ainda foi sócio correspondente do Instituto do Ceará, sócio fundador da Associação de Imprensa de Pernambuco e sócio efetivo do Instituto Histórico de Olinda.