Diario que assumiu nome e identidade libertária da província
Em 1824, era proclamada a Confederação do Equador, movimento separatista liderado por Pernambuco. No ano seguinte, o Diario começava a circular no Recife
A primeira edição do Diario foi rodada quando Pernambuco sofria retaliações do Imperador Dom Pedro I, chegando a perder cerca de 60% do seu território por exercer seu espírito libertário e contestador. Em 1824, a província liderou a Confederação do Equador, movimento nacionalista de cunho republicano e revolucionário, inspirado na Independência Americana e na Revolução Francesa.
De julho a novembro, Pernambuco instalou uma república federativa e democrática, com apoio da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará, tendo como principal objetivo combater o centralismo autoritário do então Imperador. A Confederação do Equador lutava por autonomia, nos moldes de um regime republicano, tal qual aquele que havia sido implantado nos Estados Unidos da América.
“As Constituições, as leis e todas as instituições humanas são feitas para os povos e não os povos para elas”, pregava um dos líderes e ideólogo do movimento, o frade carmelita Frei Caneca, que anos antes havia tido participação importante na Insurreição Pernambucana de 1817.
O Imperador Dom Pedro I, que havia abandonado as províncias mais distantes da região fluminense, virou-se para o Norte do Brasil a fim de reprimir a propagação dos ideais revolucionários e conter o inconformismo social que se alastrava. As tropas imperiais derrotaram as brigadas de resistência dos republicanos e levaram seus líderes à morte.
Foram quatro meses de movimento separatista. A retaliação de Dom Pedro I, no entanto, foi quase que imediata. A Confederação do Equador havia sido proclamada em 2 de julho de 1824. Cinco dias depois, o imperador desmembrou a Comarca do Rio São Francisco de Pernambuco, o que representava cerca de 60% do território da província, sendo anexada, inicialmente, a Minas Gerais, e depois à Bahia.
No ano seguinte à Confederação do Equador, à drástica redução do território da província e sob o peso da primeira constituição brasileira, outorgada pelo Imperador, que assumia o poder Moderador - superior ao Executivo, Legislativo e Judiciário -, nascia o Diario. Apesar dos reveses, Pernambuco estava entre as províncias mais ricas do Brasil Imperial, devido, principalmente, a sua indústria açucareira. Desde o século 16, sua produção para o mercado internacional era escoada pelo Porto do Recife, alavancando o desenvolvimento urbano da vila, que foi elevada à condição de cidade (1823) e, pouco depois, à capital (1827).
O DP acompanhou o crescimento da capital e da província durante todo este período. Estimativas apontavam que Pernambuco havia saído dos 480 mil habitantes, em 1823, para 602 mil, em 1830. Mas os dados só se tornariam oficiais, seguindo critérios mais definidos de levantamento em 1872, quando aconteceu o primeiro recenseamento do Brasil.
Pernambuco era a quarta província mais populosa, com mais de 840 mil habitantes, e sua capital, a terceira, com uma população superior a 116 mil habitantes, atrás apenas do Rio de Janeiro e Salvador. As três cidades representavam quase metade da população urbana no Brasil Imperial.
Nascido em período de lutas e transformações históricas, o Diario assumiu o nome e a identidade libertária e democrática da província, estando presente e registrando os eventos que ao longo dos anos mil oitocentos desembocariam no fim da escravidão e na proclamação da República.