ESTUDOS

Tecnologia em tecidos pode ajudar a evitar propagação da Covid-19

Publicado em: 22/07/2020 09:29 | Atualizado em: 22/07/2020 09:34

Em meio ao pior momento da pandemia no Brasil, várias tecnologias têm sido desenvolvidas para frear a contaminação. No último mês, startups e pesquisadores brasileiros anunciaram o desenvolvimento de tecidos capazes de inativar o vírus. As avaliações em laboratório indicaram que um dos tecidos, com micropartículas de prata na superfície, tem a capacidade de eliminar 99,9% dos vírus vivos após um contato de dois minutos. A empresa responsável pela pesquisa foi a Nanox, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 

O tecido produzido na Nanox é uma mistura de poliéster e algodão com micropartículas de dois tipos que ficam impregnadas na superfície. As micropartículas do tecido pay-dry-cure são fixadas usando um processo de imersão, seguido de secagem e fixação. A empresa já produzia tecidos com nanotecnologia que, além de terem ação antibacteriana e fungicida, seriam capazes de controlar calor e até repelir insetos, como o Aedes aegypti. 

O desenvolvimento da tecnologia contra o vírus foi feito com colaboração entre pesquisadores Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela Fapesp, Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e da Universitat Jaume I, da Espanha. 

A partir de amostras de tecidos, com e sem as micropartículas, os pesquisadores testaram o efeito do material em contato com o SARS-CoV-2 (novo coronavírus). Confirmada a eficácia, ainda houve testes para avaliar se haveria algum risco do material causar problemas dermatológicos – o que foi descartado.

À Agência Fapesp, Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox, disse que o pedido de depósito de patente já foi feito e que a Nanox tem parceria com duas tecelagens brasileiras que deverão utilizar o material para fabricação de roupas hospitalares e máscaras de proteção. Os pesquisadores ainda avaliaram que o tecido continua com as propriedades bactericidas mesmo após 30 lavagens e que as micropartículas podem ser aplicadas em qualquer tecido que seja composto da fibras naturais e sintéticas. Agora, a pesquisa avança para testar se as micropartículas podem ser incorporadas e se são eficientes em outros materiais. 

Já o material produzido pela também brasileira Insider é também uma tecnologia que vinha sendo produzida antes da pandemia. Esse tipo de tecido é comum em roupas esportivas, roupas de banho e peças íntimas. De acordo com as informações do site da empresa, as peças proporcionam mais conforto ao longo do dia e facilitam a respiração. 

“Ao reduzir a prata em escala nanométrica, seus poderes germicidas aumentam. Foi assim que a marca criou máscaras e camisetas antivirais, que protegem de 660 tipos de micro-organismos”, informa a Insider, que trabalha com a produção de peças a em que as partículas de nanoprata são incorporadas às peças durante a produção dos tecidos. 

Com essa tecnologia, informa a startup, o tecido antimicrobiano produzido neutraliza os vírus e bactérias. “Por exemplo, uma máscara feita de pano protege da contaminação direta. No entanto, ao retirá-la, é possível se contaminar, porque o tecido acumulou micro-organismos. Isso não acontece com os tecidos inteligentes, porque eles atuam na desativação do organismo, deixando de ser um meio de infecção”, esclarece a Insider.

A comprovação da eficácia da tecnologia da Insider veio por meio de testes realizados na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que teria apontado que no material há neutralização de 660 tipos de micro-organismos, entre eles o novo coronavírus, em até 15 minutos.

Eficácia segundo especialista
A infectologista do Hospital Regional da Asa Norte, Joana D’arc Gonçalves da Silva comenta que materiais com nanopartículas têm uma maior eficiência contra vírus. “Tudo que é feito de nanopartículas é mais eficaz com certeza, pois a probabilidade de menor infecção é comprovada, além de ser bastante utilizada em equipamentos de proteção individual como máscaras e roupas” afirma. 

Sobre as roupas comuns do dia a dia, a infectologista diz que elas também podem estar contaminadas com o vírus, mas que não possuem potencial de atravessar da roupa para o corpo. “O vírus não atravessa do pano para a pele, pois a forma de transmissão é por gotícula, ou seja, de transmissão respiratória” explica. Ela complementa que as roupas e demais superfícies precisam de atenção porque há possibilidade de contaminação da mão, que posteriormente pode ser levada à boca, olhos e nariz. Para higienizar roupas, segundo Joana D'arc, água e sabão é o suficiente. 

Ela ressalta ainda que nos hospitais, profissionais da saúde usam roupas privativas e que são apenas usadas e lavadas no próprio ambiente. “As roupas de uso hospitalar geralmente são higienizadas no lugar, porque é o ideal, pois assim não se leva nada para casa. No local de trabalho, há uma carga viral e bacteriana maior” completa.
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