EXPOSIÇÃO
Exposição na Galeria Marco Zero percorre diferentes fases de Lula Cardoso Ayres
Com curadoria de Guilherme Moraes, "Caminhos de Ida, Caminhos de Volta" apresenta a produção de Lula Cardoso Ayres ao longo de várias décadas
Por: Allan Lopes
Publicado em: 10/08/2024 06:00 | Atualizado em: 09/08/2024 17:47
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| Bichos Imaginários (1977), de Lula Cardoso Ayres |
Com um olhar perspicaz para a cultura e as tradições do povo pernambucano, Lula Cardoso Ayres (1910-1987) foi um artista que soube documentar a identidade regional com autenticidade. A interseção entre folclores e influências modernistas acarreta em uma produção multifacetada como pintor, fotógrafo, desenhista, ilustrador, muralista e cenógrafo. A trajetória de Lula será lembrada a partir de hoje pela Galeria Marco Zero, localizada na Av. Domingos Ferreira, em Boa Viagem, na nova exposição "Caminhos de Ida, Caminhos de Volta", com curadoria de Guilherme Moraes.
Os talentos artísticos de Lula eram evidentes desde cedo, quando tinha apenas 11 anos. Com o apoio de sua mãe, Dona Carolina, e de seu pai, João Cardoso Ayres, ele viajou a Paris aos 15 anos para estudar. No Recife, começou sua carreira como assistente do alemão Heinrich Moser e foi aluno de Cândido Portinari. Após seu retorno à capital pernambucana, o artista se aproximou dos temas que se tornaram pilares de sua obra, como as manifestações culturais, folguedos e fantasmagorias locais
Em 1941, o Diario de Pernambuco publicou um texto do poeta Ascenso Ferreira, no qual ele analisa o trabalho do jovem Lula. "Dentro daquele adolescente de olhos espantados, enamorado das figuras do jazz e do tango argentino, estava o menino pernambucano tendo um subconsciente enriquecido por um milhão de sugestões artísticas desse Nordeste fenomenal. Começou a fotografar todos os elementos expressionistas da vida popular do Nordeste, máscaras do Bumba meu boi, reis e damas do Maracatu, figuras dos Caboclinhos do Carnaval. Não se trata de uma simples reprodução de figuras típicas, copiadas do natural. Neste trabalho, há uma verdadeira revelação dos altos recursos de que dispõe o artista."
A exposição "Caminhos de Ida, Caminhos de Volta" reúne cerca de 60 obras que transitam desde os desenhos da década de 1940 até a fase do abstracionismo dos anos 1950, período em que o artista foi profundamente impactado pelas primeiras Bienais de São Paulo (1951-1955). Com o convite da Galeria Marco Zero, o curador Guilherme Moraes escolheu destacar a diversidade do artista e a convergência entre suas diferentes fases como o ponto de partida da mostra. “A seleção foi feita com base em uma pesquisa realizada em algumas coleções particulares e também teve o objetivo de entender e mediar a pluralidade das fases de Lula ao longo de sua trajetória”, aponta Guilherme.
Dentre as obras em exibição, há uma peça inacabada que Lula iniciou após sua reaproximação com figuração, mas que não teve a chance de finalizar antes de sua morte. “Apresentar esse trabalho é mostrar uma trajetória que não se encerrou com a velhice, mas com a morte do artista. Lula esteve sempre dedicado à produção, independentemente da fase da vida em que se encontrava. Por isso, é interessante incluir essa obra ao lado das já concluídas, pois, embora nos ofereça um vislumbre do que poderia ter sido, ela também carrega a força de um trabalho iniciado e que, de alguma forma, encontra sua resolução na sua própria incompletude”, explica o curador.
Reconhecido internacionalmente por suas telas e murais, o artista foi um pioneiro na programação visual do estado e deixou um acervo de valor imensurável para a arte brasileira. Porém, segundo Guilherme Moraes, o trabalho de Lula ainda não recebe a valorização adequada. “Embora já tenha sido pesquisado, difundido e esteja presente em acervos importantes, o trabalho de Lula ainda precisa de mais incentivo para sua ampla difusão e para que seja reconhecido de acordo com sua importância no panorama das artes visuais”. O Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres, em Jaboatão dos Guararapes, abriga a maior parte das obras do pintor.
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