Expulsão dos holandeses
Museu do Estado de Pernambuco traz exposição sobre expulsão dos holandeses; entenda como ocorreu este fato histórico
A exposição será realizada nesta terça-feira (6) e vai abordar um tema histórico e de destaque na história do Brasil e de Pernambuco
Por: Adelmo Lucena
Publicado em: 05/08/2024 07:00 | Atualizado em: 05/08/2024 21:24
Historicamente, os 24 anos de ocupação holandesa em Pernambuco são divididos em três fases: a Chegada (1630-35), o Período Nassoviano (1637-44) e a Restauração (1645-54) (Foto: Reprodução) |
O Museu do Estado de Pernambuco (MEPE) apresenta nesta terça-feira (6) uma exposição histórica sobre o domínio holandês na região Nordeste entre os anos de 1630 e 1954. O evento reacende o debate sobre os holandeses terem sido expulsos ou se houve uma rendição à Coroa Portuguesa.
O público poderá entender essas nuances na exposição intitulada de: "1654- 370 Anos da Rendição dos Holandeses em Pernambuco: Reflexões Históricas e Contemporâneas". Ela vai além do contexto histórico amplamente estudado por grandes escritores como Antônio Gonçalves de Mello, Evaldo Cabral de Mello, Leonardo Dantas e Bruno Miranda, trazendo à tona uma nova discussão sobre visões que ainda mexem com o imaginário de muitos pernambucanos.
Esta exposição, apoiada pelo Ministério da Cultura através da Lei Rouanet, com patrocínio do Santander, é realizada pelo Museu do Estado de Pernambuco e Sociedade dos Amigos do Museu do Estado de Pernambuco (SAMPE). A expô-1654 mostrará dúvidas, reflexões históricas e contemporâneas, explorando importantes fatos do período da ocupação holandesa no século XVII, como foi abordado o tricentenário da rendição em 1654, e questionamentos como e por que tais mitos ainda podem desaparecer do imaginário pernambucano.
Relação de Portugal e Holanda
Historicamente, os 24 anos de ocupação holandesa em Pernambuco são divididos em três fases: a Chegada (1630-35), o Período Nassoviano (1637-44) e a Restauração (1645-54). Dentre esses períodos, os sete anos de governo do Conde Maurício de Nassau foram assinalados pelo processo de modernização urbana e pelos investimentos em produções científicas realizados pela sua comitiva
O Brasil foi invadido pelos holandeses nove anos após a expulsão dos franceses, mas Portugal (União Ibérica) e a Holanda já tinham uma relação conturbada de longa data.
Quando a Espanha se tornou uma potência europeia, teve como um dos objetivos unificar a península ibérica e inserir Portugal em seu território. Os portugueses resistiram, mas foram vencidos no século XVI. No ano de 1578, com a morte do rei dom Sebastião, o cardeal Henrique assumiu a regência e deixou como herdeiro Felipe II. Este invadiu Portugal e deixou o país sob domínio espanhol até 1640.
Antes de Portugal ser tomado, o país já havia firmado relações comerciais com holandeses que financiaram a produção de açúcar no Brasil e ficaram responsáveis pelo comércios deste produto na Europa. Naquele mesmo período, a Espanha já tinha o intuito de dominar o território dos Países Baixos, onde a Holanda estava situada, pois o localcontribuía para o abastecimento dos cofres do tesouro espanhol.
Diante disso, províncias do Norte dos Países Baixos, incluindo a Holanda, formaram a República das Províncias Unidas para lutar por autonomia em relação aos espanhóis. Com Portugual incorporado, a Espanha tentou sufocar a economia da Holanda tentando impedir a comercialização do açúcar brasileiro. Desta maneira, a Holanda não conseguiria a independência.
Invasões holandesas
Foto: Reprodução |
Para ter autonomia no controle do comércio do açúcar, a Holanda decidiu ocupar partes do território colonial brasileiro onde ele era produzido. Com esta ideia, foi organizada uma frota composta de 26 navios e 500 canhões para invadir, pela primeira vez, o Brasil em 1624. O alvo foi a cidade de Salvador, na Bahia, de onde acabaram sendo expulsos um ano depois.
Em 1630, os holandeses invadiram Pernambuco e conquistaram as vilas de Olinda e Recife. Os holandeses resistiram aos combates e dominaram boa parte do litoral, entre Sergipe e Maranhão. Ali, foi instaurado o Brasil-holandês.
Vencida a resistência luso-brasileira, com o auxílio de Calabar, Maurício de Nassau foi nomeado para administrar a conquista. Nassau trouxe para o território brasileiro artistas e cientistas para estudar as potencialidades da terra. Ele também focou na recuperação da agromanufatura do açúcar, concedendo créditos e vendendo em hasta pública os engenhos conquistados. Um de seus principais marcos foi a reforma urbanística no Recife, conhecida como a Cidade Maurícia.
“Antes da vinda de Maurício de Nassau, por exemplo, tinha-se o problema da falta de padres, que fugiram. Quando Nassau vem, faz uma política de restituir estes padres sob a tutela da companhia. Ao mesmo tempo, tinha-se violência dos policiais holandeses, que eram agressivos com a população. Naquela época não se tinha uma população de classe média como hoje. Tinha apenas escravos, homens pobres e pequenos e grandes produtores de açúcar”explica o o historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco, (UFPE) Rômulo Xavier.
Anos depois, em 1640, Portugal se separou da Espanha e isso permitiu a formação de uma aliança com a Inglaterra para combater a Holanda. Com isso, foi estabelecida uma trégua de dez anos entre Portugal e os Países Baixos. A guerra de independência dos Países Baixos prosseguiu visando a saída da Coroa Espanhola.
O Brasil se pronunciou em favor do Duque de Bragança (1640). Maurício de Nassau foi substituído na administração e os novos administradores desagradaram os senhores de engenho com cobranças de valores pendentes. Isso resultou na Insurreição Pernambucana de 1645 e que culminou com a extinção do domínio neerlandês após a segunda Batalha dos Guararapes.
A Batalha dos Guararapes ocorreu nos dias 18 e 19 de abril de 1648 e depois em 19 de fevereiro de 1649, entre o Exército da Holanda e as tropas do Império Português. As batalhas aconteceram no Monte dos Guararapes, localizado em Jaboatão dos Guararapes. A dupla vitória portuguesa é considerada o episódio decisivo da Insurreição Pernambucana, que pôs fim às invasões holandesas no Brasil.
“A Batalha dos Guararapes é uma tentativa do governo holandês de romper o cerco e abrir o caminho para o sul de Pernambuco, que tem hoje o que conhecemos como Estrada da Batalha. Os holandeses queriam marchar para recuperar a autonomia de engenhos e caminhar para o Cabo de Santo Agostinho para recuperar o porto”, explica o doutor em história e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Bruno Miranda.
A rendição dos holandes foi assinada no dia 26 de Janeiro de 1654, mas só gerou consequências em 6 de agosto de 1661, com a assinatura da Paz de Haia, onde Portugal concordou em indenizar os Países Baixos com duas colônias em oito milhões de florins, equivalente a sessenta e três toneladas de ouro.
“Os holandeses foram forçados a assinar uma rendição, que foi assinada no Recife e de todas as praças ocupadas por eles no Nordeste, como Itamaracá, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará. Este foi um processo de violência e de guerra”, complementa o historiador Bruno Miranda.
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