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'A fera' e 'Papai é pop' estão entre os lançamentos no cinema

Publicado em: 11/08/2022 09:00 | Atualizado em: 11/08/2022 09:10

 (Foto: Galeria Distribuidora/Divulgação)
Foto: Galeria Distribuidora/Divulgação
Demovidas as camadas criativas por trás do projeto do longa-metragem A fera, estrelado pelo britânico Idris Elba, dá para se entender a qualidade do filme repleto de ação, e que leva os moldes de tensão de Tubarão (1975) para uma realidade africana na qual um leão está fora de si. Ao lado da iniciante roteirista Jaime Primake Sullivan, o parceiro Ryan Engle é o mesmo envolvido no roteiro do longa Rampage: destruição total, em que o astro Dwayne Johnson enfrentava três bestas soltas. Pode parecer estranha a decisão de o islandês Baltasar Kormákur dirigir a narrativa ambientada na África do Sul. Mas, Kormákur, vale a lembrança, é o responsável por filmes que mexem com a adversidade de elementos naturais vistos em Evereste (2015), na série Trapped e no longa Vidas à deriva (2018).

Sem os requintes fantasiosos vistos nos filmes de ação como Pantera Negra, A fera estabelece um clima, algo realista, de carnificina e de redenção. Entre gestos improváveis de agilidade e uma cota acentuada de sorte, o protagonista é o doutor Nate (Elba), pai das meninas Norah (Lea Jeffreys) e Mare (Iyana Halley), posto à prova, depois da separação da esposa. Numa versão bem enfraquecida de O jardineiro fiel (um clássico de Fernando Meirelles), A fera examina uma instituída lei da selva com paisagens impressionantes e breves reflexões ambientais. Há uma latente necessidade de reconciliação familiar em Nate, que assume suas fraquezas. O interesse por fotografias serve como elo entre Mare e a mãe que já desencarnou.

Dentro de um jipe, sem rádio e numa reserva distante do contato com a civilização, Nate terá o desafio da vida, com o qual conta com um cicerone: o biólogo Martin (vivido pelo sul-africano Sharlto Copley, de filmes como Distrito 9). Martin, que é defensor de uma reserva ecológica, testemunhará os ataques múltiplos e fora do padrão do leão que dá título ao filme. Aos poucos, se instala o clima tenso de um filme como 127 horas (2010). O nacional A jaula e, descontada a magnitude, O impossível, são filmes com cargas similares à de A fera. A falta de um cunho prático no doutor, enferrujado em termos de aspectos cotidianos, aumenta o clima de incertezas para a jornada da família.

O inicial deslumbre pela África cede lugar a manchas de sangue, sons de disparos e a impunidade que cerca o dia a dia de caçadores ilegais. O roteiro perde a chance, entretanto, de fazer jus ao fundo importante de filmes como Na montanha dos gorilas (1989) e Diamante de sangue (2006), que tratavam meandros da exploração criminosa da África. De leve, a exploração desmedida de cobre é citada no filme que associa o fato ao fechamento de uma escola comunitária local. Mas é só.

O mesmo compositor de Gravidade (2013), Steven Price, estende a tensão, com uma sonoridade dilatada e enervante. Não há muita pretensão no filme — uma qualidade positiva, aliás. A fera, por momentos, investe num terror em território solar. Além do registro de brutalidade, de massacres e de moscas empilhadas em cima de corpos humanos, em cena, há perna dilacerada e outras lacerações. Com postura austera, A fera parece nunca se abater, frente aos esforços de Nate.

Na primeira viagem 
 
"A gente precisa de um pai presente" é uma das falas que melhor localiza o fio de enredo comandado por quatro roteiristas, em Papai é pop, que adapta um best-seller de Marcos Piangers. Tom (Lázaro Ramos), programador de informática, e a advogada Elisa (Paolla Oliveira), vivem um casal em crise, no mais novo filme de Caito Ortiz, dono de interessante filmografia, anterior (O roubo da taça e Motoboys: vida louca). Ao som de Danúbio azul, de Johann Strauss, numa partida de futebol com ares de balé, uma cena define a virada de lado de Tom — aos 45 minutos do segundo tempo, ele deixa o campo da pelada e chegará ao hospital com intuito de embalar a filha recém-nascida.

Queda de produtividade e sessões de crises com cólicas e arrotos, além da imaturidade aguardam Elisa. Já o recém-pai terá uma conversa "de pai para pai", com o coronel (pai de Elisa) que decreta o fim da vidinha boa, vaticinando que filho é prejuízo; "mãe é peito, e pai é bolso". Na "lei da compensação", surge a Vovó Gladys (mãe de Tom, capaz de crer que não "presta" para ser pai), um cândido papel para Elisa Lucinda, que ensina o centro da paternidade e maternidade: "É sobre eles (filho), não sobre você".

Pouco a pouco, a nova mãe Elisa percebe que, como destacam amigas, ela "virou uma máquina de culpa", mas há quem a veja como uma mamãe que "já vem com tudo (de sagacidade) instalado de fábrica". Interagindo com a filha — para quem lê Amoras, o texto infantil de Emicida —, Tom fica ainda atento aos conselhos pebas do amigo Júlio (o ótimo Leandro Ramos, de Juntos e enrolados). Repleto de coincidências, o roteiro de Papai é pop valoriza o percurso de aprendizado, entre e temporadas de febre e troca de fraldas.

Na base da reinvenção, em que quer deixar de ser leigo na paternidade e jamais de ver como "pai de selfie" (aquele pai momentâneo, e para cumprir meta de rede social), Tom se desvencilha da vida experimentada na "pura diversão". Valorizando a ação de pais amadores, em nada conhecidos, Papai é pop aproveita o tema para tecer breves, mas marcantes, considerações, como a em que o protagonista se vê em frente a muitas mulheres num ambiente escolar e solta: "Curioso: chama reunião de pais, e nunca tem pai".
 
 (Foto: Universal/Divulgação)
Foto: Universal/Divulgação
 
 
Crítica // X — A marca da morte

 
Nas raízes do terror
 
 (Foto: PlayArte/Divulgação)
Foto: PlayArte/Divulgação
  

É dentro de uma van insuspeita, pelo interior texano, que praticamente, nos anos de 1980, circulam os protagonistas do filme de terror X — A marca da morte: um adesivo (em inglês) colado ao veículo pode ter tanto a tradução de serviços de "cultivo", mas, também em termos vulgares, pode sugerir o ato sexual. No caso do filme assinado por Ti West, que tem longa carreira no filão sinistro (vide Hotel da morte e A casa do diabo), vale o apelo carnal, visto que uma das personagens ressalta: "sexo é um combustível".

No fundo, pouco importa que o filme revolva clichês. Num misto de aterradora exploração de sexualidade, alguns gramas de cocaína e referências imediatas ao clássico Psicose, Ti West cerca um grupo de mão de obra para cinema que não almeja Hollywood. Bem descritos pelas intervenções de programetes religiosos como "pervertidos e vigaristas", Wayne (Martin Henderson, na chefia, como um produtor de filmes pornôs), a sensual Maxine (Mia Goth), a determinada Bobby-Lynne (Brittany Snow) e o pragmático Jackson (o rapper Kid Cudi) estão alinhados, e cientes de que "o sonho americano não é racional" (mas instintivo), na meta de filmar o baixíssimo longa As filhas do fazendeiro. Para tanto, se estabelecem numa fazenda co-habitada por muito rancor e metas teleguiadas pelas "pregações do Senhor", que chegam via televisão. Com músicas escolhidas a dedo, despontam as clássicas In the summertime (com Mungo Jerry) e Act naturally, junto à trilha sonora fantasmagórica, X — A marca da morte aposta em escalar sustos que suplantam os do aplicado M. Night Shyamalan (A visita). Acolhendo estilo de filmagens à la anos de 1970, o filme aposta na confusão mental de alguns tipos, e num grafismo em que pregos atravessam, aos solavancos, a carne de alguns personagens.

O sumiço de chaves de carro, em momentos fundamentais de fuga, e o registro atido em sangue e tripas de gado, numa cena de acidente à beira de estrada, não poupam os nervos dos espectadores. Com pouca sedução em jogo, os bastidores do filme realizado pelos jovens defendem que "sexo é só sexo" , enquanto outros elementos surgem mecânicos: dedos são decepados, sem muita cerimônia , e um homem defende "o direito de atirar" em quem adentra sua propriedade. Contornos mais sombrios remetem a traumas e vivências da Primeira Grande Guerra, com o aparecimento da assustadora idosa Pearl (Mia Goth, em papel duplo, e irreconhecível).

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